Política

Conjuntura política. O que chama a atenção nas eleições de 2022

“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”, Platão

Por José Nivaldo Campos Vieira

Vozes diversas tratam o pleito eleitoral de 2022, em especial em relação ao nome que será escolhido para governar nosso País nos próximos quatro anos, como sendo muito “confuso”. Será? O que se chama hoje de “polarização”, constitui algo novo no cenário político brasileiro, inexistente até então. Em um sentido mais amplo, seguramente, muito salutar.

Ao longo de anos seguiu-se a velha cartilha, conveniente para quem se locupletava da situação, que sentenciava, preconizando um maléfico senso comum: “futebol, religião e política não se discute”. Ora, como assim? De maneira insidiosa, deliberadamente, foram nivelados três temas, de aspectos, características e realidades distintos e, sobre eles, se afirmava: “estão postos, estão prontos” … “são assim, são como são” … e, portanto, tais temas, não devem ser objeto de debates, discussões.

Não é bem assim. Vejamos. Em relação ao futebol, paixão nacional entre uma parte significativa dos brasileiros, tem-se a opção de gostar ou não gostar. Em gostando, há times, agremiações, camisas, para todos os gostos. Por sua vez, religião, do latim “religare”, no sentido de religar, de retorno à origem, pressupõe uma profissão de fé, uma crença no transcendente. Há sim, opções diversas, que devem sim, ser respeitadas.

A opção de torcer para esse ou para aquele time de futebol; a opção de praticar, de seguir à essa ou àquela religião; respeitados os princípios fundamentais da saudável convivência social, efetivamente não deve ser objeto de discussão. Cada um tem a sua escolha… Agora, POLÍTICA, na acepção mais pura da palavra, a “arte ou ciência que cuida da coisa pública”, e como tal, em uma sociedade, direito e responsabilidade de todos, deve sim, ser discutida, AMPLAMENTE.
Aliado à maléfica afirmação no sentido de que a ciência que cuida dos destinos de nosso País não deveria ser objeto de “discussão” (debates, contraposição de ideias, busca de aprimoramento, busca de melhorias…), cunhou-se, espalhou-se e foi assimilado amplamente pela sociedade brasileira, outra ideia igualmente perversa: a de que POLÍTICA é coisa “suja”, a de que, quem atua nesse campo, o POLÍTICO, representada o é “venal”, o que é “desonesto”.

Sustentados nesses pressupostos corrosivos, por décadas, parte significativa da sociedade brasileira, sem medo de errar, sua esmagadora maioria, afastou-se das discussões em torno da POLÍTICA. E isso, sem dúvida alguma, representou um custo muito alto para a sociedade e para os destinos de nosso País. E o que aconteceu?

Platão, no Século V a.C. afirmou: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Eles simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.

O processo eleitoral de 2022, cujas eleições gerais, em primeiro turno ocorrido no dia 02 de outubro, de forma salutar, ordeira, pacífica, evidenciou a escolha para a composição dos membros das nossas duas casas legislativas federais, o Congresso Nacional. No curso do processo eleitoral, o ato final e derradeiro, está previsto para ocorrer no próximo domingo, dia 30 de outubro, evidenciará o destino que queremos para o nosso Brasil.

Os que reclamam da amplitude do nível de discussão no conjunto da sociedade, os que reclamam do “barulho” decorrente dessa discussão ampliada, parecem “saudosistas” em relação ao baixo (limitado, quase que exclusivo) nível de participação do conjunto da sociedade que existia, e que hoje, definitivamente, foi mudado.

Assustou àqueles que se beneficiavam do velho formato, desafetos da nova matriz de comunicação: a de formato digital, em especial, as “mídias sociais”. Estas, com os seus defeitos (quem não os têm) propiciaram um componente novo em relação à possibilidade de comunicação. Retiraram elas o monopólio consolidado por décadas, da comunicação “UM para TODOS” (centralizada nas grandes mídias, nas grandes redes de comunicação) fazendo nascer o modelo da comunicação “TODOS para TODOS”.

Renasceu a “Ágora”. As comunicações digitais, as “mídias sociais” fazem ressurgir no terceiro milênio o formato com o qual se consolida a DEMOCRACIA (Governo do Povo) na Grécia Antiga, século V a.C. Era na “Ágora” (praça pública) que ocorriam as reuniões onde os gregos discutiam assuntos ligados à vida da cidade (“polis”). Nelas, debatiam (de forma seguramente barulhenta) e decidiam temas de seus interesses, ligados a justiça, obras públicas, leis, cultura, etc. Os cidadãos discutiam e decidiam através do VOTO DIRETO.

Comunicações digitais. Barulhentas, instantâneas… “mídias sociais” … Modelos de democracia em claro processo de transformação: o formato (i) “REPRESENTATIVO” (via os desgastados “partidos políticos”); o formato (ii) “PARTICIPATIVO” (via os também desgastados sindicatos, associações de classes, ONGs…), dando espaço para o novo formato, a (III) DEMOCRACIA DIRETA.

As, por muitos atacadas, “MÍDIAS SOCIAIS” constituem as “ÁGORAS” do terceiro milênio. Gostem ou não, vieram para ficar. Vamos ver …

José Nivaldo Campos Vieira
Advogado, formado em Filosofia,
coronel da Reserva da PMES e
empresário da área de segurança privada
nivaldo@seiinteligencia.com.br

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