Mabecos, os cachorros selvagens africanos podem sumir em 50 anos
Por Everton Lima
Quando pensamos em animais que correm risco de extinção devido às mudanças climáticas, é comum que venha à nossa mente bichos que vivam em lugares gelados do mundo, como os ursos-polares. Mas animais que moram em savanas — e até em desertos — também estão ameaçados.
Essa é a situação dos mabecos (Lycaon pictus), uma espécie de cão-selvagem do continente africano. Em 2017, pesquisadores da Universidade de Washington em Seattle, nos EUA, analisaram 60 matilhas desses animais. Os mabecos estudados viviam em Botsuana, um país que fica ao sul da África.
O estudo mostrou que esses animais se reproduzem no período mais frio do ano. A hipótese é que esse período é escolhido por estimular a caça, facilitando o acesso à comida. Os cientistas cruzaram esses dados com uma análise do clima da região em que os mabecos vivem, descobrindo que a temperatura nesses locais aumentou 3,8 °C nas últimas décadas. Isso teria feito com que a época de reprodução atrasasse em cerca de uma semana.
Há, portanto, uma correlação entre o aumento do clima e a reprodução desses animais, o que indica que a época de reprodução dos mabecos tende a atrasar cada vez mais, ou deixar de ocorrer, caso a temperatura continue aumentando no país. Um segundo estudo, dessa vez desenvolvido pela Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), apresentou um modelo matemático que avalia a redução da população de mabecos no continente africano.
Os pesquisadores estudaram os animais que vivem no Quênia por 16 anos. A conclusão foi de que essa espécie deve desaparecer caso a temperatura na região aumente 3°C, o que deve acontecer em 100 anos. Todavia, é possível que em menos de 50 anos, em 2070, já seja impossível reverter a extinção dos mabecos.
O colapso seria rápido. Embora o número de matilhas possa inicialmente parecer estável à medida que as temperaturas aumentam, apenas 1°C de até 2070 poderá fazer com que o número de cães-selvagens-africanos adultos diminua até 40% nos próximos 50 anos.
Se atingirmos 3°C de aquecimento, o nosso modelo prevê o colapso total da população e, quando começarmos a ver a população diminuir significativamente, será tarde demais para fazer algo a respeito”, disse a Dra. Daniella Rabaiotti, pesquisadora do Instituto de Zoologia da ZSL e principal autora do estudo, em comunicado enviado ao IFLScience.
Como outras espécies de canídeos, os mabecos vivem e caçam em bando. No entanto, eles parecem ter um comportamento ainda mais sociável do que o visto em qualquer outra espécie de canídeo. Um estudo desenvolvido pelo Botswana Predator Conservation Trust analisou imagens de quase 70 reuniões desses animais. Desses encontros, os animais decidiram sair para caçar em apenas um terço das reuniões. Isso indica que os mabecos avaliam as possibilidades de a caça ser bem-sucedida antes de saírem para realizá-la.
Nessas eleições, os mabecos se comunicam por grunhidos e espirros. Um espirro indicaria voto favorável à caçada. Todavia, se a assembleia tiver sido convocada pelo macho ou fêmea dominante, são necessários poucos espirros para aprovar uma caçada.
Fonte: Mega Curioso