Primeiro Passo — Parte II
No meio da igreja, quando todos os olhares se voltavam para mim, eu retrocedi sem pensar. Apenas corri para o mais longe dali
Em poucos minutos, chegamos à porta da igreja. Cada banco de madeira estava lotado, repleto de parentes, vizinhos e até desconhecidos. A minha avó me posicionou na entrada da porta principal. Parei e senti o tremor do meu corpo, não somente das minhas mãos, mas também das pernas, e até o meu coração tremia de pavor em dar o primeiro passo. Mal consegui segurar as flores que me deram, um pequeno buquê de margaridas colhidas recentemente. O noivo esperava no altar pela sua noiva, pela mulher que deveria amá-lo pelo resto da vida, mas esta não era eu. Ele, com o dobro da minha idade, o dobro da minha vivência, possuía um aspecto fechado e sem luz. Preferia a morte do que dar esse primeiro passo.
Sentado à direita, na primeira fila, estava o dono do meu amor. Pude ver a incompreensão em seu olhar, ao me buscar aqui atrás. A música começou a tocar e minha avó fez um sinal para eu entrar lentamente. Eu era o centro das atenções, e até o padre me admirou. Contudo, de que adiantava juventude e beleza se os argumentos eram ignorados? Após o primeiro passo, senti uma falta de ar sufocante. O olhar daquele homem no altar destruía todas as minhas ilusões de menina.
No meio da igreja, quando todos os olhares se voltavam para mim, eu retrocedi sem pensar. Apenas corri para o mais longe dali. Ouvi gritos, e o meu nome ecoava pelas ruas como se fosse cantado por um coral. Eu não me importava! Apenas corri, para buscar um socorro que não existia em uma fuga desesperada até a montanha mais próxima. Sem muita demora, eu fui detida por dois cavalos e seus cavalheiros, que me cercaram. Pensei em escalar a montanha mais alta da região. Óbvio que não teria sucesso. Assustada, parei e me joguei no chão aos prantos, mas eles gritavam, questionando o motivo da minha fuga. Quase enlouqueci. Tive que erguer a cabeça até os meus olhos os encontrarem. Um era o meu noivo; o outro, o meu amado.
— Eu não posso me casar com você! — gritei, agarrada às flores que me deram. — Você sabe que eu amo o seu irmão.
— Não me importa de quem é o seu amor — disse o meu noivo, ao olhar para o irmão com ódio.
O silêncio reinou entre os dois. Seus olhares se perderam na raiva. Depois, sem pronunciar uma só palavra, o irmão do meu noivo, o rapaz que eu amava, virou-se com o seu cavalo e partiu. Sim, partiu, sem ao menos olhar para mim, sem pensar em viver o que sentíamos, sem sequer demonstrar solidariedade. Ele fugiu por medo, assim como eu. Então, o meu noivo sorriu, cinicamente. Neste momento, a nossa família nos cercou.
— Vá com ele, minha neta — vovó se aproximou e sussurrou ao meu ouvido. Seu olhar era piedoso, mas também aflito.
Meu noivo, com os olhos semicerrados, estendeu a sua mão para que eu subisse em seu cavalo. A última coisa que eu queria era subir naquele animal. Nada contra o bicho! Eu olhei para todos ao meu redor, amigos e parentes. Eles lançavam sentimentos negativos sobre mim, pena e indignação pelo meu comportamento. Então, percebi que, de fato, a única abandonada era eu. Não sei o motivo pelo qual ele se foi, sem olhar para trás. Talvez não fosse amor, e qual amor sobreviveria diante de tanta imposição? Eu lutaria por ele, mas, infelizmente, ele não lutou por mim. Sem saída e pressionada, tive que estender a mão para aquele homem, e por ele fui conduzida até a igreja na anca do seu cavalo, aos prantos e convicta de que o amor não é para todos.