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O Dia da Consciência Negra no Brasil

Nosso Café Coado vem destacar um dia importante para nós, brasileiros e brasileiras. É o Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro. Lembro-me o quanto esta data incomodou um internauta que me interpelou na rede depois de ver uma postagem minha a respeito do assunto. Afinal, ele não entendia o porquê havia um dia da consciência negra. Dizia que era para ter um dia da consciência humana, independentemente da raça ou da cor. Refleti atentamente sobre o assunto. Afinal, o que poderia estar incomodando tantas pessoas o fato de ter um dia dedicado a uma etnia que marca a nossa história e a nossa cultura?

Cheguei a dialogar com meu interpelante internauta. Disse-lhe que era um dia dedicado para que pudéssemos reconhecer as contribuições desse povo que foi escravizado e também de seus descendentes, libertos ou não. Trazia a pretensão de reconhecer quais são os elementos trazidos de sua cultura que acabaram incorporados à nossa e que hoje compõem as tradições do Brasil.

Deveríamos procurar compreender como chegamos até aqui e reconhecer os negros como partícipes dessa construção e, como tal, legítimos herdeiros destas, por assim dizer, benfeitorias sociais.
O que eu não conseguia entender é que o fato de haver um Dia do Índio, comemorado no dia 19 de abril, não chegava a gerar o mesmo incômodo nas pessoas. Talvez porque, confinados em determinados espaços, os índios continuem invisíveis, quase que folclóricos no imaginário popular. Talvez porque a negritude ainda resista e reivindica deixar as senzalas, hoje representadas pelas periferias, como na gravura cravada na parede do Centro Cultural Eliziário Rangel.

Beco do Batman (Foto: Arquivo pessoal)

Esta semana estive no Beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo e esse assunto me voltou à lembrança. Sempre tive vontade de conhecer aquele local repleto de cultura urbana, com suas cores, com sua arte e com sua dor.
Entre as muitas fotos que tirei nos retratos da arte em grafite, destaquei esta, cuja história grita aos meus ouvidos. Num dia do mês de novembro de 2020, as figuras multicoloridas do Beco do Batman foram substituídas pela cor preta. A preta cor do luto daquela comunidade. A preta cor dos jovens excluídos e assassinados por este Brasil a fora. A preta cor da pele do artista assassinado. A preta… o preto… que não quer mais ser invisível, em sua cor, em suas características étnicas, em sua cultura, em sua arte, em seus talentos, em seu empoderamento, em seu reconhecimento como partícipe na construção de nossa história, de nossa riqueza.

O Dia da Consciência Negra, instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 2011 nos convida à reflexão e nos exige a responsabilidade de nos juntarmos nesta luta de enfrentamento ao racismo e de reconhecimento da importante contribuição dos negros para as diversas riquezas de nosso País. O dia 20 de novembro é, assim, o dia tomada de consciência dessa contribuição e uma reivindicação por esse reconhecimento.

Eu sou branca, não senti o peso de ver meu filho ser discriminado por sua cor. Não, eu não posso sentir essa dor. Essa dor é única da mãe que vê as pessoas trocarem de lado da rua quando avistam seu filho. Eu posso ser empática, solidária, mas essa dor eu não sinto. Essa dor é dela. É uma dor solitária e cortante. Não posso falar deste ponto de fala, mas posso ecoar a voz daqueles que ainda hoje clamam e lutam por liberdade. Liberdade para trabalhar, para ter voz, para andar na rua, para ter acesso aos serviços públicos e privados com dignidade, para viverem plenamente, porque plena deve ser a vida de todo ser humano!

Pela vida do Nego da Vila, Nego do Beco, Nego do Morro, Nego da Favela e outros tantos Negos anônimos no Brasil é que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. E ser antirracista é juntar-se às inúmeras pessoas que lutam para que os negros possam ocupar todos os espaços sociais com dignidade.

Gracimeri Gaviorno

Gracimeri Gaviorno

Delegada de polícia; mestre e doutora em direitos fundamentais; professora; Instrutora e mentora profissional para lideranças E-mail: colunacafecoado@gmail.com

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