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Café Coado da Vovó

No último mês esta coluna foi comandada por uma fantástica e experiente profissional da área de treinamentos, da iniciativa pública e privada. Juliana Prado nos brindou com reflexões muito interessantes a respeito de liderança e das perspectivas dos novos desafios empresariais.
Neste período eu acompanhei a coluna de longe, pois estava conhecendo minha netinha que completou três meses, agora em maio. Retorno nesta edição com o Café Coado na pretensão de ser a vovó mais feliz do ano. Certa vez, um amigo de formação, então Secretário de Finanças de Campinas, no Estado de São Paulo, me falou que ser avô era extraordinário. Mas não dava para explicar, pois teríamos que viver para compreender esse sentimento.

Pois bem, aqui estamos, eu e meu esposo, vivendo esta experiência formidável. Claro que, assim como meu amigo Tarciso Cintra, eu não conseguirei explicar para vocês tudo o que estamos sentindo. Mas quero aproveitar para refletir sobre o papel dos avós na sociedade contemporânea.
Havia um tempo em que as pessoas, ao se casarem, saíam da casa de seus genitores e constituíam suas famílias em locais bem distantes. O pai saía para o trabalho e a mãe ficava em casa cuidando da educação dos filhos. Os avós tinham pouca ou nenhuma participação na criação dos netos que, por sinal, eram numerosos. Era difícil até saber o nome de todos.

Depois, passamos por uma fase em que muitas famílias começaram a dividir o mesmo terreno para a construção de suas casas. As mulheres passaram a trabalhar fora para ajudar nas despesas. Depois, as mães solos foram surgindo, muitas ainda na adolescência. Com isso, os avós passaram a ter um protagonismo diferente, cuidando da educação de seus netos. Até as reuniões nas escolas deixaram de ser reuniões de pais para serem chamadas de reuniões de responsáveis.

Há quem diga que a deliciosa experiência de se tornar avô ou avó é que podemos mimar nossos netos sem a responsabilidade de educá-los. Mas esta não é a realidade para a maioria das pessoas. Os pais enfrentam diversos desafios para cuidar de seus filhos. Os meus já estão criados e já tinha me esquecido de como foi difícil cumprir a tarefa de me tornar mãe. A amamentação e a higienização do bebê, as visitas ao pediatra, a falta de uma cartilha ou manual que pudessem nos indicar o que fazer, as inseguranças, a volta ao trabalho, a dificuldade de encontrar um cuidador que caiba no bolso e que nos transmita confiança para lidar com nosso bem mais precioso são apenas alguns dos desafios que consegui lembrar neste momento.

Resolvi passar o mês de abril com minha netinha nos Estados Unidos, onde ela nasceu. Procurei dar aos pais o conforto que eles não conseguem ter nesses primeiros meses. Sei que as mulheres ficam especialmente cansadas. No Brasil, temos o período de licença-maternidade que é de 120 dias. Mas esse direito não é universal. Nos Estados Unidos, cada empresa pode deliberar se concede ou não um período para que a família possa se adaptar à nova fase. Minha nora é norte-americana e trabalha numa empresa que tem uma política de reconhecimento mais ampla que outras. Por isso, ela pode desfrutar do período de 70 dias de licença-maternidade. No dia 1º de maio, que na Terra de Tio Sam não é feriado, ela retornou ao trabalho. São 30 minutos de carro numa autoestrada para um turno que começa às três horas da manhã. Meu filho, por sua vez, sai de casa às seis horas e, muitas vezes, tem que cumprir jornada em outra cidade ou estado, ausentando-se por dias ou semanas. Uma babá custa em torno de 800 dólares por semana. Então, imaginem o quanto é difícil ter filhos por lá.

Mas, no Brasil, temos muitas mães que trabalham e que também não conseguem custear uma cuidadora para seus filhos. A ausência de vagas em creches públicas com funcionamento compatível com a jornada de trabalho das mães é uma triste realidade. Em vários bairros é comum encontrarmos casas em que as vovós cuidam de seus netos e até mesmo de outras crianças. Muitas delas são até remuneradas por isso.

Quando meus filhos eram crianças, eles também foram cuidados pela avó. E, ao contrário do que se diz, que aos avós cabem o mimo e aos pais a educação, lá em casa a vovó deu uma educação bem rígida. Não faltou amor, mas a imposição de regras, limites e disciplina foram fundamentais para o desenvolvimento dos meus filhos. Hoje, posso dizer que sou uma mãe realizada que pôde contar com a ajuda de uma avó para cumprir com louvor uma etapa da minha vida. E, na minha jornada de avó de primeira viagem, cabe-me retribuir a ajuda que tive, cuidando com amor dos meus netos, assim como fez a avó dos meus filhos. Uma pena que, no caso da minha querida Neli Ann, a distância me impedirá de ser mais presente. Mas, certamente, não diminuirá o meu amor.

Espero, sinceramente que em todo o mundo possamos ter políticas de acolhimento que deem tranquilidade e segurança para os pais desenvolverem suas atividades laborais, na certeza de que os filhos estejam bem cuidados. Licença-maternidade, licença-paternidade e creche em horário integral são apenas algumas dessas políticas capazes de transformar a vida de toda a sociedade. Afinal, cuidar das crianças é um dever de todos nós.
E você, já é avô ou avó? Seus netos estão longe ou perto? Mande um e-mail para colunacafecoado@gmail.com, contando a sua experiência. Vou adorar conhecer sua história saboreando um Café Coado com sabor de Vovó!

Gracimeri Gaviorno

Gracimeri Gaviorno

Delegada de polícia; mestre e doutora em direitos fundamentais; professora; Instrutora e mentora profissional para lideranças E-mail: colunacafecoado@gmail.com

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