Cientistas da USP desenvolvem pele artificial
Modelo pode substituir em definitivo os testes tradicionais, mais uma tentativa de evitar testes cosméticos em animais
Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram pele artificial, produzida via bioengenharia, que se mostrou eficaz para testes de eficiência medicamentosa e de cosméticos. A iniciativa se deu para inibir testes em animais, pauta que é discutida há décadas. A nova pele artificial já encarou testes, que comprovaram sua eficácia. Os resultados do estudo foram divulgados na revista Bioprinting.
Entrevista ao UOL, a professora Silvya Stuchi Maria-Engler, titular do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, explicou que, após reconstruir a pele humana em laboratório e validá-la, ela já poderá ser utilizada para diversos fins.
Por exemplo, uma empresa cosmética obteve novo princípio ativo que apresentou um grande potencial antioxidante. Porém, ainda não se sabe se este efeito vai ocorrer quando aplicado sobre a pele humana. Assim, podemos verificar qual a eficácia desse efeito antioxidante. Além disso, podemos verificar se esse ativo tem capacidade de permear na pele, se ele não causa algum tipo de resposta inflamatória irritativa ou qualquer tipo de lesão e, assim, verificamos também sua segurança”, explicou Silvya Stuchi Maria-Engler.
Segundo a especialista, uma das vantagens em utilizar o novo recurso é o de poder se aprofundar no estudo de efeitos de substâncias ao nível de biologia molecular — algo não efetuado em testes comuns. Um exemplo são os testes de irritação, costumeiramente feitos em coelhos com o pelo raspado (chamado de Teste de Draize). Ele ocorre após aplicação de substância de característica irritante ou corrosiva desconhecida. Então, anota-se a resposta visual, tais como vermelhidão ou lesões cutâneas.
Contudo, segundo a cientista, os testes efetuados na nova pele humana desenvolvida em laboratório permite aos analistas avaliarem qual o processo molecular envolvido para a ocorrência de irritação ou corrosão.
Outro exemplo é comparar filtros solares que já têm seu fator de proteção solar [FPS] e verificar qual deles não causa lesões no DNA após irradiação ultravioleta. Também podemos simular doenças, como dermatite atópica ou câncer de pele e testar a eficácia de potenciais medicamentos para a cura dessas doenças”, afirmou Silvya Stuchi Maria-Engler.
Além disso, a professora indicou que os diversos testes já disponíveis — agora, incluindo a pele artificial, bem como os modelos de pele humana in vitro (que já substituíam inúmeros testes em animais) — já podem muito bem suplantar aqueles realizados em animais, livrando os “bichinhos” da função. Ainda, ela defende que tais testes são muito mais precisos. “Essa substituição é tendência mundial a ser aplicada nas mais diversas áreas no futuro, como nas indústrias farmacêutica e química”, defendeu.
Stuchi disse que, nos EUA, o FDA, órgão regulador das áreas farmacêutica e alimentícia, obriga a implementação de novos métodos alternativos para eliminar, de uma vez por todas, o uso de animais nas pesquisas desses ramos ainda neste ano, de forma a melhorar a capacidade de prevenção ao risco em humanos e a eficácia de vários medicamentos e, claro, acabar com eventuais danos à natureza animal.
Pele humana de laboratório não é nova
Apesar do recente desenvolvimento da pele humana da USP, este estudo não é novo. Ele foi aprimorado com o passar do tempo até chegarmos em nossa era, quando testes de segurança e eficácia de produtos de consumo são realizados com relevância e similaridade aos que se obteria em contato com a pele humana em si.
Uma vez validados, os modelos de pele humana servem para verificar a segurança e eficácia dos produtos de consumo — que incluem os das indústrias química, farmacêutica e cosmética.
Muitas indústrias cosméticas já utilizam e realizam testes de seus cosméticos utilizando seus próprios modelos de pele humana in vitro, como L’Oréal, Natura e Boticário, no Brasil”, concluiu a pesquisadora.
Fonte: Olhar Digital