Internacional

A história esquecida do primeiro plano para assassinar John F. Kennedy

Esqueça Lee Harvey Oswald, John F. Kennedy esteve a um aperto de botão de explodir pelos ares em 1960; mas essa história foi esquecida por décadas!

Por Fabio Previdelli

Mais de seis décadas depois, o assassinato de John Fitzgerald Kennedy voltou aos holofotes após Donald Trump anunciar que liberará os arquivos que ainda estão classificados sobre o caso. O que o relatório oficial da Comissão Warren diz, embora muito polêmico, é que JFK foi morto por Lee Harvey Oswald naquele 22 de novembro de 1963. Lee, por sua vez, alegou ter sido apenas um ‘bode expiatório’, mas foi assassinado dois dias depois sem ter a chance de se defender. Teria sido uma queima de arquivo para esconder uma conspiração?
A teoria é nutrida até hoje por diversas pessoas. Mas, um fato passou despercebido na carreira política de John F. Kennedy. Afinal, três anos antes de seu assassinato, ou seja, pouco após vencer Richard Nixon nas eleições de 1960,Kennedy quase foi assassinado por Richard Pavlick

A história envolvendo o plano de Pavlick ficou esquecida por anos, mas acaba de ser detalhada em ‘The JFK Conspiracy: The Secret Plot to Kill Kennedy – and Why It Failed’, escrito por Brad Meltzer e Josh Mensch. Na obra, a dupla detalha como, três anos antes de Lee Oswald atacar JFK em Dallas — um funcionário aposentado dos correios — com um senso distorcido de patriotismo e o carro cheio de dinamite, quase matou o 35.º presidente norte-americano ao se transformar em um homem-bomba.

Este é o primeiro livro completo escrito sobre Richard Pavlick e o incidente, e isso foi bem surpreendente para mim”, disse Meltzer ao The Guardian. “Mas acho que a verdade é que quando Kennedy finalmente morre, essa história simplesmente não consegue se comparar àquela história, então ela se torna uma nota de rodapé”.

Aversão aos Kennedy
Richard Pavlick
 nasceu em Belmont, em New Hampshire, em 13 de fevereiro de 1887. Ele chegou a servir brevemente o Exército, participando, inclusive, da Primeira Guerra Mundial, mas a maior parte de sua vida ele passou trabalhando como funcionário dos correios em Boston. Desiludido e paranoico, Pavlick começou a semear o sentimento de que a América vivia sob ameaça da influência estrangeira. Assim, segundo narra o livro, em 1955 ele formou uma organização protestante de veteranos de guerra que excluía católicos e judeus.

Ele claramente tem problemas de saúde mental. Ele cria clubes para garantir que os judeus não possam servir no exército, se você não for como ele, não pode servir no exército. Ele é o tipo de cara que, se sua música estiver muito alta, vem e te ameaça com uma arma e diz: ‘abaixe isso'”, descreve Meltzer.

Richard Pavlick (Foto: Getty Imagens)

Quando se aposentou, na pequena cidade de Belmont, os autores apontam que Richard era descrito como “um reclamante crônico”, segundo um morador da cidade. Sua aversão pelos Kennedy era algo que cultivava há tempos, acreditando ferrenhamente que Joseph P. Kennedy, pai de JFKestava tentando comprar ou roubar a eleição presidencial de 1960 para seu filho católico.

Mas o sentimento não foi algo do acaso, ele já era algo ‘plantado’ na época por diversos fatores: primeiro vem a Ku Klux Klan, apontam os autores, que odiavam católicos, judeus e afro-americanos. Depois, o evangelista Billy Graham tentou, de forma secreta e aberta, frustrar a candidatura de JFK. Ainda teve o reverendo Norman Vincent Peale, autor de ‘The Power of Positive Thinking’, que declarou: “diante da eleição de um católico, nossa cultura está em jogo”.

Com todos esses pontos, Pavlick, então com 73 anos na época, votou inegavelmente em Richard Nixon, naquela que foi uma das eleições mais divisivas da democracia americana. Conforme cita o livro, ele chegou a escrever em uma carta a um conhecido que, se o republicano não vencesse, ele “colocaria um feitiço em Kennedy e em sua família”.

O plano em ação
Desta forma, quando John F. Kennedy foi eleito daquela forma apertada, Pavlick partiu até o complexo da família Kennedy em Hyannis Port, Massachusetts, e viu o presidente eleito cumprimentando uma multidão em um aeroporto em Cape Cod.

Ao longo das três próximas semanas, Richard comprou oito bananas de dinamite. No primeiro dia de dezembro, ele pegou algumas roupas e pertences e partiu em seu Buick 1950 determinado a deixar Belmont para sempre. Com o veículo, ele seguiu até Washington e depois partiu para Palm Beach, Flórida, onde reservou um motel. Àquela altura, ele já estava desesperado, como pode ser visto na carta que ele escreveu a um conhecido de New Hampshire: “estou aqui no fim da minha linha… [se] eu morrer em algum lugar na Flórida, você lerá sobre isso talvez dentro de três semanas”.

