Política

Saúde na Serra, à deriva em plena tempestade

Há anos venho falando da existência de duas Serras. A “rica, que fica à margem leste da BR-101 e a “pobre”, fica a oeste da maior rodovia federal do País. Costumo andar, quase que diariamente, nos bairros do município para ver como andam as coisas e se o que dizem os gestores nesse momento eleitoral é verdade ou apenas uma artimanha para conquistar eleitores. Para tristeza geral, chego à constatação de que nada que dizem é verdade.
O que posso dizer é que o quadro administrativo do município é preocupante, só não vê aquele que faz parte do caldeirão partidário, o abastado ou aquele que não está nem aí para a hora do Brasil. Estamos em um barco sem comando, somente os marinheiros (servidores) continuam firmes na embarcação que está à deriva no alto-mar em plena tempestade.
As convenções estão dando o que falar. Desespero e correria para todo lado. Futuros candidatos se dizendo de direita, de esquerda, de centro e, acredite, até de fundo (uma lástima para a gestão pública). Agora, o mais triste, além do prefeito — que deveria concluir seu mandato com a responsabilidade que lhe é devida — tumultuar convenções e se fazer de cabo eleitoral para favorecer o candidato à sua sucessão, é ver o povo honesto e trabalhador, como os que entrevistei hoje (15) pela manhã, enfrentando todo tipo de humilhação para conseguir atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) em Jardim Carapina.
A senhora Maria Marta, moradora há dez anos do bairro, disse que os doentes de sua comunidade estão abandonados. “Recebi seis unidades de gazes e 100 ml de álcool para tratar de feridas de uma senhora de quase 80 anos que vive acamada. É um absurdo!”, lastimou.
Para o senhor Neuzinete Gomes Pereira, cadeirante, morador da rua Lima Duarte, a situação não é muito diferente. Ele reclama que está com feridas na perna e não consegue atendimento simplesmente porque não há ninguém para colocá-lo na maca. “Estou com duas secreções na perna e eles nunca olham. Eles dizem que não tem ninguém para me colocar na maca, alegando que sou pesado. Na minha casa eles não vão. Acabaram de marcar para a semana que vem. A gente procura remédio e nunca tem, se eu quiser remédio tenho que ir ao posto do bairro vizinho, Boa Vista. Sou cadeirante e tomo remédios controlados, preciso de atendimento, sou cumpridor das minha obrigações e exijo respeito”, cobrou Neuzinete.

Neuzinete, Cíntia e Ilda (Foto: Haroldo Cordeiro Filho)

A dona de casa Ilda do Nascimento Ferreira, é outra que se diz triste e desapontada com a saúde do município. “Moro em Jardim Carapina há dezoito anos e há muito tempo que o posto não tem profissional da área ginecológica. Estou há 42 dias com sangramento, tenho hemorragia e desmaio com frequência. Tem mais de um ano que o posto não tem ginecologista, o meu problema precisa desse profissional, não adianta outro médico me atender. Hoje a desculpa deles é a pandemia, mas muito antes dessa situação, o posto vem sofrendo com falta de profissionais”, falou desesperada.
Outro morador, que preferiu não se identificar, disse está na comunidade há mais de 25 anos e que, desde 1999, sofre com essa situação. “Eles sempre passaram para eu fazer um Raio-X comum, só que esse problema é inflamação das articulações. Estou com uma ressonância magnética que consegui porque acionei a justiça que obrigou o Estado a fazer esse exame. Preciso apenas mostrar o exame ao médico e isso já faz doze meses”, afirma.
A senhora Cíntia Lima, há cinco meses morando em Jardim Carapina, disse está precisando de tratamento psiquiátrico e psicólogo. “Tenho Síndrome de Pânico e Depressão. Quando cheguei do Rio de Janeiro há uns seis meses, tentei dar continuidade ao tratamento que iniciei lá, apresentei os encaminhamentos e eles sempre dizem que não têm como me atender porque não há psiquiatra na Serra e o que tinha se afastou por causa da covid-19. Estou me mutilando e sem assistência nenhuma do município”, explica.
Como podem ver, o navio está abandonado, cabe agora nós, eleitores, em 15 de novembro, escolher melhor nossos representantes e ver o mais experiente e melhor preparado para assumir a roda do leme dessa embarcação e levá-la para águas calmas e prósperas.

Paciente pegou um frasco de álcool com mais ou menos 30 ml (Foto: Haroldo Cordeiro Filho)

Procurada pela nossa equipe de reportagem, a Secretaria de Saúde da Serra informou que “foi ampliado o número de profissionais nas unidades de saúde com a contratação de mais médicos, enfermeiros e técnicos. Além disso, seis processos seletivos simplificados ainda estão em andamento no município. Com relação aos medicamentos, nosso índice de abastecimento está em 96%, superior ao preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, afirmou em nota.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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