Cultura

A era do ressentimento

Por Mário Vieira

E aos poucos, de forma lenta
E paulatina, sem percebermos
Ou nos darmos conta, entramos
Na era do ressentimento e do
Mal-estar contemporâneo

Nos isolamos e nos apossamos
Da verdade absoluta, passamos
A julgar, a ofender, a praguejar
E nos cancelamos sem cessar

Nos encastelamos na vã ilusão
Da posse, nos separamos e nos
Dividimos em classes, povos, raças,
Idades e religiões, ingressamos nas
Caixas, nos refugiamos nas bolhas
E nas casamatas do conforto e da
Matéria

Passamos a negar a ciência e demos
As costas à razão, nos transformamos
Em especialistas do Facebook, do Twitter,
Do Instagram e do Telegram

Seguimos as modinhas e as tendências
Dos influenciadores de plantão, paramos
De ler os clássicos, de investigar, de pensar,
De fazer poemas e de filosofar, bloqueamos
Quem pensa de forma diversa e lacramos
O tempo todo, o dia inteiro sem parar

A impressão que se tem é que o que mais
Importa agora é sair bem na foto e se dar
Bem a qualquer custo, o melhor é estar bem
Na fita, pagar de patrão, ter o corpo sarado,
O melhor sorriso, a maior bunda e o peitão
Siliconado, beijar na boca o tempo todo, pegar
Todos e todas, sem romantismo ou paixão

E nesta batida louca, parece até que viramos
Itens de consumo, de likes, de curtidas, viramos
Números, consumidores, nos precificamos, vamos
Seguindo o fluxo e nos esfriamos sem perceber,
Em doses homeopáticas, entre gotas de vinagre
E pitadas de sal a gosto, de cinismo e de sarcasmo
social

De repente, detemos muita informação sem termos
A noção básica ou a sabedoria fundamental para lhe
Dar com estas ferramentas, usamos mal esta fonte
Fecunda de recursos, nos atrapalhamos, fazemos nudez,
Pornografia e nos agredimos, mutuamente,
O tempo inteiro sem pensar

Praticamos uma fé cega e não raciocinada, a fé de
Mercado, a fé customizada, instigamos a violência,
A separatividade, a xenofobia, o preconceito e a
Intolerância generalizada, espalhamos fake news e
Depois vamos à igreja comungar

E, assim, gradualmente, sem nos darmos conta
E nos mesmos moldes do que se deu no início
Do século passado respiramos e destilamos um
Ódio insano e a vontade louca de fazermos mais
Uma guerra fratricida, vamos a missa, destruímos
O planeta, esquecemos o evangelho do Cristo e
Compramos armas sem parar

Mais uma vez a loucura da cobiça, sob a égide do
Medo, do egoísmo, do orgulho, da ganância e da
Ignorância estendem suas longas asas sobre nós e
Como num voo cego e raso, ensaiamos um breve
“Déjà-vu” pelo medievo

Praticamos os mesmos erros do passado, guiados
Pela ira burra e egoística que assombra, espreita e
Que acossa o nosso inconsciente coletivo que mais
Uma vez, sem perceber ou se dar conta, busca a
Destruição em massa, a separação e a guerra

Oxalá, eu esteja errado e que Deus nos proteja a
Todos e nos devolva, urgentemente, o poder da paz,
Do amor e da razão e que sejamos enfim, cada um
De nós a paz que queremos no mundo

(Direitos autorais reservados)

José Mário Vieira
Capixaba, casado, autor e advogado
Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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