Vice-prefeita de Vitória fala da educação como ferramenta de transformação — Parte II

“Acredito muito no ensino público de qualidade, tanto que meu filho é aluno da rede pública municipal de ensino”

Na primeira parte da série de entrevistas com a Capitã Estéfane da Silva Franca Ferreira, veiculada na edição da semana passada, ela falou um pouco de sua trajetória de superação até chegar ao cargo de vice-prefeita da capital, Vitória. Nessa segunda parte, a mineira de fala mansa e de visão política horizontal, aborda uma de suas pautas preferidas, a Educação, que diz acreditar ser a principal ferramenta de transformação individual e social.
Se existe uma temática favorita para mim, certamente é a Educação, porque ela é uma ferramenta muito eficaz de transformação individual e social e, por causa disso, comunica com todas as outras pastas da administração pública. Para a Segurança Pública, por exemplo, uma educação de qualidade ao longo da primeira infância e juventude é uma ação de prevenção primária da criminalidade que traz impactos positivos de grandes proporções a médio e longo prazo, esse é um investimento que pode ajudar a interromper o famoso ciclo do “enxugar gelo” na Segurança Pública”, afirma.

A gestora pública ressalta que sua experiência pessoal contribui para a opinião, pois foi aluna de escola pública durante toda a educação básica e teve acesso ao ensino superior e à aprovação em concursos públicos graças ao seu desempenho escolar e a alguns incentivos, institucionalizados ou não, mas sempre oriundos da rede de ensino público, muitas vezes de iniciativas pessoais dos profissionais da Educação. “Um deles que vale ressaltar é a minha adesão como aluna do Projeto Universidade Para Todos (PUPT) em 2008, uma iniciativa do governo estadual em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que disponibilizou um ano de cursinho pré-vestibular gratuito para os alunos da rede pública estadual. Essa oportunidade contribuiu de forma robusta para a minha aprovação no Curso de Formação de Oficiais em 2012, cujo processo seletivo ainda era pela Ufes, no modelo do vestibular”, acrescentou Estéfane.



A partir de sua experiência e oportunidades como estudante de escola pública, surgiu a ideia de implementar o pré-Ifes para os alunos dos anos finais do ensino fundamental em Vitória, como um incentivo de preparação destes para a experiência do processo seletivo com as suas peculiaridades e determinações, além do treino intelectual direcionado por meio de exercícios e simulados. “Este item, até o momento, não foi implementado, mas acredito que ainda há tempo de tirar do papel e abrir essa janela de oportunidades que pode mudar muitas vidas e muitas famílias. Outra sugestão, que também está no Plano de Governo registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é o de implementar monitoria remunerada para as séries finais dos colégios de ensino fundamental para valorizar os estudantes que têm bom desempenho intelectual a auxiliar o professor na democratização do ensino e ajudar no nivelamento da turma. Um bom aluno, motivado, pode contribuir muito no aprendizado de outras crianças, podendo despertar o senso de liderança, de responsabilidade e de recompensa… Seria uma gratificação financeira para alunos de famílias carentes, uma bolsa de monitoria nos moldes que é feito no Ifes e na própria Ufes”, salienta.

Desde o início da gestão, a vice-prefeita participa ativamente dos debates e das iniciativas de implementação da Escola Cívico-Miliar (Ecim) no município, mas, infelizmente, não foi possível concretizar o programa em virtude da falta de efetivo militar federal para atuar.

É importante destacar que o imaginário popular, muitas vezes, tem uma visão da Ecim bem diferente do que é proposto. A ideia do programa é familiarizar os alunos com a cultura cívico-militar de forma lúdica e pedagógica, não havendo equiparação ao aquartelamento ou sistema de punições físicas ou psíquicas, muito menos desconformidade com a política nacional de educação e toda a sua previsão de conteúdo programático. Não seria também transformar todas as escolas em Ecims, mas ofertar a possibilidade para as famílias que desejarem, e têm muitas famílias que desejam, diga-se de passagem. Inclusive, recebemos até alguns abaixo-assinados protestando nesse sentido”, cita Estéfane.



A capitã vê sua experiência pessoal, não apenas por ser egressa da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), mas por ter comandado por dois anos a P5 do 1º Batalhão, como uma ferramenta agregadora, pois entre suas diversas atribuições no batalhão estava a coordenação de projetos sociais da unidade. “Um dos projetos que eu coordenava e ajudava a executar era o “Patrulha Mirim”, idealizado pelo subtenente Marcílio Suhett, que se assemelha muito com a proposta da Ecim, com a diferença de que era realizado no Projeto Caminhando Juntos (Cajun) de Nova Palestina e não na escola. Após o contato com a cultura cívico-militar, a comunidade local foi muito impactada positivamente e até hoje pede, com certa frequência, a volta das atividades do projeto. Por esta razão eu acredito que a Ecim surpreenderia positivamente muita gente que hoje se posiciona ideologicamente contra”, opina a capitã.

A vice-prefeita faz questão de frisar que, nestes dois anos e meio de mandato, sempre se fez presente nos Centros de Educação Municipais (CMEIs) e nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs), acompanhando as demandas, visitando as instalações, dialogando constantemente com os profissionais das instituições de ensino e com a secretária de Educação, Juliana Roshner.

Tenho buscado sempre somar forças e ajudar a trazer melhorias e boas ideias para este universo tão complexo e relevante que é o sistema público de ensino, no qual eu acredito que vale a pena investir porque tem retorno, tanto acredito que meu filho é aluno da rede pública municipal de ensino”, valoriza.
