Cientistas descobrem crânio de “cobra bíblica” que tinha patas

A aparência da serpente, que tem patas como a mencionada na Bíblia, chamou atenção
Por Gabriel Andrade
Pesquisadores da Universidade Maimónides, na Argentina, identificaram um fóssil de serpente de aproximadamente 95 milhões de anos que apresenta estruturas ósseas que apontam que ela tinha patas traseiras. O que chamou atenção da comunidade científica foi a aparência da serpente, que tem patas como a mencionada na Bíblia, no livro de Gênesis.
O crânio da “cobra bíblica”, encontrado na formação geológica La Buitrera, na Patagônia argentina, pertence à espécie Najash rionegrina, um réptil que viveu durante o período Cretáceo. A descoberta foi publicada na revista Science Advances. O fóssil analisado tinha não apenas o crânio, mas também vértebras e membros posteriores reduzidos. Segundo os paleontólogos, essa espécie possuía um par de patas funcionais, embora pequenas.
Esse crânio é agora o crânio de cobra mesozoica mais completo conhecido e preserva dados importantes sobre a anatomia das cobras antigas”, disse Fernando Garberoglio, que liderou a pesquisa, ao NY Times.
Essas patas, devido a seu tamanho limitado, que não eram usadas para locomoção, mas provavelmente para agarrar presas ou durante acasalamento. A anatomia do crânio sugere que o animal tinha uma dieta carnívora, alimentando-se de pequenos vertebrados. Dessa forma, o fóssil foi encontrado em sedimentos que correspondem a um ambiente desértico, onde a espécie provavelmente cavava tocas.
A Najash rionegrina é uma forma intermediária na evolução das serpentes modernas. Assim, ao contrário de outras espécies fósseis de serpentes com membros, como a Tetrapodophis, a Najash mantinha características primitivas, como uma abertura óssea atrás do olho chamada “janela pós-orbital”, ausente em cobras atuais. Essa estrutura está presente em lagartos, reforçando a hipótese de que as serpentes evoluíram a partir de ancestrais terrestres, e não aquáticos.
A Najash mostra como as cobras evoluíram dos lagartos em etapas evolutivas incrementais, como Darwin previu”, avalia Mike Lee, um dos coautores do estudo.
Estudos anteriores sugeriam que as cobras perderam as patas ao se adaptarem a ambientes subterrâneos ou marinhos. No entanto, a descoberta na Patagônia pode sugerir que a transição ocorreu em terra firme. A equipe utilizou técnicas de microtomografia (uso de raios-X para criar imagens 3D) para analisar a estrutura interna do crânio sem danificar o espécime.
De acordo com os pesquisadores, os resultados mostram que a Najash tinha um ouvido interno semelhante ao das serpentes modernas, mas com adaptações para um estilo de vida escavador. Agora, os pesquisadores vão investigar como as espécies modernas reduziram as patas gradualmente até desaparecerem. Novas escavações na Patagônia podem revelar fósseis adicionais que detalhem estágios intermediários desse processo evolutivo.
Fonte: Giz Brasil