Como a extinção de línguas indígenas pode afetar o conhecimento sobre plantas medicinais
Com o passar do tempo, não só as línguas, mas a cultura indígena sofre um extenso processo de não valorização, o que ocasiona sua extinção e, com isso, a perda de conhecimentos
A linguagem é essencial para estabelecimento da comunicação. É por meio dela que o ser humano consegue se comunicar com os demais, expressar ideias, emoções e realizar os mais diversos tipos de diálogos. E as línguas são um dos fatores que permitem a transmissão de conhecimento ao longo dos séculos de diferentes áreas, além de perspectivas em relação ao mundo.
Pode-se dizer que as ‘línguas-mães’ do Brasil são as línguas de origem indígena. Apesar disso, a língua oficial do País é a língua portuguesa, fortemente influenciada por Portugal durante o período de colonização que iniciou a partir do século XVI.
No entanto, com o decorrer do tempo, não só as línguas, mas a cultura indígena como um todo, tem sofrido um extenso processo de não valorização, o que ocasiona a extinção das mesmas. Como dito anteriormente, a extinção das línguas indígenas foi uma importante ferramenta utilizada pela Coroa Portuguesa para subjugar os povos indígenas que já viviam no território.
Em meados do século XVIII, o ‘português’ passou a ter status de língua oficial do país. Havia a proibição de que se falasse qualquer outro idioma que não ele. No entanto, mesmo assim, o tupi ainda era bastante falado nas ruas, inclusive pelos jesuítas.
É fato que nos saberes medicinais das populações indígenas estão muitos fitoterápicos. A fitoterapia consiste no tratamento ou prevenção de doenças com o uso de plantas. Atualmente existem 97 línguas indígenas em vulnerabilidade no Brasil dentre 190 línguas registradas pela Unesco. A extinção dessas línguas pode afetar o conhecimento que se tem acerca das plantas medicinais.
O projeto Ethnologue avalia que 42% das mais de sete mil línguas existentes no mundo estejam ameaçadas de extinção. No Brasil, são 99 os idiomas que estão morrendo, sem contar aqueles que já desapareceram. Segundo o Instituto Socioambiental, das mil línguas indígenas faladas em território brasileiro antes da chegada dos portugueses, apenas 160 ainda estão vivas.
Nesse sentido, especialistas alertam para o fato de que a extinção de línguas indígenas levará consigo conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais e isso poderá diminuir as chances de descoberta de futuros medicamentos.
Considerando que a tradição indígena conta com a oralidade para a transmissão de conhecimentos entre gerações, a extinção destas línguas leva também muitos conhecimentos. Diversos medicamentos hoje comercializados em larga escala no mundo são elaborados a partir de plantas medicinais. Eles vão desde o ácido acetilsalicílico, conhecido popularmente como aspirina, com seu princípio ativo extraído do salgueiro (Salix alba L.) até a morfina, extraída da papoula (Papaver somniferum).
Google Tradutor adiciona o Guarani
Algumas iniciativas de catalogação e revitalização das línguas desempenham papel fundamental na preservação dessas línguas. Em maio de 2022, o Google anunciou que a ferramenta Tradutor conta com acesso a novas 24 línguas.
Um dos novos idiomas é o Guarani, que é originalmente da população indígena da América do Sul e ainda falado pela etnia tupi-guarani em países como o Brasil.
O recurso de tradução também poderá identificar palavras e frases em bambara (Mali), concani (Índia), Sepedi (África do Sul) e Twi (Gana), tudo graças aos avanços em modelos neurais de inteligência artificial.
Fonte: Portal Amazônia