Ciência

Brasileiros observam células intactas em múmia egípcia de 2,5 mil anos

Iret-Neferet é uma das duas únicas múmias restantes no Brasil. Cientistas esperam que análise do DNA celular revele informações sobre parentesco e etnia do cadáver

Os brasileiros responsáveis por pesquisar a múmia egípcia Iret-Neferet conseguiram extrair células intactas na mandíbula do corpo, que tem 2,5 mil anos. O estudo, compartilhado no periódico Clinical Oral Implants Research, foi apresentado on-line no último sábado (10) no Congresso da Associação Europeia de Osteointegração (EAO).
Segundo os especialistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Iret-Neferet é uma das duas únicas múmias egípcias restantes no Brasil e chegou por aqui na década de 1950 — mas só começou a ser estudada em 2017. Os resultados desses esforços foram compartilhados no início de 2019, quando a equipe pôde identificar e datar os restos mortais e, pouco depois, reconstruir o rosto de Iret-Neferet em 3D.
Para o novo estudo, os cientistas analisaram amostras de tecido presentes nos restos mortais, o que os permitiu observar células de tecidos conjuntivo e ósseo e até hemácias intactas. Para os pesquisadores, a descoberta foi surpreendente e prova a sofisticação do método utilizado no Antigo Egito para mumificar corpos.
“A técnica de mumificação dos tecidos e a manutenção da morfologia das células, intactas por quase 2,5 mil anos, nos permitirá realizar novos estudos, dessa vez com o DNA celular”, afirmou Éder Hüttner, cirurgião bucamaxilofacial que liderou a pesquisa, em entrevista à Galileu. “A partir do material genético poderemos obter mais informações sobre doenças e características de Iret-Neferet, como sua etnia”.

Crânio mumificado pertenceu a mulher que viveu há aproximadamente 2,5 mil anos (Foto: Bruno Todeschini/Divulgação PUC-RS)

Os estudiosos também querem tentar rastrear a árvore genealógica do cadáver e, para isso, contam com uma parceria com o Instituto Max Planck, na Alemanha. “Eles têm um banco de dados com o genoma de 90 outras múmias, material que utilizam para analisar as etnias e os parentescos dos corpos”, explicou Hüttner.
Os cientistas também estão animados com a possibilidade de apresentar o estudo no Congresso da EAO, uma das organização mais relevantes na área. “Essa pesquisa representa muito para a egiptologia no Brasil, para sua tradição”, disse Edison Hüttner, coordenador do Grupo de Estudo Identidade Afro-Egípcias da PUC-RS e irmão de Éder, em entrevista à Galileu. “Esse estudo ultrapassa outras pesquisas. [Ele nos permitirá] saber mais sobre o passado e, quem sabe, descobrir mais sobre quem somos”.

Crédito foto de capa: Bruno Todeschini/Divulgação PUC-RS

Fonte: Revista Galileu

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