Geral

Aonde termina o cachorro e começa o humano?

Atenção para os excessos na domesticação do seu “filho de quatro patas”

Texto: Aline Doano

Você é muito cuidadoso com seu cãozinho? Fica muito com ele no colo, dá comida na boca e gosta que ele fique bastante perfumado quando volta do banho no pet shop? Cuidado. Saiba que o excesso de capricho associado ao bem-estar humano pode ser prejudicial aos cachorros.
Em tempos de pandemia, a procura por animais domésticos aumentou bastante e a tendência para os próximos anos é de que este número continue crescendo. Na dúvida entre ter filhos ou um pet, muitas pessoas estão optando pelo animal, e o cachorro desponta como o mais querido e procurado no Brasil.
A convivência doméstica, associada ao desejo de realização familiar pode incentivar a humanização do animal e, com isso, trazer transtornos ao pet, cujas necessidades são bem diferentes das humanas. São atitudes que passam despercebidas pelos tutores por acreditarem estar fazendo o melhor pelo bichinho.
Segundo o comportamentalista animal, Bruno Rocha, o processo de domesticação dos animais começou após a Segunda Guerra Mundial, devido ao êxodo rural. Cães que antes viviam nas fazendas, passaram a viver em casa, em espaços menores, estabelecendo mais proximidade com os membros da família.
Outro marco veio da indústria audiovisual, que apostou no cão como figura de forte relação afetiva com o homem. O destaque desta época fica por conta do pastor-alemão Rin-Tin-Tin, que marcou época estrelando vários filmes e séries.
Apesar dos estímulos, a inserção do cão na vida humana aconteceu de forma espontânea e com pouco conhecimento sobre as particularidades do animal. Para Bruno, há pouca cultura canina, especialmente no Brasil. “A afetividade é muito importante, sobretudo quando o tutor sabe utilizá-la da forma correta.
Quando há excessos, o animal perde a identidade de se expressar como cão, causando transtornos, sobretudo, de ordem comportamental. O excesso de roupinhas, produtos de higiene e perfume é nocivo ao cachorro, pois seu olfato é muito mais apurado que o do humano. Excesso de colo não é saudável, pois o cão precisa se exercitar e exercer liberdade”, alerta.
Mas nem tudo é prejuízo na relação de afetividade entre cão e humano. Como pontos positivos deste processo, Bruno destaca a melhora do bem-estar e saúde animal, além do aquecimento do mercado pet, que gera emprego, renda e fomento a novos negócios. “A companhia do animal é terapêutica e faz um bem enorme à saúde mental do humano. A confusão acontece quando nós obrigamos o animal a viver uma vida desconecta com a proposta natural e necessária para desenvolver uma vida saudável. O cachorro tem o instinto da caça, e quando ofertamos comida a todo momento, ele vai se tornando preguiçoso e desmotivado. Da mesma forma, quando há carinho em excesso, o cão fica apático. São sinais de doenças comportamentais, que no final, vão trazer prejuízos em vez de ganhos ao animal”, completa.

Aline Doano
Jornalista — SRT/ES 2313
“Idealizadora do canal do YouTube Mundo dos Cachorros”

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish