Ciência

Terra tinha dias meia hora mais curtos há 70 milhões de anos

Concha de molusco ajudou especialistas a comprovar teoria de que dias eram mais curtos durante o Cretáceo, período em que ocorreu a extinção dos dinossauros

Há 70 milhões de anos, um dia na Terra durava menos tempo: cerca de 23 horas e 30 minutos, segundo um estudo publicado no Paleoceanography and Paleoclimatology. A pesquisa foi conduzida com base no fóssil de um amêijo rudista, molusco da espécie Torreites sanchezi, encontrado em Omã.
Esse animal se desenvolve muito rapidamente e estabelece anéis que indicam seu crescimento todos os dias. Portanto, para analisar o espécime, a equipe utilizou lasers em pequenas amostras, o que revelou informações sobre a temperatura e a química da água no momento em que a concha do molusco se formou.
A análise, então, forneceu medidas precisas da largura e o número de anéis de crescimento diário, bem como padrões sazonais. O novo estudo também indicou que a composição da concha mudou mais ao longo do dia do que ao longo das estações, ou com os ciclos das marés do oceano.
Além disso, a resolução em escala fina das camadas mostra que a concha cresceu muito mais rapidamente durante o dia do que à noite. “Esse bivalve tinha uma dependência muito forte desse ciclo diário, o que sugere que ele tinha fotossimbiontes”, disse Niels de Winter, um dos pesquisadores, em comunicado. “Você tem o ritmo diurno da luz sendo gravado na concha”.
A alta resolução obtida no novo estudo combinada com a rápida taxa de crescimento dos bivalves antigos revelou detalhes sem precedentes sobre como o animal vivia e as condições da água em que crescia diariamente. “Temos cerca de quatro a cinco pontos de dados por dia, e isso é algo que você quase nunca obtém na história geológica. Basicamente, podemos olhar para um dia 70 milhões de anos atrás. É incrível”, afirmou de Winter.
A análise química da concha também permitiu aos especialistas inferirem que as temperaturas do oceano estavam mais quentes no final do Cretáceo do que o que se pensava anteriormente, atingindo 40ºC no verão e 30ºC no inverno. “A alta fidelidade desse conjunto de dados permitiu que os autores extraíssem duas inferências particularmente interessantes que ajudam a aprimorar nossa compreensão da astrocronologia cretácea e da paleobiologia rudista”, disse Peter Skelton, paleobiólogo que não participou do estudo, em declaração à imprensa.
De acordo com o estudo, o número de camadas diárias encontradas por ano é de 372, o que sugere a duração de dias mais curtos durante o Cretáceo, há 70 milhões de anos. Isso, contudo, não foi uma surpresa, porque os cientistas já desconfiavam que os dias eram mais curtos no passado.
Enquanto a duração de um ano terrestre é constante, a duração dos dias não são. Isso acontece porque a órbita da Terra ao redor do Sol não mudou com a passagem do tempo, mas a velocidade da rotação do planeta está diminuindo, o que está aumentando a duração dos dias.
Esse crescimento é resultado do atrito das marés do oceano, causado pela gravidade da Lua, que diminui a rotação da Terra. Isso porque a atração das marés acelera um pouco o nosso satélite em sua órbita, e, à medida que isso acontece, o giro da Terra diminui e a Lua se afasta de nós.
Contudo, o problema é que, levando em consideração o ritmo de afastamento da Lua hoje, os especialistas concluíram que essa velocidade está mudando com o tempo — e pesquisas como essa, envolvendo o molusco, podem ajudar os especialistas a recriarem o passado. “Até agora, todos os argumentos publicados para fotossimbiose em rudistas eram essencialmente especulativos, baseados em características morfológicas meramente sugestivas e, em alguns casos, eram comprovadamente errôneos”, observou Skelton. “Esse artigo é o primeiro a fornecer evidências convincentes a favor da hipótese”.

Fonte: Galileu.com

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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