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Por que todos os dias de semana terminam em ‘feira’?

Dica: não tem nada que ver com frutas

“Feira” vem de feria, que, em latim, significa “dia de descanso”. O termo passou a ser empregado no ano 563, após um concílio da Igreja Católica na cidade portuguesa de Braga — daí a explicação para a presença do termo somente na língua portuguesa. Na ocasião, o bispo Martinho de Braga decidiu que os nomes dos dias da semana usados até então, em homenagem a deuses pagãos, deveriam mudar. Mas espera aí: se feria é dia de descanso, por que se usa “feira” apenas nos dias úteis?
Isso acontece porque, no início, a ordem do bispo valia apenas para os dias da Semana Santa (aquela que antecede o domingo de Páscoa), em que todo bom cristão deveria descansar. Depois acabou sendo adotada para o ano inteiro, mas só pelos portugueses — no espanhol, no francês e no italiano, os deuses continuam batendo ponto dia após dia. As únicas exceções assumidas pelos nossos irmãos bigodudos — e depois incorporadas nas colônias portuguesas — foram sábado e domingo (Prima Feria, na Semana Santa), que derivam, respectivamente, do hebreu shabbat, o dia de descanso dos judeus, e do latim Dies Dominicus, o “Dia do Senhor”.

Desde 321 os calendários ocidentais começam a semana pelo domingo. A regra foi imposta naquele ano pelo imperador romano, Constantino, que, além disso, estabeleceu definitivamente que as semanas teriam sete dias. A ordem não foi aleatória: embora na época os romanos adotassem semanas de oito dias, a Bíblia já dizia que Deus havia criado a Terra em seis dias e descansado no sétimo e, ao que tudo indica, os babilônios também já dividiam o ano em conjuntos de sete dias.

O Sol, a Lua e os deuses da mitologia romana (que batizaram os primeiros planetas descobertos: Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio) são os homenageados nos dias da semana em quase todos os idiomas ocidentais. Na língua inglesa, os agraciados são deuses nórdicos — Tyu (irmão de Thor) em Tuesday, Odin em Wednesday, Thor em Thursday e Fraye em Friday. Os portugueses, no entanto, quebraram essa tradição.

Roma chamava os dias de Solis dies (dia do Sol, domingo), Lunae dies (dia da Lua, segunda), Martis dies (dia de Marte, terça), Mercurii dies (dia de Mercúrio, quarta), Iovis dies (dia de Júpiter, quinta), Veneris dies (dia de Vênus, sexta) e Saturni dies (dia de Saturno, sábado). O imperador Constantino (272-337), cristão, mudou Solis dies para Dominica dies, o dia do Senhor. Saturn dies virou Sabatum, do Shabat hebraico, o dia de repouso obrigatório que cai então. Isso deu, em espanhol: Lunes, Martes, Miercoles, Jueves, Viernes. Sábado e Domingo são compartilhados com o português, com a mesma pronúncia e grafia.

(Foto: Reprodução YouTube)

No século 6.º, Martinho de Dume, bispo de Braga (noroeste de Portugal), achou que não era suficiente despaganizar só o fim de semana. Iniciou uma forte campanha para substituir os nomes pagãos dos dias por expressões da liturgia católica: feria secunda ou secunda feria, tertia feria etc. Feria, em latim, significava “dia de festa”, “dia de descanso”. Mas seu sentido, por força do cristianismo, alterou-se para “dia sagrado”. Todo dia era sagrado.

Assim, Portugal, depois de chamar os dias de domingo, lues, martes, mércores, joves, vernes e sábado, passou a ser o único país do mundo a usar a forma canônica para os dias úteis, mantendo o sábado e domingo. Martinho — que não era português, mas da Panônia, atual Hungria — também tentou mudar o nome dos planetas. Virou santo, mas isso ele não conseguiu.

Apesar do nome em português, a segunda-feira é, para a International Organization for Standardization (ISO), o primeiro dia da semana. Mas o Brasil não está sozinho em achar que começa no domingo: EUA, Canadá e Austrália, entre vários outros, concordam.

Fonte: Aventuras na História

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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