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Tragédia em Aracruz

Jardim da Penha, Colatina e Aracruz não são casos isolados. Alertados, somos chamados a agir para prevenir!

Ah, Aracruz!!! Município que, por sua beleza, já foi objeto de inspiração de meus versos, amanheceu em luto na semana que passou. E foi no dia 25 de novembro, dia este destacado para a reflexão da Não Violência contra a Mulher, que mulheres foram mortas em escolas da pacata Coqueiral de Aracruz.

E se a escola é o ambiente de produção do conhecimento podemos dizer que é também o ambiente em que mais temos profissionais do sexo feminino trabalhando. Tanto que foram elas as principais vítimas. Todos nós amanhecemos assustados e incrédulos diante do ataque às duas escolas no Município de Aracruz. Era inacreditável que isso poderia ocorrer aqui tão pertinho.

A tragédia já conta com quatro vítimas fatais e outras feridas, algumas em estado gravíssimo e correndo risco de morte. Queira Deus que elas possam superar física e psicologicamente todo este acontecimento!

Não conseguimos mudar o passado. Mas podemos escolher entre continuar chorando pelas vítimas de braços cruzados ou aproveitarmos para refletir sobre políticas públicas e sociais de prevenção, evitando que novas tragédias como essa voltem a ocorrer.
A princípio, temos que reconhecer que o episódio não é isolado e nem recente. Temos, infelizmente, outros casos registrados no Brasil e no Mundo. Com consequências menos graves, o próprio Espírito Santo registrou um episódio em uma escola em Jardim da Penha, no dia 19 de agosto deste ano. Em Colatina, no mesmo dia da tragédia em Aracruz, um adolescente de 15 anos esfaqueou com um estilete quatro estudantes em uma escola municipal.

Por isso, trazer para a reflexão as posições político-ideológicas que marcaram as últimas eleições no Brasil não ajudam na resolução do problema e acirram os ânimos, nos afastando do discurso e da efetiva ação de pacificação do País.

Podemos discutir a Segurança Pública sob diversos prismas: política armamentista, comercialização de armas lícitas ou ilícitas, patrulha escolar, saúde mental e livros. Entendo que, isoladamente, tais questões podem contribuir muito pouco. É preciso, todavia, discutir com mais profundidade cada uma delas e revelar a força de suas contribuições de forma conjunta. Sim, porque entre os muitos vieses nos quais a segurança se apresentar, um deles, e talvez o mais importante, é o de poder indicar estado de tranquilidade.

Se formos discorrer sobre cada uma das questões levantadas, daria uma série bem interessante. Vamos começar pela última sugestão: a dos livros. Trouxe aqui esse destaque porque a expressão “vamos trocar livro por armas” tem sido usada com muita frequência. As notícias dão conta de que a leitura fazia parte da vida do adolescente que atirou naquelas pessoas — e aqui não cabe indagar se as vítimas são inocentes ou não, já que no Brasil não há pena de morte.

Segundo informações divulgadas, o adolescente, por sugestão de seu pai, teve acesso ao livro Minha Luta, escrito pelo ditador nazista Adolf Hitler. Pois bem, então qual a sugestão? Censurar determinados livros? Quem seria responsável pela censura? Censura?

Bom, isso me fez lembrar da infância de meu filho, que sempre teve livre acesso às TVs abertas e a todo o seu conteúdo. Eu sabia que não poderia controlar o que ele assistia. Eu nunca seria onipresente em sua vida. Só me caberia refletir sobre o conteúdo acessado por ele. Por isso, sempre procurava saber como foi o seu dia e, a partir de suas respostas, fortalecíamos os valores que entendíamos ser importantes para uma sociedade segura. Sim, desde muito cedo eu e meu filho discutíamos sobre segurança.

O crescimento recente de ataques a tiros em escolas brasileiras tem levantado o debate sobre o País estar reproduzindo um cenário já visto nos Estados Unidos, de massacres em colégios (Foto: Picture-Alliance/DPA/A. Lacerda)

E, exatamente por isso, em uma de nossas conversas, dialogamos sobre os desenhos animados com cenas de lutas. Perguntei se aquela não era uma forma de estimular a violência em nossas práticas diárias. A partir dessa reflexão, ele decidiu que não mais assistiria a programas com cenas violentas.
Claro que nosso diálogo não impediu que ele tivesse acesso a conteúdos dessa natureza. Mas o levou a refletir sobre o assunto. Certa vez assistia a Power Rangers com o pai e foi certeiro ao falar: ‘Pai, acho que mamãe não gostaria de saber que estamos assistindo a isso. É muita cena de violência’. Outra vez, enquanto eu preparava o jantar, ele desligou a televisão e falou: ‘Mamãe, eu estava assistindo ao Linha Direta e aprendi muito’. Por se tratar de um programa que trazia informações sobre atuação policial em casos que envolviam violência extrema, indaguei o que ele poderia ter aprendido. Meu filho prontamente respondeu: aprendi tudo o que eu não devo fazer!

Não tenho fórmulas prontas nem sou a melhor mãe do mundo. Mas minha posição hoje neste café bem amargo diante dessa tragédia é provocar a reflexão não sobre as ferramentas em si, mas como elas podem ser utilizadas. Sobre o que temos conversado com nossos filhos? Com qual profundidade?

Gostaria muito de receber um feedback desses encontros regado a um bom Café Coado. Então, convido você que disponibilizou um pouco do seu tempo para esta leitura a me enviar um e-mail com críticas ou sugestões de matérias.

Gracimeri Gaviorno

Gracimeri Gaviorno

Delegada de polícia; mestre e doutora em direitos fundamentais; professora; Instrutora e mentora profissional para lideranças E-mail: colunacafecoado@gmail.com

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