Contradição histórica: as verdades reveladas pelo cadáver de Dom Pedro I e de suas duas esposas
Além dos restos mortais do imperador, os corpos de Dona Leopoldina e Dona Amélia, foram examinados pela arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel
O corpo do primeiro imperador do Brasil, Dom Pedro I, que esteve no comando do império de 1822 até sua abdicação em 1831, passou por uma análise arqueológica em 2012, essa foi a primeira vez que seus restos mortais foram tocados. A exumação fez parte do trabalho de mestrado da arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel, para o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, USP.
Em 2010, ela obteve autorizações dos descendentes da família real brasileira para exumar os restos mortais de Dom Pedro I e suas mulheres: Dona Leopoldina e Dona Amélia. Diversas curiosidades e novidades sobre os membros da família real do Brasil foram descobertas nesse processo.
Ambiel é moradora do bairro do Ipiranga em São Paulo, onde os corpos dos monarcas estão enterrados. Ela tomou a iniciativa da pesquisa por estar preocupada com alguns fatores internos no local onde os caixões ficam, como a umidade.
O estudo contou com uma grande equipe formada por historiadores, arqueólogos, físicos e médicos. Eles usaram diversos recursos tecnológicos para fazerem a pesquisa, como exames de tomografia, raios-x, ressonância magnética e uso de infravermelho.
Dom Pedro I
Até então, não era de conhecimento público que o monarca havia fraturado quatro costelas ao longo de seus 36 anos, os pesquisadores acreditam que isso possa ter prejudicado um de seus pulmões e agravado seu quadro de tuberculose, que o levou à morte, em 1834. Ele também não fraturou a clavícula em uma queda de cavalo, como havia sido dito anteriormente.
Além disso, descobriu-se que Dom Pedro I foi enterrado com roupas de general do exército português, também foram identificadas medalhas de reconhecimento do país europeu. A única referência feita ao período em que ele governou o Brasil estava na tampa de chumbo de seu caixão, com a seguinte frase: Primeiro Imperador do Brasil, ao lado da menção: Rei de Portugal e Algarves.
Dona Leopoldina
Outra curiosidade da pesquisa aconteceu depois da exumação dos restos mortais de Dona Leopoldina, a primeira esposa do imperador. Alguns dados históricos foram colocados à prova.
Segundo a história contada até então, a imperatriz, que faleceu em 1826, teria quebrado o fêmur após Dom Pedro I tê-la empurrado da escada, no palácio Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, onde a residência da família real era localizada. No entanto, o exame não encontrou nenhuma fratura no corpo de Leopoldina.
Dona Amélia
A maior surpresa veio na hora da exumação do corpo de Dona Amélia, a segunda esposa de Dom Pedro I e imperatriz do Brasil de 1829 até 1834. O corpo da mulher, diferente dos outros dois, estava mumificado — o que deixou algumas partes da monarca intactas, como unhas, cabelos e cílios. O pedido de Amélia havia sido por um funeral modesto, o que aparentemente não foi atendido.
Para Valdirene do Carmo Ambiel, a mumificação não foi planejada “Acredito que não houve a intenção de se fazer uma múmia. Era preciso dar um preparo prévio ao corpo, para não decompor nos três dias de funeral, que era o costume da época. Depois, o corpo foi colocado em um caixão de madeira, envolto em chumbo, e fechado hermeticamente. Também não passou por tantos traslados. Essa combinação pode ter anulado algumas ações do processo de decomposição”, explicou a arqueóloga na época.
Depois do fim das pesquisas que acrescentaram mais informações sobre a família real brasileira, os três corpos foram limpos e retornaram para a cripta do Parque da Independência, no Ipiranga. Para os arqueólogos a intenção é preservar ainda mais a ação do tempo nessas figuras importantes para a história do Brasil.