Mobilidade

O paradoxo dos transportes públicos: quem paga a conta?

Por *Fernando Repinaldo

O transporte urbano é um tema do cotidiano dos brasileiros que moram nas cidades de grande e médio porte. Já se reconhece que os problemas de transporte urbano têm uma dimensão social que afeta a saúde e a qualidade de vida da nossa população, além das deseconomias geradas por congestionamentos e acidentes de trânsito. Isto já faz parte da história dos países desenvolvidos que, ao longo da última década, vêm tentando dominar a expansão do transporte individual com pesados investimentos na melhoria do transporte público.
No Espírito Santo, a última ação estruturante efetiva no sistema do transporte coletivo metropolitano foi o TRANSCOL, em 1989, triunfo na época, mas meio que colapsado na atualidade. De lá para cá, dezenas de milhões de reais foram gastos em “consultorias” e “projetos”, sem nunca terem sido levados a termo. Aliás, o que se efetivou com os faustos investimentos foi uma expectativa fugaz de solução e o exercício da esperança no porvir.

Foi assim em 2008, quando o primeiro e único plano diretor de transporte e mobilidade urbana elaborado por Vitória indicava a solução VLT, ou em 2010 quando os holofotes se acenderam sobre o BRT, entusiasticamente apresentado como a solução para o caos. Cabe-nos informar que VLT e BRT não são excludentes e se adequariam certamente como soluções eficazes para nossa mobilidade metropolitana, respeitando-se, obviamente, as nuances dos espaços geográficos. Em ambos os casos existem financiamentos e interesses públicos e privados, privilegiando, sempre que possível, os trilhos, por serem mais sustentáveis e não poluentes.

Transcol (Foto: Ascom Semobi)

O fato é que os mesmos atores políticos se revezaram por mandatos sucessivos e intercalados e, após quinze anos, nada temos de novo a respeito. Por economia, não comentaremos projetos sobre corredores exclusivos de ônibus, mas sabemos que, por enquanto, todos descansam em alguma prateleira. Similarmente, o aquaviário, após uma mudança drástica do seu escopo em licitação publicada em 2014, ressurge aos trancos e barrancos em 2022, através de um “registro de preços”, e nos embala em alguma esperança, embora já esteja no seu oitavo adiamento quanto ao início das atividades.

Atualmente nossos serviços de ônibus são pouco eficientes e caros, pois os subsídios estão explodindo e a qualidade é ruim, não à toa vêm perdendo passageiros em ordem crescente. Asseguramos que não existem milagres nessa conta e é a população que paga por tudo isso, seja na catraca ou através dos impostos.

Fica claro que existe uma politização que assombra essas questões, mas é urgente resolvê-las com ações eficazes que tenham início e fim bem definidos, formatadas de maneira mais sistemática e lógica. Precisamos investir em trilhos, pneus, barcos, corredores e faixas exclusivas, estruturando um sistema melhor. O sistema opera mal e é mal avaliado pelo usuário, basta fazer uma pesquisa séria. Perder passageiros significa um retrocesso.

Existem atrasos seletivos de execução de projetos e falta de vontade política em soluções adequadas. Enquanto isso, a população continua optando pelo carro porque Estado e municípios falham sucessivamente em oferecer transporte público adequado. Aí, cada um se vira como pode.

*Fernando Repinaldo
Especialista em Administração Pública, Gestão de Projetos e Engenharia de Tráfego

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