Dia da Amazônia: da biodiversidade ao aquecimento global
Neste Dia da Amazônia, para muito além do vasto território, em todos os aspectos de sua biodiversidade ameaçada, o bioma deve ser tema de primeira ordem na política
A Floresta Amazônica é reconhecida há muito tempo como um grande repositório de fauna, flora, conhecimento tradicional e cultura, não apenas para tribos e comunidades locais, mas para o mundo inteiro. Não há nada que se compare à maior e mais diversa floresta tropical do mundo em termos de tamanho e diversidade.
Embora a crise na Amazônia seja uma preocupação primordial para as comunidades dos países cujo território o bioma abrange — distribuído entre Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela e Brasil — a preocupação com sua proteção, cuidado e bem-estar também são, ou deveriam ser, motivo de interesse global prioritário. Afinal, conservar a Amazônia é preservar uma parte crucial do apoio da natureza à vida no Planeta.
Talvez o papel secundário relegado à proteção da Amazônia nos discursos de candidatos que disputam cargos para as eleições que se avizinham no Brasil transpareça outra noção. Mas a realidade é que a luta contra o desmatamento, a degradação e a perda de biodiversidade, que podem ter efeitos irreversíveis, deveriam despertar profundo interesse nacional.
É igualmente importante que a política nacional contribua para a promoção de uma economia baseada em conhecimento e serviços, em vez de expandir o modelo extrativista. Valorizar os serviços ecossistêmicos alinhados à inovação tecnológica e ao conhecimento tradicional deveriam ser grandes focos do Brasil, para que pudéssemos estabelecer novos negócios que promovam a sociobiodiversidade da Amazônia.
A biodiversidade amazônica também desempenha um papel crítico como parte dos sistemas globais, influenciando o ciclo global do carbono e, portanto, as mudanças climáticas, bem como os sistemas hidrológicos hemisféricos, servindo como uma âncora importante para o clima e as chuvas da América do Sul.
Protagonista contra o aquecimento global
À medida em que as florestas queimam e o aquecimento global piora, o impacto do desmatamento da Amazônia continua a desfazer gradualmente os frágeis processos ecológicos que foram refinados ao longo de milhões de anos. Ironicamente, à medida que a floresta tropical continua a ser devastada, com maior impacto nos últimos anos, o trabalho de cientistas ganha reforço, lançando luz sobre os laços críticos que ligam a proteção do bioma à preservação do restante do mundo.
As árvores têm atributos ocultos que desempenham um papel fundamental na redução dos níveis de poluentes: por exemplo, o dióxido de carbono (CO₂), um gás emitido por fontes naturais e humanas. Ao longo dos últimos 150 anos, os humanos têm bombeado grandes quantidades de CO₂ para o ar por meio da queima de combustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás natural — este é um dos principais impulsionadores da crise climática global.
Embora a Amazônia não seja o pulmão do mundo, como tanto se difunde — já que, na verdade, consome quase todo o oxigênio que produz — sua importância para nossa qualidade de vida não pode ser subestimada. Em condições naturais, as plantas removem o CO₂ da atmosfera e o absorvem para a fotossíntese, um processo de criação de energia que produz oxigênio, que é liberado de volta no ar, e carbono, que permite que a planta cresça.
O que as florestas tiram do ar também podem devolver. Quando árvores e vegetação queimam, o carbono das árvores é liberado na forma de CO₂, que polui a atmosfera e que já existe em excesso. Assim, sem florestas tropicais, o efeito estufa provavelmente seria ainda mais pronunciado, e as mudanças climáticas podem piorar ainda mais no futuro. O avanço da destruição da floresta Amazônica é uma ameaça à biodiversidade do Planeta, agravando ainda mais o aquecimento global. Manter esse bioma afastado das políticas públicas é ignorar a necessidade, urgente, de mais ação para preservar a vida que pulsa na Amazônia.
Rumo ao desenvolvimento sustentável
Durante o Congresso Mundial de Conservação, promovido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), realizado em outubro de 2021 em Marselha, na França, os países participantes propuseram uma declaração de prioridade global para a conservação da Amazônia. No documento, explicam que, considerando que o bioma abriga 10% da biodiversidade mundial e armazena 86 bilhões de toneladas de carbono — que, se liberadas para a atmosfera, representariam 315 pentagramas (Pg) de CO₂, ou equivalente a 10 anos de emissões globais atuais — a Amazônia está severamente ameaçada.
A IUCN propôs uma declaração global atestando que a região precisa de atenção prioritária para conservação e prevenção de incêndios, devido aos benefícios globais e locais que proporciona no combate às mudanças climáticas, proteção da biodiversidade e garantia do desenvolvimento sustentável.
“Solicitamos que os países que compartilham a Bacia Amazônica tomem as medidas necessárias e criem políticas públicas compartilhadas para que as florestas e os ecossistemas aquáticos da Amazônia e os bens e serviços por eles fornecidos sejam resguardados além das fronteiras dos países abrangidos, incluindo políticas que incorporem ações específicas e urgentes para a prevenção de incêndios, bem como para a conservação efetiva e uso sustentável dos recursos de forma integral e com enfoque territorial, incluindo o conhecimento tradicional dos povos indígenas”, destacou o documento.
Povos indígenas e a Floresta Amazônica
Esse mosaico de paisagens ricas e diversificadas, afetado por um cenário desolador de descaso, também abriga mais de 30 milhões de pessoas, incluindo 2,7 milhões de indígenas representando aproximadamente 400 etnias indígenas diferentes, conforme o Ipam, com cerca de 60 grupos conhecidos vivendo em isolamento voluntário.
Para especialistas, é essencial garantir e proteger os direitos fundamentais dos povos indígenas e comunidades tradicionais na Amazônia, bem como proteger as florestas e outros ecossistemas naturais, designando-os para conservação e uso sustentável.
Também é fundamental fornecer meios e recursos para que as comunidades locais fortaleçam a capacidade de gestão de suas terras e do meio ambiente em geral, para garantir meios de subsistência dignos e sustentáveis e, ao mesmo tempo, promover sua participação no processo de tomada de decisões de estratégias e soluções para o desenvolvimento da Amazônia.
Ao ajudar a evitar o desmatamento, os povos indígenas desempenham um papel fundamental na proteção da biodiversidade e na luta global contra as mudanças climáticas.
Fonte: Um Só Planeta