Nunca mais irei para NH [New Hampshire]… Vim para morrer, você verá na TV”, escreveu em outro cartão.

Richard Pavlick sabia que John Kennedy estaria em Palm Beach aproveitando os últimos momentos do clima da Flórida antes de assumir um dos cargos mais importantes do mundo. Ele teve sua chance! Era manhã de 11 de dezembro, quando Pavlick estacionou seu carro do lado de fora do complexo de Kennedy e esperou até que o presidente saísse de casa para ir à missa na Igreja Católica St. Edward.

“Escondidos no porta-malas, enfiados sob cobertores e misturados com lixo e ferramentas variadas, estão sete bananas de dinamite. Fixado a essa dinamite está um fio que vai do porta-malas para dentro da carroceria do veículo, em direção a um pequeno mecanismo de gatilho”, descrevem os autores. “Tudo o que o homem precisa fazer é ativar esse pequeno gatilho para explodir o veículo — e tudo ao redor dele. De acordo com um especialista, se detonada, a quantidade de dinamite é poderosa o suficiente para ‘explodir uma montanha’. E agora mesmo, a mão do homem está se movendo em direção à ignição”.

O plano de Richard era bater contra o sedan preto de Kennedy e causar uma explosão enorme que acabaria com a vida deles dois. Mas quando o futuro presidente apareceu, ele hesitou ao ver que JFK não estava sozinho, mas sim acompanhado de Jackie e seus dois filhos: Caroline e John Jr — que tinha menos de um mês de idade.

Presidente Kennedy e sua família (Foto: Domínio Público)

Pavlick não poderia suportar a ideia de acabar com a jovem família daquele homem que havia se tornado seu alvo. Ele, então, tentou redesenhar o plano para outro momento, mas quatro dias depois, acabou preso pela polícia que havia recebido uma dica do Serviço Secreto — alertado por um chefe dos correios em Belmont que estava nervoso com os cartões postais enviados por Pavlick.

Richard foi levado para a cadeia e confessou aos repórteres que cobriam sua prisão: “tive a ideia maluca de que queria impedir Kennedy de ser presidente. O dinheiro de Kennedy comprou a Casa Branca e a presidência”. Pavlick acabou sendo internado em uma instituição mental e morreu em 1975. Com o tempo, porém, diferente de Kennedy, assassinado três anos depois, ele caiu no esquecimento.

O The Guardian recorda que, no mesmo dia em que ele foi preso em Palm Beach, dois aviões colidiram no ar sobre a cidade de Nova York, matando 44 pessoas. Assim, os jornais da época cobriram obsessivamente a tragédia, deixando Pavlick longe das primeiras páginas.

Kennedy também se mostrou inabalado quando assumiu a presidência em janeiro de 1961, sem promover grandes mudanças em sua equipe de segurança. “Nós nunca saberemos o que se passa na cabeça dele, mas, até onde podemos dizer, ele não pareceu se importar”, disse Meltzer.

Ele não se incomodou e se essa sensação de invencibilidade veio porque ele sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e pensou: ‘os japoneses e os nazistas não conseguiram me matar, então um cara com dinamite certamente não vai fazer isso’, ou se ele pensa assim só porque é um cara bonito e bom em conseguir o que quer, ou se ele pensa assim só porque não conhece todos os detalhes, não sabemos”.

‘The JFK Conspiracy’ também narra os heroísmos de Kennedy em tempos de guerra e os notórios casos extraconjugais, bem como a graça, a resiliência e a criação astuta do mito de Camelot por Jackie Kennedy.

JFK ao lado de sua esposa, Jackie, no dia em que foi assassinado (Foto: Domínio Público)

Apesar de sua morte continuar sendo um assunto que levanta grandes teorias, ele não acredita que as revelações dos arquivos faltantes trará uma grande reviravolta ao caso. “Não acho que existam papéis mágicos que estão sendo escondidos que vão nos mostrar coisas que ninguém sabe. Se você quer saber quem matou JFK, eu vou te dizer agora mesmo. Se você olhar para os anos 60, logo depois que JFK foi baleado, nós dissemos que JFK foi morto por nossos inimigos no auge da Guerra Fria: os russos fizeram isso, os cubanos fizeram isso”.

“Se você olhar para os anos 70, logo depois que Watergate aconteceu e a desconfiança no governo atingiu novos patamares, quem matou JFK? Foi o nosso próprio governo que fez isso, foi um trabalho interno, foi a CIA, foi LBJ. Então, nos anos 80, o auge dos filmes ‘O Poderoso Chefão’. Quem matou JFK? Foi a máfia. Se você quer saber quem matou JFK, é de quem a América mais tem medo naquele momento, década após década”.

Fonte: Aventuras na História

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