Cultura

A Menina e o Cavalo

Seus passos eram firmes, e em seu olhar um único objetivo a guiava

Em uma floresta branca, devido ao tapete de neve que a cobria, uma menina de dez anos caminhava por entre as árvores que balançavam ao sabor do vento. Seus passos eram firmes, e em seu olhar um único objetivo a guiava. Seus traços físicos eram indígenas, e em suas vestes, apenas pelos de animais a protegiam.

Ao caminhar em direção ao norte, ela ouviu um ruído que ecoou entre as montanhas. Foi um gemido de dor, um alarme de um sofrimento inocente, vindo de um animal. Seu coração pulsou mais forte. Isso a fez apressar os seus passos naquela direção. Sorrateira por entre as árvores, ao se aproximar, ela observou um homem de boa aparência, com vestes nobres, que maltratava o seu cavalo, a ponto de manchar a neve alva com o seu sangue. Era um mustangue, malhado em preto e branco.

A menina, revoltada com a atitude desprezível daquele homem, buscou ao seu redor qualquer coisa que pudesse usar para impedi-lo de prosseguir com tal brutalidade. Ao açoitar com firmeza o animal, o homem foi atingido por uma pedra, que o feriu próximo ao olho esquerdo. Assim que percebeu o ataque, ele desceu do cavalo e buscou à sua volta, com ódio, dizendo: — Quem está aí? Vou matar você!

Poema: 549 palavras
Autora: Silvia Vanderss
Título: A Menina e o Cavalo
Arte: Thais Alves

A ameaça não desmotivou a menina, que lançou outra pedra, que o atingiu nas costas. Ela correu e passou por ele, para instigá-lo. Atordoado, ele a seguiu, e logo percebeu que se tratava de uma criança. Entretanto, as suas intimidações persistiram contra ela, e ambos foram em direção a um lago congelado. A menina correu pelo gelo escorregadio, como uma isca viva, esperando por sua presa. Tal ação o deixou ainda mais nervoso. Contudo, depois de alguns minutos, ela decidiu parar e fixou seu olhar apenas nele. Confuso, ele não compreendeu a sua atitude corajosa, e sacou a sua arma, caminhando lentamente em sua direção. Apesar do ódio que os dois emanavam, o olhar dela era calculista e observador.

A poucos metros um do outro, a menina percebeu que ele não atiraria. Então, sem desviar a sua atenção dele, ela se abaixou e cravou uma faca no gelo. Foi somente um golpe, porém o suficiente para abrir uma fresta contínua e estreita, que se expandiu rapidamente até os pés dele.

Ao intuir as reais intenções da menina, ele atirou para acertá-la. Contudo, ela correu como uma lebre. O gelo se rompeu em uma fração de segundo. Fatalmente, ele foi sugado pelas águas gélidas, enquanto o seu corpo congelava. Por entre a abertura no gelo, ela se aproximou para vê-lo. Sem mencionar uma só palavra, a menina permaneceu ali, com os olhos fixos no homem que se debatia, erguendo os braços para ela. Entretanto, a menina não se moveu. Em sua feição obstinada, sequer demonstrou sentimento algum por aquela morte.

Minutos após, ela caminhou até encontrar o mustangue, que estava parado no mesmo lugar, à espera de seu dono cruel. Com cautela, ela se aproximou do indefeso animal, o acariciou, analisou as suas feridas e o abraçou. Seus olhos se encontraram em uma notória conexão. Ela retirou a sua sela e o montou, com respeito. A seguir, a menina e o cavalo prosseguiram para o norte, enquanto a neve tocava, singela, as suas faces e ofuscava os seus olhares altivos.

Silvia Vanderss

Silvia Vanderss

Autora capixaba, com formação em Administração e Letras Seis obras publicadas que abrangem os gêneros, romance, suspense e poesia Blog literário: www.silviavanderss.com.br

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