Os impactos da pandemia sobre o trabalho e os trabalhadores no Brasil e no mundo
Texto: Fernando Moreira
A pandemia causada pelo vírus SARS-COV-2 (covid-19) mudou a forma como muita gente se relaciona com o trabalho. Os impactos causados podem ser irreversíveis em diversos casos, para melhor ou pior, as mudanças alcançam dimensões que vão desde o próprio fato de estar empregado até as questões psicológicas dos trabalhadores, ou ainda sobre o declínio e a ascensão de determinadas profissões.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), espera-se que, em 2021, cerca de 100 milhões de empregos apresentem déficit, esse é o número equivalente à quantidade de ocupações em tempo integral, pois nesta estimativa foram consideradas também as reduções nas cargas horárias de trabalho. O nível de desemprego em 2022 de acordo com o relatório, “Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo: Tendências 2021″, publicado pela OIT, poderá atingir a marca de 205 milhões em todo o planeta, o que corresponde a uma taxa de 5,7%. Esta taxa, desconsiderando o período da pandemia, foi observada pela última vez há oito anos.
Em parceria com pesquisadores da Universidade de Valência (Espanha), o Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), juntamente com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, publicou o artigo intitulado “Depressão e Ansiedade entre trabalhadores essenciais do Brasil e da Espanha durante a Pandemia de Covid-19: uma pesquisa pela Web (Depression and Anxiety Among Essential Workers From Brazil And Spain During The Covid-19 Pandemic: a websurvey)”, aceito na revista científica Journal of Medical Internet Research. Este estudo demonstrou que 47,3% dos trabalhadores, entrevistados do Brasil e na Espanha, são afetados por sintomas de ansiedade e depressão.
Além disso, a pesquisa aponta que 44,3% apresentaram uso abusivo de bebida alcoólica e 42,9% desenvolveram alterações no sono. Os pesquisadores destacaram que o estilo de vida conta muito nesses dados, pois as chances de um profissional apresentar depressão e ansiedade pode aumentar em até oito vezes quando se tem hábitos não saudáveis. Para avaliar o estilo de vida, foram considerados fatores relacionados à nutrição, uso de substâncias, atividades físicas, gerenciamento do estresse, sono, apoio social e exposição ao ambiente externo.
Os determinantes sociais como as questões socioeconômicas e as iniquidades em saúde, podem explicar as diferenças entre o número de afetados pelos sintomas psicológicos dos trabalhadores do Brasil (55%) e Espanha (23%). “É preciso que se tenha atenção redobrada à saúde mental dos trabalhadores em locais onde se agregam múltiplos problemas sociais e de saúde. Segundo a teoria de sindemias (proposta por Merrill Singer nos anos 90), a presença dessas situações simultaneamente age de forma sinérgica, aumentando o risco de problemas de saúde, tanto física quanto mental”, declara Raquel Brandini de Boni, médica participante da pesquisa, em publicação sobre o estudo no portal da Fiocruz.
Outro ponto relacionado aos impactos causados pela covid-19 sobre os trabalhadores, inclui a variação na valorização entre as profissões. De acordo com o relatório “O Futuro do Trabalho” elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, profissionais da área de Tecnologia de Informação (TI) tendem a ser os mais procurados nos próximos cinco anos. Isso devido às urgências que o mundo apresentou na automatização, virtualização e disponibilização de serviços no meio digital.
“É perceptível que os profissionais de TI estão sendo bastante valorizados, resultado de uma demanda alta ao mesmo tempo em que a oferta de profissionais permaneceu estável. O mercado está aquecido, com muitas contratações e aumentos expressivos de salário, enquanto outros setores da economia sofrem. Com a normalização do home office a fronteira geográfica foi quebrada, o que tende a equiparar os salários ao redor do Brasil. Esse movimento fez com que as empresas se antecipassem, olhando para dentro de casa e aumentando benefícios e salários para evitar a perda de profissionais e do conhecimento. Também houve expansão de projetos para melhoria do dia a dia das áreas, visando ao bem-estar das pessoas. O dólar alto e o inglês como segunda língua é um fator que contribui ainda mais para essa tendência, com muitos trabalhadores sendo contratados por empresas estrangeiras em regime home office. Quem decidiu seguir carreira na TI está colhendo os frutos agora, um segmento que era muito criticado nas escolas nos anos 2000, enquanto as engenharias eram muito mais bem-vistas dentro das exatas”, declara Társis Pedrada Cardoso, analista de Sistemas Sênior na empresa multinacional Accenture, considerada a maior empresa de consultoria em TI do mundo.
Por outro lado, alguns setores apresentaram quedas extremamente significativas na produtividade. No Brasil, por exemplo, houve grande impacto nas áreas relacionadas às atividades artísticas, transportes, serviços de alojamento, setor automotivo, entre outros. Estes dados foram divulgados pelo Ministério da Economia em setembro do ano passado.
Dado este contexto, cabe aos trabalhadores estar atentos às mudanças frequentes no meio corporativo, aproveitando as oportunidades e o momento que vivemos, buscando o aprendizado contínuo através de cursos de formação e especialização, sem deixar de lado os fatores relacionados à saúde, fundamentais para manter o funcionamento do corpo e da mente em equilíbrio com as atividades laborais.