Vereadora diz que Fundão precisa mudar de patamar político

“Fundão tem uma arrecadação média de R$1,6 milhão/mês, ou seja, quase R$ 20 milhões/ano, nossa realidade podia ser bem diferente”
Vereadora do município de Fundão, Sônia Steins, mãe de dois filhos e avó de três netos, fala à coluna Olhar de uma Lente (F&N), sobre a sua cidade que, por décadas, é carimbada com a tarja da corrupção (esquemas inescrupulosos, propinas, subornos e outros adjetivos depreciativos), ou seja, tudo que leva uma população ao declínio social, tirando dela o que é de direito como investimentos em saúde, educação, cultura, lazer e o mais importante, a dignidade.
Sônia Steins nasceu em Santa Leopoldina, mas viveu a maior parte de sua vida no município de Fundão. Filha da professora Maria Neves e do lavrador Magno Rodrigues, graduou-se em Letras (hoje é aposentada), lecionou em escolas públicas estaduais e municipais do ensino fundamental ao ensino médio.
“Me aposentei em 2006 e, na época, ainda continuei trabalhando como professora de português, depois, parei, não quis mais. Sempre mexi com política, minha vida inteira foi para ajudar as pessoas. Herdei a política da minha mãe. Era professora e atuava com uma liderança muito grande na comunidade. Apesar de muito sábia e amar política, ela nunca quis ser vereadora, a política eu herdei dela. Antes de ingressar na política, fui presidente da comunidade Munitura e, na época, a pedido da minha mãe, deixei a prefeitura construir uma escola dentro do meu sítio e Victor Buaiz, governador do Estado no período, acabou com as escolas rurais”, recorda.
“Faço parte da Comissão da Agricultura, e posso garantir que não há nada para o setor agrícola, os trabalhadores rurais estão órfãos, as estradas estão inviáveis, são muitos buracos, mas não entendo o porquê, já que a prefeitura dispõe de máquinas”
Não à toa, Sônia tem uma preocupação muito grande com esse público. “Minha maior preocupação, hoje, é com as crianças da zona rural. São poucos os recursos… agora, então, com a pandemia, muitos alunos da rede de ensino estão com os conteúdos mais comprometidos ainda, muitos deles não dispõem de computador e o sinal de internet, que já é horrível nos centros urbanos, imagina na zona rural… Então, assistir aulas a distância, impossível”, lamenta.

Sônia recorda que a falta de seriedade e de compromisso com a população fundãoense desde sempre, levou o município a uma situação muito complicada. “Desde que me lembro, Fundão nunca teve um gestor que tenha tido uma administração aprovável, alguns até que fizeram alguma coisa, mas nunca o necessário, o que a população realmente precisava. Tínhamos um hospital no passado que foi transformado em Posto de Atendimento (PA), a saúde está um caos… o município precisa assumir sua responsabilidade. O munícipe tem o direito de ser bem assistido e o gestor, encontrar mecanismo para atender a demanda, é dever. A população precisa de especialistas, acredite, por perseguição política, não temos cardiologista”, denuncia.
Como integrante da Comissão da Agricultura, a vereadora desabafa “posso garantir que não há nada para o setor agrícola, os trabalhadores rurais estão órfãos e as estradas, inviáveis. São muitos buracos, mas não entendo o porquê, já que a prefeitura dispõe de máquinas para isso”.
Atenta às questões ambientais, a vereadora diz que até tentou fazer algo pelo meio ambiente, mas que, como várias outras tentativas, não conseguiu levar seu projeto adiante. “Quando fui eleita, apresentei um projeto voltado para o ambiente chamado ‘Restauração das Nascentes”, que consistia em recuperar as nascentes do município. A Vale abriu as mãos para nos ajudar com fornecimento de mudas e orientação técnica, mas quando apresentei, colocaram tantas dificuldades que o projeto não foi à frente, foi engavetado. Tudo que peço, não sou atendida, as coisas não podem funcionar como moeda de troca… Eu apoio o que é bom para o munícipe, sou pela coletividade. Quando o prefeito veio com o projeto para reformular os empregos na prefeitura, fui contra porque eu sabia que aquilo não interessaria, como não interessou. Demitiu muitos servidores, mas permaneceu com o grupo dele. Meu mandato não é de manobras, faço pelo coletivo e não para grupos”.

Fundão tem um dos litorais mais lindos do Espírito Santo, no entanto, fica a dever em vários aspectos, na visão de Sônia. “Nosso litoral é belíssimo, mas não tem infraestrutura e muito menos segurança. Fundão tem uma arrecadação média de R$ 1,6 milhão/mês, ou seja, quase R$ 20 milhões/ano, nossa realidade podia ser bem diferente. Olha para o município de Santa Teresa, que é menor que Fundão, lá tem Serviço Social da Indústria (Sesi), Faculdade, hospital de qualidade, respeito ao ecossistema, incentivo ao turismo e um olhar atento para a produção agrícola e olha que eles não recebem royalties… não têm petróleo”.
Perguntada se tinha interesse em concorrer, no futuro, à cadeira de prefeita, Sônia foi sucinta e direta: “Meu mandato como vereadora foi e sempre será voltado para o social, quando falo social me refiro aos pilares de uma sociedade igualitária. Todos temos obrigações, mas, quando falamos dos direitos, apenas uma pequena parcela da população é que usufrui dela. Nosso município ainda tem muitas crianças fora da escola, nossa saúde precisa avançar, nosso trabalhador agrícola está desprovido de suporte técnico, muitas comunidades ainda só têm energia oito horas ao dia, as estradas da zona rural precisam de manutenção constantemente e, se Deus e a população do meu município, que eu amo, me colocar à prova, não hesitarei. Sou honesta e sei muito bem o que preciso fazer para tornar o município de Fundão um modelo moderno e humanizado, referência no cenário nacional”.
Fundão é um município pertencente à Região Metropolitana da Grande Vitória. Localizado ao norte da capital do Estado ocupa uma área de 288.724 km², foi emancipado em 1923 do extinto município de Nova Almeida e seu nome se deve ao rio Fundão que banha a sede.