Direita portuguesa engole vitória amarga

Luís Montenegro: líder da Aliança Democrática negou que vá negociar com o Chega, de extrema-direita

A coalizão da centro-direita tradicional venceu por muito pouco um Partido Socialista desgastado por uma década de poder. Mesmo assim, insistem em não coligar com o Chega.
Resultados
Espera-se que Luís Montenegro, líder da AD e do Partido Social Democrata (PSD) — a frente também é composta pelo Centro Democrático Social (CDS) e pelo Partido Popular Monárquico (PPM) — se torne primeiro-ministro, após a eleição de 79 deputados.
Os socialistas, por sua vez, conquistaram 77 parlamentares, em uma redução de 40 cadeiras que, apesar de parecer preocupante, foi menor que o esperado. Os grandes vencedores da noite sem dúvida foram os conservadores do Chega. O partido mais à direita da Assembleia quadruplicou sua representação, passando de 12 para 48 eleitos.

Sem sal, a Iniciativa Liberal manteve seu contingente de oito deputados. Também não mudou nada no Bloco de Esquerda e no Pessoas–Animais–Natureza, com cinco e uma cadeiras, respectivamente. A comunista Coligação Democrática Unitária diminuiu para quatro representantes enquanto o progressista livre aumentou para quatro.

Composição
Formar um governo para Montenegro será extremamente complicado, afinal o PSD e o Chega prometeram que não formariam uma aliança em nenhuma hipótese. A diferença é que agora André Ventura abriu mão desse compromisso e está disposto a entrar no jogo democrático, por entender que a vontade dos portugueses é uma união da direita. Montenegro e seus aliados continuam irredutíveis.

Pedro Nuno Santos afirmou que o Partido Socialista não irá se opor a um governo minoritário da Aliança Democrática e da Iniciativa Liberal, apesar de uma geringonça entre eles parecer impossível, já que irritaria até os eleitores mais moderados da direita.

De qualquer forma, para governar, pauta a pauta terá de ser negociada no parlamento, e tanto os socialistas quanto os conservadores cobrarão caro. A outra alternativa é uma nova eleição, que pode sair pela culatra e beneficiar o Chega.

Europa
O choro da mídia e dos analistas tradicionais está sendo ignorado pela população do velho continente, as lideranças dos conservadores trocam, geralmente por falta de traquejo dos novatos, porém a direita perto do centro continua perdendo o espaço que conquistaram após a Segunda Guerra Mundial.

Na Itália, a Lega Nord de Matteo Salvini desidratou para que o Fratelli D’Itália — descendente direto do Movimento Sociale Italiano e do Il Popolo della Libertà, agremiações derivadas dos fascistas de Mussolini — de Giorgia Meloni pudesse brilhar.

Em nações como França e Países Baixos a direita alternativa continua a ganhar espaço, e até chegam ao primeiro lugar no segundo caso. Já em outras como Espanha e Reino Unido, encontraram seu teto.

Essas ideias encontraram livre passagem na Internet, e souberam se aproveitar das novas tecnologias. Os problemas que a imigração e, principalmente o recebimento desenfreado de refugiados, impulsionam os populistas. Até alguns partidos de esquerda entram na onda.

É importante esclarecer que, diferente do que alguns pseudoanalistas de rede social querem firmar, não vivemos em uma simples repetição dos anos 20 do último século. Os problemas são outros e reais, não aqueles inflamados por invenção. A solução também será diferente. É ingenuidade pensar que o Estado de Direito e a democracia — que hoje é definida ao bel-prazer dos progressistas — resolvem tudo é são consideradas instituições inalienáveis pelo povo.
