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A história por trás da igreja indonésia em formato de galinha

Templo localizado na Indonésia chama atenção devido à sua arquitetura peculiar

Em uma noite de 1988, Daniel Alamsjah teve aquilo que descreveria depois como uma “visão divina”. O cristão fervoroso teria, logo após uma sessão de orações, visto uma colina adornada por um templo em formato de pomba. Tratava-se de um local de comunhão e harmonia, onde uma voz desencarnada lhe contou que pessoas de todas as fés se reuniriam para rezar.
O homem interpretou sua experiência como um chamado dos céus, e decidiu que precisava tornar aquilo realidade. Ele passaria os anos seguintes dedicando tempo e dinheiro ao imponente projeto.

O homem certo no lugar certo
Segundo informações repercutidas pelo The Guardian, pouco tempo após o episódio espiritual, Alamsjah acabou reconhecendo a colina de sua visão durante uma caminhada pela densa selva de Magelang, localizada na província indonésia de Java Central.
O homem visitava a região por um acaso: na época, trabalhava como gerente de uma empresa química, e, após um de seus funcionários não ter retornado de um feriado, viajou até a cidade natal do subalterno para verificar o que tinha acontecido.

Foi durante essa viagem que se deparou com o isolado terreno onde viria a instalar sua igreja. Ele não hesitou em adquirir o acre de terra no topo do isolado morro, uma negociação ocorrida apenas duas semanas depois. Antes que o edifício sagrado fosse materializado, todavia, o cristão precisou passar por uma verdadeira jornada burocrática de quatro anos junto ao governo do país para que tivesse permissão de erguer sua igreja.

Fotografia mostrando um dos espaços internos do local (Foto: Divulgação/Bukit Rhema)

Materialização de um sonho
Em 1992, o templo indonésio finalmente começou a sair do papel. Aliás, um detalhe curioso é que, embora não fosse familiarizado com a área da arquitetura, Daniel Alamsjah tomou em suas mãos a tarefa de projetar o templo a fim de que pudesse torná-lo o mais parecido possível com aquele de sua visão.
As linhas desenhadas pelo devoto foram traduzidas para concreto e tijolos com a ajuda de uma equipe de cerca de 30 pessoas gerenciadas por ele durante seus finais de semana. O portal Atlas Obscura repercutiu uma entrevista dada por um desses obreiros, Wasno, a respeito do formato final do edifício, que se tornou uma ave diferente da pretendida.

Na verdade, parecia uma pomba no começo. Mas então adicionamos a coroa. Daniel queria que simbolizasse a santidade, mas as pessoas pensavam que era uma crista de galo. Então eles começaram a chamá-lo de galinha em vez de pomba”, explicou ele.

Em 2000, todavia, o homem encontrou um obstáculo que nem mesmo sua dedicação e fé podiam ultrapassar: ele ficou sem dinheiro para financiar as obras, sendo assim obrigado a paralisar a construção antes que estivesse finalizada.

Uma galinha na selva

Fotografia aérea da igreja nos dias atuais (Foto: Divulgação/Bukit Rhema)

Uma ironia do destino, no entanto, fez com que Alamsjah voltasse a ter fundos para o projeto. Isso, pois, o formato peculiar de sua igreja começou a chamar atenção dos turistas viajando pela região (o Borobudur, maior monumento budista do mundo inteiro, ficava a um trajeto de apenas vinte minutos de carro da colina escolhida para a construção).
Assim, a abandonada igreja da galinha (ou “Gereja Ayam“, no idioma local), que é como ela foi apelidada por seus visitantes, começou a receber grupos de curiosos. Percebendo nisto uma oportunidade, Daniel Alamsjah designou um empregado para ficar no local cobrando uma taxa de entrada para aqueles que quisessem conhecer o templo.

Uma última reviravolta de eventos daria o empurrãozinho financeiro do qual ele precisava para retomar as obras — em 2015,  a imprensa internacional ouviu falar sobre o excêntrico templo, e, de repente, todos queriam ver o projeto.
Ainda segundo o Atlas Obscura, a igreja da galinha começou a receber inúmeros visitantes por semana.

Fiquei tão aliviado. Os moradores viram a popularidade do local e começaram a se beneficiar também [do turismo]”, teria relatado Alamsjah.

Hoje, a Gereja Ayam, um templo onde é bem-vindo o culto de todas as religiões, tem seu interior ricamente decorado, com cenas sagradas pintadas nas paredes e azulejos de pedraria adornando o piso. Existe ainda uma cafeteria para que os turistas façam uma refeição antes de deixarem o local.

Sabe, todo mundo dizia que eu era louco (…) Meus filhos ficaram muito bravos comigo. Eu tinha que continuar dizendo a eles, este não é o meu plano. Este é o plano de Deus. Já se passaram 30 anos e estou feliz por ter continuado — milhares de visitantes vêm todos os anos para orar ou refletir sobre suas vidas, e meus filhos finalmente respeitam o que conquistei”, relatou Daniel Alamsjah em 2018, ainda de acordo com o veículo.

Fonte: Aventuras na História

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