Primeiro bezerro clonado da Rússia abre caminho para gado com edição genética
Em um experimento relacionado, a equipe foi capaz de eliminar os genes responsáveis pela beta-lactoglobulina, proteína causadora de alergia ao leite em humanos
Um primeiro passo em direção à edição genética bovina foi dado na Rússia. Pesquisadores do Centro Federal de Pesquisa para Criação de Animais Ernst Federal, que faz parte do Instituto de Ciência e Tecnologia Skoltech, da Universidade Estadual de Moscou, produziram o primeiro bezerro clonado viável no país.
Em um experimento relacionado, a equipe foi capaz de eliminar os genes responsáveis pela beta-lactoglobulina, proteína causadora de alergia ao leite em humanos, na esperança de criar vacas com edição de genes que forneçam leite hipoalergênico. O artigo que descreve os resultados da pesquisa foi publicado na revista científica Doklady Biochemistry and Biophysics.
A equipe de estudiosos, liderada pelo cientista Galina Singina, conseguiu clonar o bezerro usando células somáticas a transferência nuclear de (TNCS), com fibroblastos embrionários como doadores de núcleos.
Transferência nuclear de células somáticas significa que um núcleo de uma célula normal de um animal doador é transferido para um óvulo com seu núcleo removido, e o embrião resultante é então implantado no útero de uma vaca.
Edição genética de animais é um experimento de alto custo
Segundo Petr Sergiev, membro da equipe, embora os camundongos geneticamente modificados sejam comuns em todo o mundo, (e curiosamente raros na Rússia), a edição de genes em outras espécies animais continua sendo um desafio.
Isso se deve, principalmente, aos altos custos e às dificuldades de reprodução e manejo — camundongos são muito convenientes sob essa perspectiva com, por exemplo, uma gravidez de três semanas, mas outras espécies não.
“Assim, uma metodologia que leve ao gado com leite hipoalergênico não é apenas uma necessidade para a agricultura do futuro, mas também um projeto bacana”, acredita Sergiev, que é professor associado da Skoltech.
“O bezerro clonado nasceu em 10 de abril de 2020, com peso de nascimento de 63 quilos. Agora, com mais de um ano, é um animal adulto de mais de 410 kg, com ciclo reprodutivo regular. Até completar um ano, a mantivemos em quarto separado com a mãe, mas desde maio ela pasta diariamente com as outras vacas do Instituto. Foi necessária uma adaptação, mas foi rápido”, relata Singina.
“A clonagem bovina é essencialmente um teste para a produção de um animal com edição genética”, explica Sergiev, “pois os cientistas precisam ter certeza de que todos os seus métodos estão alinhados antes de implantar os embriões editados”.
Segundo o estudo, a beta-lactoglobulina, o principal alérgeno do leite de vaca, não é um alvo fácil, pois existem quatro cópias dos genes no genoma de uma vaca (duas de cada gene) que precisam ser desativadas.
Até agora, o melhor resultado que a equipe conseguiu foi três em quatro, o que Sergiev afirma ser suficiente para prosseguir porque o animal “perfeito” pode, então, ser produzido por meio de tecnologias tradicionais de criação.
Pesquisadores preparam rebanho de vacas para gestarem clones
Os pesquisadores estão se preparando para o próximo estágio de seu experimento, criando um rebanho de várias dúzias de vacas que terão que levar as gestações editadas até o fim. “Como não é um processo 100% certo, você tem que rolar muito os dados e é muito caro”, diz Petr Sergiev.
“Acho que este trabalho estabelecerá a base metodológica para a edição de genes em bovinos na Rússia, o que levará a desafios mais complexos. Por exemplo, podemos fazer as vacas produzirem certas proteínas que normalmente não produzem para fins biotecnológicos”, conclui.
Fonte: Olhar Digital