Descoberta revela um possível ‘jardim’ do túmulo de Jesus Cristo

Escavação italiana sob o Santo Sepulcro encontra oliveiras e videiras de 2.000 anos e reforça descrição do Evangelho de João
Por Gabriel
Uma escavação há muito esperada por arqueólogos italianos finalmente ocorreu sob os pisos da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. O local, venerado há séculos como o cenário da crucificação, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo, acaba de revelar novos indícios arqueológicos que despertam atenção mundial.
Pesquisadores encontraram vestígios de oliveiras e videiras com cerca de dois mil anos. Essa descoberta sugere que a área, hoje tomada pela basílica, foi um espaço agrícola no passado — exatamente como o Evangelho de João descreve: “no lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim”. A breve frase bíblica, embora poderosa como recurso literário, há muito gera debates históricos. Agora, novos elementos reforçam a hipótese de que o famoso jardim citado no texto realmente existiu.
A Igreja do Santo Sepulcro é considerada, pela tradição cristã, o ponto que abrange tanto o Calvário quanto o túmulo de Cristo. Por isso, recebe peregrinos de todas as partes do mundo. No entanto, essa popularidade, somada às tensões entre as comunidades religiosas responsáveis por seu cuidado, sempre dificultou investigações aprofundadas.
Durante décadas, o Patriarcado Ortodoxo, a Custódia da Terra Santa e o Patriarcado Armênio divergiram sobre reformas internas. Apenas em 2019, após chegarem a um acordo para substituir o piso do século 19, abriu-se uma rara janela para a pesquisa. Aproveitando a oportunidade, uma equipe de arquitetos e arqueólogos da Universidade La Sapienza, de Roma, iniciou as escavações em 2022.
Segundo Francesca Romana Stasolla, responsável pelo projeto, a autorização das três comunidades foi decisiva. “Com as obras de renovação, as comunidades religiosas decidiram também permitir escavações arqueológicas sob o piso”, afirmou ao Times of Israel. As primeiras camadas investigadas revelaram uma pedreira da Idade do Ferro, usada entre 1200 e 586 a.C. Séculos depois, na época de Jesus, o local já funcionava como área funerária com túmulos escavados na rocha. Determinado a honrar esse espaço, o imperador Constantino ordenou, no século 4.º, a construção da primeira versão da Igreja do Santo Sepulcro.
A parte mais surpreendente, porém, surgiu ao examinar o período intermediário: entre o uso da pedreira e a construção da igreja. Segundo Stasolla, o terreno foi reorganizado com muros baixos de pedra, preenchidos com terra fértil — indicando que a área se tornou agrícola. Foi nesse ponto que a equipe encontrou evidências de oliveiras e videiras antigas. Os estudos arqueobotânicos confirmam um espaço cultivado na época descrita pelo Evangelho.
O Evangelho menciona uma área verde entre o Calvário e o túmulo, e identificamos esses campos cultivados”, declarou Stasolla.
Além dos restos vegetais, os arqueólogos descobriram moedas e fragmentos de cerâmica datados aproximadamente do século 4. Embora o processo de análise completa dos materiais deva levar anos, a equipe considera os achados valiosos para compreender a evolução física e cultural do local. Especialistas de várias áreas se revezam nos trabalhos. Geólogos, arqueobotânicos e arqueozoólogos contribuem para reconstruir o panorama do sítio antes da construção da atual igreja cruzada, erguida no século 12.
A grande pergunta permanece: essa evidência confirma o túmulo de Jesus? Para Stasolla, a resposta exige outra perspectiva. Ela destaca que a escavação revela, acima de tudo, a história de fé de gerações inteiras.
O verdadeiro tesouro que estamos revelando é a história das pessoas que fizeram deste local o que ele é, expressando aqui a sua fé”, disse. “Independentemente de alguém acreditar ou não na historicidade do Santo Sepulcro, o fato de gerações de pessoas terem acreditado é objetivo”.
Assim, a descoberta não encerra o debate. Pelo contrário, amplia nossas compreensões sobre Jerusalém, sobre o cristianismo primitivo e sobre como narrativas religiosas moldam espaços ao longo dos séculos. Se o “jardim” descrito no Evangelho de João realmente existiu ali, o novo achado aproxima ciência e tradição — e reacende a busca por respostas em um dos lugares mais reverenciados da história humana.
Fonte: Aventuras na História













