Meio ambiente

Nova espécie de bicho-preguiça é descoberta em restinga na região Norte Fluminense

Batizada de preguiça-de-coleira-do-sudeste, o animal foi encontrado em Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) no Porto do Açu, em São João da Barra

Por: Camila Araújo

Na restinga do Norte Fluminense, uma raridade abraça, literalmente, as árvores locais. Uma nova espécie de bicho-preguiça foi descoberta vivendo dentro da Reserva Caruara, uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), no Porto do Açu, na cidade de São João da Barra. A preguiça-de-coleira-do-sudeste (Bradypus crinitus), como foi batizada, só ocorre nos estados do Rio e do Espírito Santo. No Rio, ela já foi vista em cinco pares dentro da Reserva, que tem quatro mil hectares, e em regiões próximas. Mesmo preferindo áreas de floresta densa, onde elas são encontradas em 70% dos registros, a presença em restinga é sinal de que a área pode estar funcionando como um corredor de fauna. Ponto para a conservação.

O bicho-preguiça é um mamífero da região de Mata Atlântica que está ameaçado de extinção devido à destruição de seus habitats, causada pela pressão imobiliária e a construção de estradas junto ao mar. Os biólogos do Programa de Monitoramento da Fauna da GNA — Gás Natural do Açu registraram o encontro e foram surpreendidos com a ocorrência da espécie na restinga, um ecossistema costeiro composto por vegetações que crescem na areia, em locais próximos às praias.

Encontramos ainda exemplares da espécie com filhote. Isso mostra que elas estão se reproduzindo dentro da Unidade de Conservação e, principalmente, que estão encontrando condições favoráveis para se estabelecer. É uma evidência muito significativa das ações realizadas para a conservação desse ambiente tão importante e pouco conhecido, que é a restinga”, conta Luana Mauad, bióloga, doutora em Botânica e responsável pela coordenação dos Programas de Monitoramento da Biodiversidade da GNA.

Na floresta, as preguiças costumam se abrigar nas embaúbas, árvores mais altas. Na restinga, para saber onde elas mais gostam de ficar, o que comem e como vivem, os pesquisadores agora desenvolvem estudos para entender detalhes.

A gente já a viu se deslocando em árvores como a figueira e também do gênero clusia, uma planta que tem uma folha mais grossinha, muito comum na restinga. A gente está agora estudando métodos para descobrir mais detalhes do comportamento delas e as relações ecossistêmicas”, disse Luana.

Além da preguiça-de-coleira-do-sudeste, as equipes de monitoramento da GNA identificaram outra novidade, uma nova ocorrência, até então desconhecida, de uma espécie de serpente vivendo nessa área de restinga. A serpente irá para classificação científica nos próximos meses.

Curiosidades da preguiça-de-coleira-do-sudeste (Bradypus crinitus) (Foto: Editoria de Arte/O Globo)

Livro sobre a restinga
As recentes descobertas inspiraram a criação de um livro infantil sobre a restinga. Intitulado “A casa de todos os ninhos”, o livro conta histórias que falam da coruja-orelhuda, do cágado-amarelo e do gato-do-mato-pequeno, além de várias outras espécies de fauna e flora do ecossistema. Tudo isso através de poemas e ilustrações coloridas de apaixonar leitores de todas as idades. O material vai ser lançado no dia 28, quando é comemorado o Dia da Restinga.

Destinado a estudantes a partir do Ensino Fundamental, a publicação reúne um trio de autoras premiadas da literatura infantojuvenil. Com os poemas de Bia Hetzel e Roseana Murray e ilustrações de Mariana Massarani, a obra traz o conceito de diário naturalista, pensado a partir da consultoria de duas doutoras na área: Débora Pires, fundadora do Instituto Coral Vivo e uma das maiores biólogas marinhas do País, e Luana Mauad, bióloga e analista de Sustentabilidade da GNA.
Bia Hetzel, autora do livro, destaca os impactos ambientais registrados nas restingas que, em razão da sua localização, são comumente exploradas por atividades turísticas e especulação imobiliária.

De todos os ambientes que compõe a Mata Atlântica, a restinga é o menos falado, o mais ameaçado e abandonado pelos olhos. E isso não é por acaso. É porque são áreas mais nobres do nosso litoral, ambicionadas para ocupação e especulação imobiliária”, explica a autora.

A primeira edição conta com quatro mil exemplares impressos para distribuição nas redes públicas de ensino dos municípios do Rio de Janeiro, São João da Barra e Saquarema. No entanto, moradores de outras localidades também podem ter acesso ao conteúdo, pois a versão digital já está disponível para download gratuito nos sites da GNA e do ICV. Leitores de todas as idades terão a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre esse ecossistema, que abriga diversas espécies de animais e plantas, tornando-se uma verdadeira casa para todos os ninhos.

Fonte: Um Só Planeta

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