Saúde

Novo tipo sanguíneo é descoberto na Tailândia

Novo estudo identifica um tipo sanguíneo inédito — tão raro que apareceu em apenas três pessoas entre mais de meio milhão de amostras analisadas

Por Isabella Bisordi 

Uma análise gigantesca realizada ao longo de oito anos trouxe à luz uma descoberta impressionante na hematologia: um tipo sanguíneo que nunca havia sido registrado. Pesquisadores da Universidade Mahidol, na Tailândia, identificaram uma variação raríssima do fenótipo B(A), observada somente em três pessoas entre 544 mil amostras de sangue analisadas. Os resultados foram publicados na revista Transfusion and Apheresis Science. Eles ampliam a compreensão do quanto nosso sistema sanguíneo é mais complexo do que se imaginava.
Curiosamente, o objetivo inicial do estudo não era encontrar um novo tipo sanguíneo. A equipe investigava por que, em alguns casos, os testes de tipagem direta e reversa — fundamentais no sistema ABO — apresentam resultados conflitantes. Esse tipo de discrepância, embora incomum, é crítico, já que pode colocar pacientes em risco durante transfusões.

Para isso, foram examinadas 285.450 amostras de doadores e 258.780 de pacientes do Hospital Siriraj. Entre mais de meio milhão de testes, apenas 396 apresentaram resultados discrepantes, o equivalente a 0,15%. Após descartar casos explicados por transplante de medula e outras condições, restaram 198 amostras realmente incompatíveis. E apenas uma delas revelou a presença do enigmático fenótipo B(A). Entre os doadores, a discrepância foi ainda mais rara (0,03%), e somente duas pessoas apresentaram a mesma variação.

O fenótipo B(A) é uma peculiaridade extremamente incomum dentro do sistema ABO. Apesar de essas pessoas serem classificadas como tipo B, mutações específicas no gene ABO fazem com que a enzima responsável pela produção dos antígenos das hemácias tenha uma leve atividade semelhante à do tipo A. Nos três indivíduos identificados, pesquisadores encontraram quatro mutações inéditas.

Elas alteram o funcionamento da enzima e confundem os testes tradicionais, já que o antígeno A aparece em quantidades tão pequenas que pode passar despercebido. Para os médicos, o achado serve como alerta: em casos muito raros, a tipagem comum pode não ser suficiente. Nestes cenários, exames genéticos podem ser essenciais para garantir segurança em transfusões.

Por que essa descoberta importa
Embora extremamente rara, essa variação reforça um ponto fundamental. O sangue humano vai muito além das oito tipagens mais conhecidas (A, B, AB e O, com fator Rh positivo ou negativo). Ao lado do sistema ABO e do Rh — que compõem classificações como “O+” — existem pelo menos 45 outros sistemas sanguíneos, cada um com suas características específicas. E não é a primeira vez que novas variações surpreendem os cientistas.

Em 2024, pesquisadores solucionaram um enigma de 50 anos ao identificar um novo sistema de grupos sanguíneos em uma amostra colhida em 1972. Em 2025, cientistas franceses revelaram o “Gwada-negativo”, considerado o tipo sanguíneo mais raro já registrado, encontrado em apenas uma mulher da ilha de Guadalupe, sendo ela a única pessoa no mundo compatível consigo mesma.

Esses achados reforçam que o universo da hematologia ainda guarda muitos mistérios. Como explicam os autores do estudo tailandês, pesquisas futuras serão fundamentais para compreender como as mutações recém-identificadas influenciam a estrutura e a função das enzimas do sistema ABO.

Fonte: Bons Fluidos

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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