Birra de criança pode ser um transtorno
Afrontar pais e professores, ter acessos de raiva, ignorar regras, gritar ou espernear ao experimentar algum tipo de frustração são algumas atitudes que, em crianças e adolescentes (mas principalmente entre os mais novos), são imediatamente rotuladas como birra ou falta de educação. Mas o comportamento pode indicar o chamado Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD), um problema que não é tão comum, mas que provoca muito sofrimento e dificuldade para os envolvidos, uma vez que afeta drasticamente a vida familiar e social.
É possível manter o TOD sob controle, mas isso requer uma compreensão total do distúrbio. Segundo Layla Campagnaro, psiquiatra do Centro de Saúde da Mulher do Hospital e Maternidade Pro-Matre, em São Paulo (SP), ele é caracterizado por padrões persistentes de comportamento negativista, desobediente e hostil diante dos pais ou pessoas de autoridade. Além disso, há reações desequilibradas e desproporcionais a certos acontecimentos, nas quais se sobressai a impaciência. “Baixa autoestima e irritação excessiva também fazem parte do quadro”, diz ela.
“São crianças provocativas e intempestivas, com dificuldade de controle emocional, que se indispõem facilmente com os outros e não se responsabilizam por falhas de comportamento nem aceitam explicações lógicas”, diz Deborah Moss, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade de São Paulo (USP).
Questionar faz parte da infância, sendo considerada uma ação saudável e essencial para o desenvolvimento. Mas é importante que os pais fiquem atentos para comportamentos agressivos, irritadiços e impulsivos, característicos do TOD.
“O diagnóstico pode ser difícil, já que a maioria das crianças exibe alguns dos sintomas ocasionalmente, especialmente quando estão cansadas, com fome ou chateadas. No entanto, uma criança com o transtorno irá exibir esses sintomas com mais frequência do que outras, demonstrar dificuldades comportamentais por um período de pelo menos seis meses, ter problemas na escola e para fazer amizades, além de ter seu funcionamento geral comprometido por suas atitudes desafiadoras”, explica Danielle H. Admoni, psiquiatra da infância e da adolescência na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Além dos problemas de aprendizado e de baixo rendimento escolar, Moss lembra que, em muitos casos, essas crianças sofrem bullying e são excluídas dos convites para as festas e brincadeiras em casas de amigos. “Há também certa rejeição entre os outros pais e até mesmo entre parentes. A família acaba evitando eventos e situações de exposição e preconceito”, conta.
Esses conflitos foram enfrentados por Emanoele Freitas Silvas, mãe de Eros, 16, que recebeu o diagnóstico somente aos 12 anos, depois de muitos anos de busca e pesquisa. “As pessoas falam coisas como ‘se fosse meu filho, eu daria um jeito’, ‘você não sabe criar seu filho’, ‘ele não obedece porque você o mima’. Passear em shoppings ou em locais muito cheios não fazemos até hoje, porque ele ainda apresenta sintomas quando contrariado”, diz a mãe.
Entretanto, as crises de raiva e oposição já são bem mais esporádicas do que antes, afirma ela, que acabou se formando em neurociência e se especializando em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para ajudar o filho. Como dica para quem tem uma criança com diagnóstico de TOD, ela recomenda que os pais devem se cuidar e aprender como ajudar o filho, antes de tudo, pois apenas a terapia não surte o efeito desejado.
Fonte: UOL