Meio ambiente

Golfinhos-nariz-de-garrafa produzem sons individuais únicos em mar aberto, revela pesquisa

Assobios-assinatura são como os nomes são para os humanos, pois identificam cada indivíduo da espécie

Uma pesquisa inédita da ONG brasileira Ocean Sound identificou pela primeira vez que os golfinhos-nariz-de-garrafa emitem sons de identidade únicos para cada indivíduo, chamados de assobios-assinatura. A descoberta foi feita no Arquipélago de Revillagigedo, no México, e publicada na revista científica Marine Mammal Science.

“Escolhemos estudar os golfinhos nessa região porque é uma área protegida, um arquipélago de exuberante e rara vida marinha, sem nenhuma publicação científica anterior acerca de sua população de golfinhos, absolutamente desconhecida para a ciência”, explica Raul Rio Ribeiro, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e coordenador da ONG.

Os golfinhos-nariz-de-garrafa ficaram famosos por conta de um seriado dos anos 60 e ficaram conhecidos como ‘flipper”, nome do animal que era protagonista da série. Vivem em águas tropicais e temperadas de todo o mundo e são ameaçados de extinção pela captura acidental em redes de pesca, degradação do seu habitat, e também pela poluição química e sonora.

O veterinário Raul Rio Ribeiro conta que esse sinal acústico importante na ecologia desses animais jamais havia sido registrado em golfinhos oceânicos (Foto: Divulgação)

Para captar os sons dos animais, Ribeiro passou uma semana em um navio com outros12 mergulhadores. Durante a coleta de informações, o hidrofone registrou mais de 63 horas de gravação e 233 assobios de golfinhos. Destes, 98 foram identificados como assobios-assinatura, que, segundo Ribeiro, podem ser comparados aos nomes de pessoas. Além de identificarem o animal, os assobios únicos revelam a exata posição do golfinho e, potencialmente, o estado emocional de quem o emite.

“Esses assobios-assinatura são sinais acústicos individualizados que chegam a representar mais de 50% dos assobios de golfinhos costeiros e, agora com nossa pesquisa podemos afirmar, dos oceânicos também. O golfinho desde jovem cria esse som com base em sua perspectiva social e o emite como forma de manifestar sua identidade, mas não apenas isso. É um sinal acústico com modulações de frequência únicas, o que é fundamental na ecologia de animais sociáveis, gregários, acostumados a desempenhar suas atividades rotineiras de maneira coordenada e cooperada”, afirma Ribeiro.

Liliam Hoffmann, especialista do departamento de genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que participou do estudo, explica que o som é muito importante na comunicação dos golfinhos, e faz com que os animais se reconheçam uns aos outros.

“A espécie de golfinho nariz-de-garrafa possui uma sociedade extremamente complexa, e os sons que eles emitem fazem parte dessa complexidade. É sabido que essa espécie possui uma extrema flexibilidade comportamental e ecológica, e estudos de bioacústica parecem estar revelando que esta capacidade adaptativa ocorre em níveis ainda mais elaborados, refletindo-se diretamente na comunicação acústica da espécie”, afirma ela.

Fonte: Um Só Planeta

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