Novas reações nucleares em Chernobyl assustam cientistas
Sítio de um dos maiores desastres da história, a usina de Chernobyl, na Ucrânia, tem apresentado pequenas reações nucleares que vêm intrigando cientistas. Agora, os especialistas estão investigando o caso, decidindo se estas são manifestações físicas que se apagarão por conta própria com o tempo ou se uma intervenção direta será necessária.
Um dos cientistas — Neil Hyatt, da Universidade de Sheffield — disse à Science Magazine que a situação se assemelha a “brasas em uma churrasqueira”, explicando que os restos do antigo reator que explodiu em 26 de abril de 1986 estão realizando pequenas reações — especificamente, fissões nucleares — com as massas de urânio soterradas pela outrora imponente estrutura física da usina de Chernobyl.
O episódio conhecido como “Desastre de Chernobyl” ficou marcado na história da humanidade como o maior acidente nuclear de todos os tempos: durante um teste de capacidade elétrica, a força do reator número 4 foi apenas parcialmente religada após ficar quase que inteiramente sem energia, deixando-o com um desempenho instável.
Como isso não ficou evidente para os operadores, o teste seguiu normalmente e, após sua finalização, o reator ativou seu desligamento — entretanto, uma série de falhas de design combinadas a várias outras condições instáveis acabaram causando uma reação em cadeia sem controle, resultando no derretimento do reator e despejo de seus componentes químicos por uma enorme parte da Europa.
Segundo registros oficiais, entre 35 e 50 pessoas morreram na hora da explosão, com outras quatro mil morrendo no futuro próximo por causa de efeitos nocivos a longo prazo devido a radiação. Isso, fora as mudanças graves de flora e fauna na cidade Chernobyl e sua vizinha, Pripyat.
De acordo com Anatolii Doroshenko, do Instituto para Problemas de Segurança em Usinas Nucleares, sensores posicionados ao redor da cúpula de proteção do reator destruído identificaram um número crescente de nêutrons — um indício de fissão nuclear — vindo de uma sala inacessível. Por isso, conversas sobre o desmantelamento do reator vêm sendo discutidas desde a última semana.
Maxim Saveliev, outro especialista do Instituto, comentou: “Ainda há muitas incertezas. Mas não podemos descartar a possibilidade de um acidente”. Segundo os pesquisadores, porém, a contagem de nêutrons, ainda que crescente, está aumentando em ritmo lento, o que dá a eles alguns anos de pesquisa para saber como coibir eventuais ameaças.
A torcida é a de que a culpada disso seja a chuva. O sarcófago — chamado de “Abrigo” (“Shelter”, na tradução em inglês) — erguido um ano após o desastre para isolar o reator número 4 destruído, permitiu que a água da chuva escorresse nos escombros e componentes remanescentes. Como a água reage com os nêutrons a ponto de eles se aprimorarem e destruírem núcleos de urânio, isso pode elevar a sua contagem — um efeito antecipado pelos sensores mencionados acima.
Na década de 1990, especialistas instalaram irrigadores de gadolínio — um elemento químico capaz de absorver nêutrons. Entretanto, os irrigadores estão no teto do “Abrigo”, e muito de sua distribuição não pode penetrar nas partes mais profundas dos escombros.
Na sala isolada, intitulada “305/2”, os pesquisadores perceberam que os nêutrons estão ricocheteando e agindo de forma mais acelerada — e não mais lenta — contribuindo para as pequenas reações nucleares identificadas em Chernobyl. “São dados críveis e plausíveis”, disse Hyatt. “Nós só não sabemos qual é o mecanismo por trás deles”.
É importante ressaltar que não há chances de uma repetição do que ocorreu em 1986, simplesmente porque a estrutura que alavancou o desastre na época não existe mais. Entretanto, os cientistas concordam que os desenvolvimentos recentes não podem ser ignorados, já que, à medida que a água das chuvas começar a regredir em volume, os nêutrons acelerados podem desencadear reações de fissão mais exponenciais.
Ainda que, no pior cenário possível, tais reações ainda estivessem contidas, elas poderiam causar impacto o suficiente para derrubar as partes mais instáveis do “Abrigo”, uma vez que a estrutura foi erguida em 1987 e viu pouca manutenção desde então, salvo por uma cobertura reforçada levantada em 2016.
Fonte: Olhar Digital