Criminosos aplicam quatro golpes por minuto contra brasileiros

Cinco dos 10 municípios com mais crimes contra a vida estão concentrados no estado da Bahia
O maior ataque hacker da história do Brasil — que desviou mais de R$ 1 bilhão — evidencia uma modalidade que está em alta no mundo do crime. Dados do 19.º Anuário de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) na última quinta-feira (24), mostram que os crimes virtuais dispararam no país.
De 2018 para 2024, o número de estelionatos virtuais explodiu, apresentando um salto de 408% — chegou a 2,1 milhões de registros no último ano. Isso equivale a quatro golpes por minuto no Brasil, elevando a taxa nacional para 1.019 ocorrências por 100 mil habitantes. São Paulo (1.744 por 100 mil), Distrito Federal (1.681,3) e Paraná (1.339,5) lideram as estatísticas para este recorte específico.
O anuário aponta um obstáculo relevante: a “baixa capacidade do sistema de justiça em processar esses crimes”, o que favorece a impunidade dos autores e representa um desafio adicional para as instituições. No caso do maior ataque hacker brasileiro, a Polícia Civil de São Paulo e a Polícia Federal continuam investigando o crime, que utilizou credenciais de acesso válidas e invadiu os sistemas da C&M — uma empresa de tecnologia que faz a intermediação no acesso de bancos e fintechs de pequeno porte aos sistemas do Banco Central (BC), incluindo o Pix — para roubar dinheiro de seis instituições financeiras clientes da empresa.
Violência letal cai 25% em 12 anos; Sul e Sudeste lideram redução
Já na análise das mortes violentas intencionais, o Brasil tem vivido uma queda consistente em homicídios dolosos (com intenção de matar), latrocínios (roubo seguido de morte), lesões corporais seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais. As regiões Sul e Sudeste concentram as menores taxas desses crimes.
Entre os estados, São Paulo (8,2 por 100 mil habitantes) e Santa Catarina (8,5) registram índices bem inferiores à média nacional, de 20,8 em 2024. Distrito Federal (8,9), Rio Grande do Sul (15,0) e Minas Gerais (15,1) também ficaram abaixo da média, demonstrando controle efetivo sobre a criminalidade letal. De acordo com dados do anuário, a segurança pública movimentou R$ 153 bilhões em 2024.
A análise do gasto per capita revela eficiência em alguns estados: São Paulo (R$ 362,48) e Santa Catarina (R$ 433,69) estão entre os menores valores investidos no país, ainda assim mantêm baixas taxas de violência. Paraná (R$ 549,10), Minas Gerais (R$ 543,76) e Goiás (R$ 585,99) seguem tendência semelhante, sugerindo gestão fiscal eficiente e bom retorno sobre o investimento em segurança pública.
Cinco dos 10 municípios com mais crimes estão na Bahia
O levantamento ressalta que muitos dos estados com altos índices de violência coincidem com territórios onde Lula (PT) venceu o segundo turno das eleições de 2022. Ele obteve votações expressivas no Piauí (76,83%), Bahia (72,11%) e Maranhão (70,93%). Entre os estados em que Lula foi vitorioso — Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins — persistem desafios severos de segurança pública, como elevadas taxas de mortes violentas intencionais, letalidade policial, violência de gênero, crimes patrimoniais e tráfico de drogas.
O estado da Bahia exemplifica a situação: em 2024, registrou a segunda maior taxa de mortes violentas intencionais do Brasil (40,6 por 100 mil), somando 6.024 vítimas. Cinco dos 10 municípios mais violentos do país — Jequié, Juazeiro, Camaçari, Simões Filho e Feira de Santana — estão no estado. O anuário destaca que a segurança pública no Brasil permanece fragmentada e heterogênea, considerado como reflexo do modelo federativo. As unidades da federação protagonizam a formulação e execução das políticas, com a União respondendo por apenas 14% dos gastos (contra 78% dos estados).
Essa distribuição contribui para diferenças regionais: Sul e Sudeste apresentam as taxas mais baixas de mortes violentas intencionais, enquanto Nordeste (33,8 por 100 mil) e Norte (27,7) lideram os registros de violência letal. Na Bahia e no Ceará, municípios figuram entre os mais violentos do país, muitos deles impactados por confrontos entre facções.
No caso cearense, depois de um 2024 repleto de chacinas, homicídios, guerra de facções e sensação de insegurança galopante entre a população — e pressionado por um 2025 que começa ainda pior, com ataques desestabilizadores do crime organizado à infraestrutura de telecomunicações na região metropolitana de Fortaleza e outras cidades — o governador petista Elmano Freitas tem tentado endurecer o discurso e pedir ajuda para combater a alta criminalidade em seu estado, destoando da tônica leniente da maioria das lideranças de esquerda quando o assunto é segurança pública.
Fonte: Gazeta do Povo