Casas são construídas com materiais reciclados em Roterdã

Casas geminadas demonstram como o design circular pode ser aplicado à habitação, com foco em reutilização de materiais
O estúdio holandês V8 Architects projetou e construiu um par de casas geminadas em Roterdã, na Holanda, utilizando majoritariamente materiais reciclados e reutilizados. O objetivo foi demonstrar como os princípios do design circular podem ser aplicados à habitação contemporânea. Batizadas de Villa Residu, as residências integram o empreendimento Koer, da construtora VORM. A proposta do escritório era erguer as casas com materiais reaproveitados sempre que possível — com exceção da fundação e das escadas — como um estudo de caso para explorar a viabilidade do design circular em projetos de maior escala.
“Não importa o quão pequeno seja, a Villa Residu é um projeto extremamente relevante para nós”, afirmou Michiel Raaphorst, sócio-fundador da V8 Architects. Segundo ele, a dificuldade de incorporar circularidade em grandes empreendimentos motivou a equipe a aplicar esses princípios em uma obra de menor porte para extrair aprendizados práticos. “A Villa Residu também mostra que estética, metodologia construtiva e circularidade podem trabalhar juntas”, completou.
Projetado para contrastar com as casas vizinhas, o edifício verde segue a tipologia holandesa tradicional de casa dupla. Acima do solo, as casas foram erguidas com estruturas de aço e pisos de madeira reaproveitados, fornecidos pelos parceiros Swanenberg Iron Group e Bork, empresa de demolição. As fachadas foram fechadas com painéis de aço reutilizados da Van Engeland de Groot, enquanto as janelas foram replanejadas, revestidas e fixadas por encaixe pelas empresas CirQ Wood e Kiewit. Outros elementos, como vidros, grades, revestimentos, estrutura de madeira, placas de contorno e isolamento térmico também vieram de obras anteriores.
O volume principal do edifício foi dividido na diagonal, com duas portas de entrada posicionadas lado a lado sob um dossel. Cada unidade conta com um escritório no térreo, com acesso independente, uma sala de estar no primeiro andar, e quatro quartos e dois banheiros nos andares superiores. No interior, a maioria das paredes foi revestida com placas de gesso reutilizadas; apenas os tetos receberam placas novas. A escada interna de madeira foi construída com materiais novos.
Segundo Raaphorst, a escolha por materiais reaproveitados influenciou todo o processo de concepção e execução do projeto. A licença da obra foi aprovada com base em uma especificação ampla de materiais, e a empreiteira recorreu a um corretor especializado para encontrar os insumos necessários. O projeto passou por alterações ao longo da obra, conforme a disponibilidade dos materiais.

“Você não pode simplesmente projetar esperando que os materiais estejam disponíveis como se estivessem em uma prateleira”, explicou Raaphorst. “É preciso especificar o projeto de forma mais genérica, permitindo variações de tamanho, formato e material, pois a disponibilidade pode ocorrer em um período de dois anos após o projeto original estar finalizado”.
Em resumo, a equipe definia perfis e padrões indicativos para os materiais durante a aprovação do projeto, que eram atualizados continuamente ao longo da execução, conforme novos materiais fossem adquiridos. De acordo com a V8 Architects, uma análise de Desempenho Ambiental de Edifícios (MPG) revelou que as casas atingiram uma pontuação 56% superior ao padrão legal.
Para garantir a circularidade, o edifício também foi projetado para ser desmontável. A equipe defende que a flexibilidade é essencial para o sucesso do design circular, e que haverá uma crescente necessidade por armazéns de materiais que funcionem como pontes entre obras que descartam materiais e novas construções.
Vai haver uma enorme demanda por interfaces entre edifícios doadores e de destino, como armazéns ou mercados, porque é difícil casar necessidade com disponibilidade no tempo”, destacou Raaphorst. “Algo que certamente faremos é coletar materiais no início, pelo menos para os principais elementos estruturais”.
Ele também defende a criação de incentivos fiscais por parte dos governos para fomentar o uso de materiais reutilizados. O projeto mostrou à equipe que, muitas vezes, materiais novos acabam sendo mais baratos e simples de aprovar estruturalmente.
Reutilizar nem sempre é mais barato que usar materiais novos, e as aprovações estruturais para itens reciclados são mais complexas”, afirmou Raaphorst. “Legislações específicas e impostos sobre materiais não circulares podem ser úteis nessa questão”.
Fonte: CicloVivo