Seca extrema faz cidade de 3,4 mil anos emergir do Rio Tigre, no Iraque
Arqueólogos acreditam ter localizado no reservatório de Mosul o antigo assentamento de Zakhiku, submerso há décadas na região do Curdistão iraquiano
Uma cidade de 3,4 mil anos emergiu das águas do reservatório de Mosul, no Rio Tigre, devido a uma grave seca que atingiu o Iraque. O assentamento foi explorado por arqueólogos, que acreditam ter descoberto a antiga Zakhiku, um importante centro do Império Mittani (1,5 mil a 1,3 mil a.C.).
A descoberta foi divulgada nesta segunda-feira (30), por uma equipe da Universidade de Tübingen, na Alemanha. Para evitar que a seca destruísse as colheitas locais, grande quantidade do reservatório de Mosul começou a ser utilizada em dezembro de 2021. Quando os níveis de água abaixaram rapidamente no início de 2022, foram revelados vários edifícios e um palácio.
Localizada em Kemune, na região do Curdistão do Iraque, Zakhiku data da Idade do Bronze, mas foi submersa há décadas. Entre janeiro e fevereiro de 2022, os pesquisadores tentaram escavá-la ao menos em partes antes que a cidade pudesse ser coberta pelas águas novamente.
A equipe arqueológica germano-curda mapeou amplamente a área, identificando o palácio, já documentado em 2018. Também havia outros grandes edifícios, incluindo uma enorme fortificação com muros e torres, um prédio de armazenamento de vários andares e um complexo industrial.
Para Ivana Puljiz, arqueóloga que faz parte da equipe, o grande local de armazenamento apresenta uma certa relevância. Ela afirma em comunicado que o edifício “é de particular importância porque nele devem ter sido armazenadas enormes quantidades de mercadorias, provavelmente trazidas de toda a região”.
As paredes da cidade estavam bem preservadas. Isso impressionou a equipe, considerando que essas estruturas eram feitas de tijolos de barro secos ao sol e estavam submersas por mais de 40 anos. A boa conservação aconteceu possivelmente pois Zakhiku fora destruída em um terremoto no ano 1350 a.C., quando o desmoronamento das partes superiores de suas muralhas enterrou os edifícios.
Outro achado impressionante foram vasos de cerâmica com mais de 100 tábuas cuneiformes dentro deles. Os objetos são do período assírio médio, logo após o terremoto.
“É quase um milagre que tabletes cuneiformes feitos de argila crua tenham sobrevivido tantas décadas debaixo d’água”, comenta o arqueólogo Peter Pfälzner.
Os pesquisadores esperam que o achado forneça informações importantes sobre o fim da cidade e o início do domínio assírio. Para evitar danos trazidos pelo Rio Tigre, os edifícios foram cobertos com lonas plásticas e cascalho. O projeto de conservação, financiado pela Fundação Gerda Henkel, busca proteger as paredes de barro não cozido e quaisquer outros achados ainda escondidos nas ruínas.
Fonte: Revista Galileu