Economia

O ano está acabando e o auxílio também!

Neste mês, o Governo Federal paga a última parcela do auxílio emergencial. A despeito de falhas durante o processo, como as filas nas agências da Caixa Econômica Federal (CEF) nos primeiros dias e suspeitas de fraudes, o saldo foi positivo. Beneficiando mais de 67 milhões de pessoas, um estudo feito pela PUC-RS apontou que o auxílio impediu que 23 milhões de brasileiros, que residem nas grandes cidades, caíssem na pobreza.
No total das transferências realizadas pelo Governo Federal durante a pandemia, foram investidos R$ 356 bilhões e beneficiou 120 milhões de pessoas. O impacto no PIB também foi sentido. A projeção de queda, que inicialmente era de 6,5% fechou em 4,4%. Contudo, a partir de 2021 não haverá mais auxílio emergencial. E agora?
Temos alguns pontos para serem levados em consideração. O primeiro deles é que a economia brasileira, ao contrário do que diz o governo, está longe de entrar em um período de crescimento. Outro problema é o descaso do próprio governo com o plano de vacinação. Pelo visto, quase 190 mil mortos não foram suficientes para mostrar a gravidade do problema e, sem a vacina, os números tendem a subir e o retorno ao isolamento se torna a única opção para evitar o colapso do sistema de saúde. Ou seja, não há indicativo de melhora, pelo menos a curto prazo.
Ainda temos o alto endividamento das famílias. E acredite, isso é, sim, um problema. Sem a capacidade de estar no mercado consumidor, o endividamento das famílias pode gerar uma brusca queda no PIB, já que tende a puxar o consumo para baixo. Soma-se a isso os altos níveis de desemprego. Como as pessoas vão manter o consumo das coisas básicas ou pagar suas dívidas sem uma fonte regular de renda? Pesquisa do Datafolha, divulgada nesta semana, mostra que, entre as famílias que recebem o auxílio emergencial, 36% não têm outra fonte de renda. E com a redução do auxílio de R$ 600 para os R$ 300 atuais, 75% das famílias reduziram a compra de alimentos, e 65% diminuíram a compra de remédios. Todo esse ciclo tende a fazer com que a inadimplência aumente, elevando também a percepção de risco e, consequentemente, a taxa de juro. Esse ciclo encarece o consumo, prejudicando também as famílias que ainda possuem algum recurso para consumir.
Diante desse cenário catastrófico que se desenha, o que pode ser feito? A resposta é conhecida, mas aparentemente ninguém está disposto a colocá-la em prática. São as reformas estruturais. Uma reforma administrativa decente, uma reforma tributária que vise reduzir as desigualdades do nosso sistema, privatizações, encerrar privilégios da classe política e do judiciário, desregulamentações e desburocratizações. Entretanto, o governo não está disposto a fazer isso. Com dois anos de governo, nenhuma proposta séria sobre esses temas foi levada ao Congresso, pelo visto, a prioridade número 1 do nosso presidente é “mitar” e proteger a família de investigações. Enquanto isso, o País sangra. Aproveito para deixar aqui a frase do economista Marcos Lisboa: “O Brasil não é pobre à toa. Isso aqui é trabalho de profissional. A gente faz um esforço imenso para ser um País pobre”.
Infelizmente, aparentemente, 2021 não será um feliz ano novo.

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