Economia

A reciclagem do vidro e seus desafios

Por Robson Valle

A reciclagem das “latinhas” de alumínio, em todo o País, é um fato consolidado. Movimenta a economia informal e alimenta a indústria de produção de alumínio com a melhor matéria-prima possível, em virtude da enorme redução de custo existente no processo industrial. Isto se dá por evitar a forma convencional, que se inicia com a mineração de bauxita e a consequente eletrólise do óxido de alumínio (ou “alumina”), obtendo-se alumínio metálico puro. É um processo caro, por causa da utilização intensiva de energia elétrica.
Entretanto, o vidro, apesar de possuir vantagens energéticas e materiais para que a indústria utilize as embalagens descartadas após seu uso, também como matéria-prima, ainda enfrenta desafios para que seu “mercado de reciclagem” opere na mesma escala e intensidade do que a existente para o alumínio.

E por que isso ocorre? Em primeiro lugar é necessário entender como se produz o vidro, de maneira simplificada. Sua principal matéria-prima é o dióxido de silício (ou “sílica”), obtida de areias, geralmente extraídas de lagos, rios ou lagoas. Estas areias são misturadas com barrilha (carbonato de sódio) e calcário (carbonato de cálcio), obtendo-se o que se chama de mistura vitrificável. Após aquecimento em forno à alta temperatura, se obtém o vidro comum (um silicato de sódio e cálcio), juntamente com gás carbônico. A produção deste gás, juntamente com a extração de areia (que pode causar assoreamento de rios ou alteração em seu ecossistema) e o grande consumo de energia na etapa de fundição são os impactos ambientais relevantes e negativos deste processo.

A partir de sua produção, o vidro comum adquire possibilidades ilimitadas de uso, sendo imprescindível na sociedade moderna. Entretanto, infelizmente seu descarte após o uso, quase sempre de forma irresponsável do ponto de vista ambiental, traz prejuízo imensurável à Natureza, por se tratar de material de difícil degradação, da ordem de milhares de anos. (Fonte: https://abividro.org.br/wp-content/uploads/2021/08/E-book_Porque-o-vidro-e-a-melhor-opcao-para-reciclar-1.pdf)

Pode-se, portanto, afirmar que existe um “ciclo infinito de vidro”, pois a partir de sua reciclagem, pode ser reinserido na cadeia de produção de “vidro novo” através da coleta dos utensílios descartados, limpeza e seleção, trituração e transformação em excepcional matéria-prima, por poder substituir até 80 % da matéria-prima tradicional. Em relação ao Espírito Santo, infelizmente não foi a frente uma possibilidade de trazer para o Estado um projeto de instalação de uma fábrica de latas de alumínio e garrafas de vidro, por parte da AMBEV, conforme noticiado em 2017 pela mídia local. (Fonte: A TRIBUNA, 19/07/2017, p.22).

Esse empreendimento teria sido capaz de gerar uma excelente condição para a reciclagem de vidro em nosso Estado, pois reside justamente na distância das fábricas que utilizam vidro descartado como matéria-prima a maior barreira para a dificuldade desse mercado. Em outras palavras, o frete e o custo de transporte tornam pouco compensadora a remuneração desta atividade.

Ainda assim, o vidro, por suas características intrínsecas, é material valioso tanto que 2022 foi declarado, pelas Nações Unidas, o Ano Internacional do Vidro, com o objetivo de “promover a importância tecnológica, científica, cultural e econômica do material mais puro e 100% reciclável” (Fonte: https://www.anavidro.com.br/ano-internacional-do-vidro-se-iniciou-em-genebra/).

É nesse contexto que iniciativas para viabilizar sua reciclagem são continuamente tentadas. Uma delas partiu de forma inovadora de uma startup voltada especificamente para este mercado, ao aproximar os elos desta cadeia (catadores e indústria) por meio do uso de créditos de reciclagem para logística reserva, “através da remuneração pelo serviço de reinserção do material pós-consumo na cadeia de reciclagem”, sendo a “logística reversa um importante instrumento para gestão de resíduos” (Fonte: https://copirn.org.br/fundo-de-compensacao-de-logistica-reversa-e-credito-de-reciclagem-a-relacao-entre-eles/). A startup em questão tem sua experiência relatada em https://www.estadao.com.br/economia/governanca/startup-eureciclo-estrutura-cadeia-reciclagem-vidro/, além de disponibilizar sua experiência em https://info.eureciclo.com.br/reciclagem-vidro-brasil.

Outro fato muito importante foi a instalação recente de empresa especializada em geração de vidro triturado, na região da Grande Vitória, o que significará um impulso neste mercado, permitindo parceria direta com cooperativas de catadores (Fonte: https://www.agazeta.com.br/especial-publicitario/marcaambiental/nova-industria-vai-reciclar-mais-de-mil-toneladas-de-vidro-por-mes-0621).

Cabe também às prefeituras papel fundamental neste processo, buscando sempre a conscientização necessária para que o vidro seja descartado em locais apropriados, disponibilizando pontos de coleta seletiva para a população (Fonte: https://linhares.es.gov.br/2023/07/25/reciclagem-conheca-os-pontos-de-coleta-seletiva-em-linhares/.)
A reciclagem de vidro é portanto, ao mesmo tempo, desafio ambiental e oportunidade econômica, cabendo à sociedade capixaba especial atenção para o tema.

Robson Valle
Engenheiro químico, vice-presidente da Associação Profissional dos Químicos do ES (Aproquimes)
Página pessoal: https://rvalle.com.br/eqes/

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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