Como diferenciar uma perda de memória comum da demência? Especialista de Harvard explica

Nem todo esquecimento é sinal de doença, mas quando lapsos de memória se tornam frequentes, é importante investigar; entenda a diferença
Por Isabella Bisordi
Com o passar dos anos, é natural perceber pequenas falhas na memória — esquecer onde guardou as chaves, esquecer um nome ou um compromisso. Mas quando esses lapsos passam a ser mais constantes, surge a dúvida: é apenas algo normal do envelhecimento ou pode indicar um quadro de comprometimento cognitivo leve (CCL)? O CCL representa uma fase intermediária entre o esquecimento típico da idade e os sinais mais evidentes de demência. Nessa condição, há alterações perceptíveis na memória, atenção e raciocínio, mas a pessoa ainda consegue realizar suas atividades cotidianas normalmente.
Não é incomum ser esquecido, às vezes, com o avanço da idade, mas se os problemas de memória se tornarem mais perceptíveis, é sempre melhor fazer um exame e realizar um teste cognitivo”, explica Sara Weisenbach, neuropsicóloga do McLean Hospital, afiliado à Harvard. Ela reforça que a identificação precoce é essencial: “existem maneiras de retardar a progressão do declínio cognitivo ou tratar problemas que possam estar causando lapsos de memória, mas quanto mais cedo o problema for identificado, melhor será o desfecho”.
A primeira atitude deve ser conversar com o médico de atenção primária. Durante a consulta, ele poderá avaliar o histórico familiar, o estado geral de saúde e aplicar testes de triagem cognitiva, que ajudam a detectar alterações sutis. Esses testes costumam durar de cinco a 15 minutos e envolvem tarefas simples, como: repetir listas de palavras; lembrar informações pessoais (como endereços ou datas); nomear objetos em imagens; responder perguntas sobre eventos recentes; desenhar um relógio para avaliar a orientação espacial. Os resultados podem indicar a necessidade de avaliações mais detalhadas, mas não servem, por si só, como diagnóstico definitivo de CCL.
Medicamentos, distúrbios do sono, ansiedade, depressão e luto também podem afetar o desempenho cognitivo. Por isso, um diagnóstico completo leva em conta diversos aspectos da saúde física e emocional. Mesmo quando não há comprometimento cognitivo leve, essa triagem serve como ponto de referência para futuras avaliações.
Se o médico identificar alterações cognitivas, ele pode solicitar exames de sangue para descartar causas reversíveis, como deficiência de vitamina B12, disfunção da tireoide ou anemia. Também pode recomendar exames de imagem, como: ressonância magnética (RM), que identifica mudanças estruturais no cérebro e alterações no fluxo sanguíneo; e PET scan, que detecta o acúmulo de placas amiloides, associadas ao Alzheimer.
Outra etapa importante é a avaliação neuropsicológica, conduzida por neurologistas ou neuropsicólogos. Essa análise mais extensa investiga em detalhes quando os sintomas começaram, como evoluíram e quais áreas cognitivas estão mais afetadas. Todas essas informações ajudam a determinar se os problemas surgiram repentinamente ou se pioraram ao longo do tempo.
Manter o cérebro ativo, dormir bem, praticar atividades físicas e adotar uma alimentação equilibrada são atitudes que fortalecem as funções cognitivas e ajudam a preservar a memória. O segredo está em olhar para os sinais com atenção e, diante de qualquer dúvida, buscar orientação médica o quanto antes. Quanto mais cedo o cuidado começar, maiores são as chances de manter uma mente lúcida, saudável e presente.
Embora pequenos esquecimentos sejam normais, é importante procurar um especialista se você ou um familiar notar:
⚠️ Falhas de memória recorrentes (como não lembrar de conversas recentes);
⚠️ Dificuldade em reter novas informações;
⚠️ Problemas para pagar contas, tomar medicamentos ou se organizar;
⚠️ Desorientação em lugares familiares ou pequenos acidentes de carro.
Fonte: Bons Fluidos













