Jovens criam o primeiro teclado digital para línguas indígenas amazônicas

Software contempla caracteres especiais e diacríticos de mais de 40 línguas indígenas da região

Dois estudantes amazonenses de 18 e 17 anos assumiram um compromisso e tanto: criar do zero o primeiro e único software que reúne caracteres especiais e diacríticos de mais de 40 línguas indígenas da Amazônia.
Batizado de Linklado, o teclado digital é um projeto independente de Samuel Benzecry e Juliano Portela, que perceberam a dificuldade de escrever um artigo em língua indígena ao representarem a escola na Olimpíada Internacional de Linguística.

Diante da dificuldade de transcreverem do papel para o digital, os jovens prodígios de Manaus (AM) desenvolveram um protótipo de teclado inclusivo em apenas um dia. E não demorou muito para que chamassem a atenção de pesquisadores. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), por exemplo, assumiu a consultoria técnica e mapeou as línguas nativas mais ameaçadas na região.
Disponível para o Windows e dispositivos androides, o Linklado abraça diversas línguas indígenas, mas especialmente a Tïcuna (ou Tïkuna), que é falada por aproximadamente 40 mil pessoas no Brasil, Peru e Colômbia.

“Aparelhos androides podem ser postos na língua Kaingang ou Nheengatu, mas isso não resolve o problema de línguas que utilizam sinais diacríticos como ü̃, muito usado na Tikunal”, afirma Samuel, que agora cursa estudos da terra na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.



O projeto inovador de Samuel e Juliano surpreendeu a bióloga, doutora em recursos naturais e também professora Noemia Kazue Ishikawa, que já há alguns anos vinha tentando mudar o cenário de inclusão e educação dos povos indígenas amazonenses. Noemia fez a ponte dos alunos com o Instituto e a colega pesquisadora Ana Carla Bruno, que acabou abraçando o projeto.

“É um instrumento de poder nas mãos dos povos indígenas, tendo em vista que agora eles poderão produzir seus próprios textos, histórias e narrativas”, explica a antropóloga e linguista.

Samuel Benzecry reforça que no Amazonas existem mais de 52 línguas vivas e elas fazem parte de uma riqueza linguística que sofre graves ameaças.

“A lenta morte de várias dessas línguas causada por glotocídio [marginalização de uma língua em favor de outra] resulta no desaparecimento gradual e genocídio”.



Como funciona
Nos aparelhos Android, o Linklado substitui o teclado padrão do dispositivo com uma versão alterada que inclui os caracteres especiais, além de uma tecla que contém todos os diacríticos, que podem ser adicionados à letra anterior. Por exemplo, primeiro digita-se a letra ʉ, depois clica-se sobre a tecla com o diacrítico, produzindo, então, ʉ̀.
Já no Windows, o sistema introduz uma pequena janela que permanece sobre a tela, somente com os caracteres especiais e os diacríticos. Dessa maneira, o usuário consegue utilizar o teclado comum junto com o software do Linklado.

Fonte: Um Só Planeta