Mobilidade

Vendidos por quase R$ 2 milhões, ônibus elétricos buscam formas de amenizar custo para abrir caminho no Brasil

Empresas brasileiras tentam se preparar para novo mercado, com forte presença das montadoras chinesas

O setor de ônibus elétrico vem tentando abrir espaço para o que promete ser uma revolução nas metrópoles do Brasil, porém o custo alto (três vezes o valor de um ônibus a diesel) ainda assusta prefeituras e companhias de transporte, com caixas pressionados pela pandemia da covid-19.
Para driblar o descompasso entre a urgência climática e o aperto econômico País afora, este setor produtivo hoje investe em aproximações com secretarias de transporte e começa a fornecer veículos elétricos para testes, ao mesmo tempo em que apresenta novos modelos de negócio às prefeituras e clientes, algo que ocorre em cidades como Niterói (RJ) e Salvador, por exemplo.
Se antes o comprador adquiria um veículo, agora ele entra para um pacote de serviços que vai muito além do momento da compra e inclui a manutenção, o treinamento e a assistência técnica, que cuida não só dos ônibus bem como das redes elétricas destinadas à recarga das baterias.
Em algumas negociações o pacote pode virar uma espécie de aluguel (leasing) pago para usar o ônibus, que ao fim do contrato é devolvido à fábrica.
O setor cobra incentivos governamentais e acredita na queda de preço de componentes, o que deve até 2030 colocar definitivamente em andamento a transição de matriz energética no transporte coletivo, algo que deve melhorar consideravelmente a qualidade do ar das capitais, além de diminuir o ruído do trânsito.

Custo das baterias caiu 89% na última década
A Mercedes-Benz do Brasil lançou seu primeiro ônibus elétrico no país recentemente, focada nesta nova modalidade de negócio, e aposta no crescimento do mercado até o fim da década.

“A eletrificação veio para ficar, só que ela vai acontecer em momentos diferentes em cada município, e em proporções diferentes”, analisa Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing da montadora.

O custo das baterias, que hoje representa até 50% do valor do ônibus elétrico, deve cair, o que só deve tornar os preços mais atraentes. “Haverá muita evolução nos próximos dez anos na bateria. Hoje uma bateria de ônibus pesa 2.500 kg”, observa Barbosa.
Segundo estudo da agência Bloomberg, apenas em 2020 o preço das baterias de lítio, usadas para abastecer carros e ônibus elétricos, caiu 13%, sendo que na última década (2010-2020) essa queda foi ainda mais acentuada: 89%.
A manutenção é outro argumento forte na migração para o elétrico, segundo fabricantes. Por ser veículo de câmbio automático e com uma simplificação em relação ao diesel que diminui o número de componentes de 15 mil para menos de 1 mil na estrutura do chassi, o ônibus elétrico promete devolver o investimento com um custo operacional até 70% menor.

“A vida útil de um ônibus elétrico tem no mínimo o dobro da vida útil de um ônibus a diesel. Em São Paulo, um ônibus a diesel trabalha por oito anos. O elétrico já está partindo de 15 anos [de operação, de acordo com norma da SPTrans] e com certeza chega a 20 anos”, afirma Iêda de Oliveira, diretora-executiva da Eletra, empresa do ABC Paulista que opera há 20 anos no ramo e tem atuação em países como México e Nova Zelândia.

Mercedes fez reuniões com secretarias municipais
Antes de entrar neste mercado, com seu ônibus próprio e também como fornecedora de chassi elétrico para outras marcas, a Mercedes participou de um grupo de trabalho que incluiu Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), num mapeamento de viabilidade para a eletromobilidade no Brasil.
Concluídos os estudos de mercado, secretarias de transporte de todo o País foram abordadas e hoje o setor já olha para além de São Paulo, única capital com parcela elétrica da frota — quase todos trólebus (que usam uma rede elétrica de fios, como os antigos bondes), e poucos modelos modernos a bateria.

“São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Salvador, Vitória e Rio são os municípios que, com um pouco mais de ‘pé no chão’, têm discutido volumes menores e uma pequena introdução a essa tecnologia”, aponta Barbosa.

Nas conversas, os administradores públicos apontaram infraestrutura, recarga, preço da energia no médio e longo prazo e ainda o ciclo de vida da bateria como os principais receios para a entrada na eletromobilidade. Além, claro, do preço de um elétrico, que hoje gira em torno de R$ 1,9 milhão.

Fonte: Um Só Planeta

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