A Serra é o município que mais investe em educação? — Parte 2

O município que mais “investe” em educação, no caso a Serra, ocupa a vergonhosa colocação de 61º colocado no Ideb, com nota de 5,70

Dando continuidade à nossa reflexão sobre ser o município da Serra aquele que mais investe em educação, sem se desapegar da diferença básica entre investimento e gasto, onde o investimento é feito na visão de obter um resultado positivo, e gasto é apenas a aplicação do dinheiro sem a perspectiva de retorno, convoco os leitores para avaliarem comigo o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021.

Para aqueles que não sabem, o Ideb mede a qualidade e o desempenho das escolas públicas do País. Esse estudo é feito de dois em dois anos, de modo que a última avaliação foi aplicada em 2021, cujos resultados foram publicados em 16 de setembro de 2022. O Estado do Espírito Santo é dividido em 78 municípios e todos foram avaliados no Ideb.

O município que mais “investe” em educação, no caso a Serra, ocupa a vergonhosa colocação de 61º colocado no Ideb, com nota de 5,70. Com notas piores que a Serra restaram somente 17 municípios. Pequenos municípios como Domingos Martins, Governador Lindenberg e São Roque do Canaã ocupam a honrosa primeira posição, com nota de 6,80.

O mínimo que o Prefeito Municipal da Serra, junto com o corpo técnico que ocupa a Secretaria Municipal de Educação poderiam fazer é visitar esses municípios, para buscar soluções e respostas capazes de melhorar a nossa educação pública municipal. Isso para não falar em projetos mais audaciosos, que fossem capazes de mudar a realidade de nossas crianças.

O que me causa angústia é o fato de que o próprio dinheiro gasto em outdoors que levam desinformação para os cidadãos serranos, colocando a Serra em primeiro lugar no investimento em educação, deixa de ser investido no tratamento do grave problema da má qualidade da educação municipal.
A educação básica, como o próprio nome já diz, e é impossível fugir do óbvio, é responsável pela formação da pessoa. O aluno que não recebe uma educação básica de qualidade, no futuro vai ter grande dificuldade para concluir seus estudos, e principalmente para construir sonhos mais ousados na sua vida profissional.



É como uma construção cuja base não apresenta solidez. Não há como construir um empreendimento seguro e viável, sem uma base robusta e suficientemente capaz de suportar as cargas e pressões.
Eu sou fruto de escola pública, onde cursei primeiro grau em Vila Paulista e segundo grau em Barra de São Francisco. Por falta de qualidade na educação recebida, não consegui passar no meu primeiro vestibular. Precisei fazer um cursinho preparatório, vindo a obter a aprovação em 6º lugar na classificação geral do vestibular da Faculdade de Direito de Colatina.

Se depois de fazer o pré-vestibular eu consegui uma boa aprovação, certamente não fui aprovado na primeira tentativa porque não recebi uma boa educação básica. Nos tempos atuais, onde a tecnologia está ao alcance de nossas mãos, é bem mais fácil produzir um planejamento de ensino que melhore a qualidade da educação ofertada aos alunos.

O maior problema é que eu não vejo nenhum político apresentar qualquer projeto de estudo para mudança na qualidade do ensino. Quando muito, alardeiam que investem na educação, sabendo-se que na verdade estão apenas cumprindo determinação constitucional e legal.
Não resisto ao impulso de citar Lucas 17, verso 10, para declarar o que eu penso sobre os políticos que cumprem com suas obrigações legais e constitucionais, porém, nunca apresentaram um projeto capaz de mudar a qualidade do ensino de nosso município: “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que for ordenado, devem dizer: somos serviços inúteis; apenas cumprimos o nosso dever”.

Texto baseado em edição de A Gazeta On-line: https://www.agazeta.com.br/es/cotidiano/ideb-2021-as-cidades-do-es-com-melhor-e-pior-desempenho-nas-escolas-publicas-0922#:~:text=Com%20base%20nesses%20dados%2C%20A,Norte%2C%20com%204%2C2.