Cultura

O papel das vozes negras na literatura infantojuvenil

É fundamental que as editoras, pequenas e grandes, garantam espaço para a cultura afro-brasileira nos seus catálogos e que educadores e famílias incentivem a leitura dessas obras

No mês da Consciência Negra é importante discutirmos a presença tímida, mas crescente, das literaturas negras no mercado editorial brasileiro, sobretudo infantojuvenil, e como esse movimento pode ser uma mola propulsora para práticas mais inclusivas nas escolas, em casa e na comunidade.

Também como educadores e familiares comprometidos com a formação de pequenos leitores e dos estudantes, devemos observar a pluralidade de vozes literárias presentes em nosso País e buscar atitudes que favoreçam práticas e reflexões antirracistas.

É inegável que há um movimento das grandes editoras nos últimos anos em lançar escritores e escritoras negros e negras — e, também, indígenas — acompanhando os anseios da sociedade, os movimentos por equidade racial em todos os ambientes e, também, a legislação.
No Brasil, as leis n. 10.639, de 2003, e 11.645, de 2008, que alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), foram importantes para introduzir o ensino das relações étnicas, da história e das culturas indígenas, africanas e afro-brasileiras nas escolas.

Com a aprovação dessas leis houve um aumento perceptível na produção literária com estas temáticas, sobretudo infantojuvenil, com vistas à adoção nos programas de governo. Mas esse movimento vai muito além do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), com as editoras, pequenas e grandes, ampliando, ainda que paulatinamente, mas com constância, o espaço para a voz autoral dos escritores negros brasileiros e internacionais. Destaco ainda o espaço, importante, que as livrarias também têm oferecido para essa literatura.

Na FTD Educação, por exemplo, destacaria a parceria inédita firmada este ano com a agência literária internacional Accord Literary, especializada em autores emergentes de países como Gana, Togo, Nigéria, Quênia e Zimbábue, com o objetivo de apresentar escritores africanos aos leitores brasileiros e divulgar a arte e a cultura da África. O primeiro resultado dessa parceria é o lançamento do livro da autora ganense Ruby Goka, o romance juvenil Mesmo quando sua voz falhar.

Ruby Goka (Foto: Divulgação)

Na literatura brasileira, não poderia deixar de citar o premiado escritor negro Edimilson de Almeida Pereira, autor de várias obras literárias para adultos e crianças e de diversos estudos sobre a cultura popular brasileira. É dele o livro de poesia infantil Cada bicho em seu canto, ilustrado pelo artista gráfico Edson Ikê, recém-lançado pela FTD Educação.

Edimilson de Almeida Pereira (Foto: Divulgação)

Para finalizar, deixo para educadores, gestores educacionais e famílias a reflexão que a educadora negra Luciana Gomes trouxe em entrevista para o projeto Cultivando Leitores, da FTD Educação: “A escola, como espaço democrático do conhecimento, é o terreiro onde se podem fortalecer e auxiliar as construções identitárias desde as primeiras infâncias”.

Oferecer literatura considerando os aspectos étnico-raciais é um caminho para que o racismo infantil não continue um fator segregador entre crianças negras e brancas.

Fazer escolhas literárias nas quais haja presenças negras, considerando estética e contexto, contar nossas narrativas e construir lugares para que as crianças contem as suas são pequenas ações para desconstruir o estigma que tenta etiquetar nossa imagem enquanto pessoas negras.

A partir desta reflexão, fica claro que a literatura produzida por escritores negros pode ser uma importante ferramenta para a educação antirracista e para melhorar a sociedade como um todo. É nosso papel, como editoras, educadores, escolas e famílias ajudar a criar os espaços e as ferramentas adequadas e necessárias para essa construção social.

Fonte: Revista Educação

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