Economia

A economia verde e as oportunidades abertas para o ES

Por Robson Guimarães do Valle

O termo “economia verde” por sua abrangência e uso no noticiário político e econômico, é corrente em praticamente todos os sites de notícias atuais. Vale a pena observar que este termo surgiu em 1987, no famoso Relatório Brundtland e popularizado na Conferência ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, e significa a necessidade de que todo o desenvolvimento deverá ser, necessariamente, sustentável ambientalmente. Cada vez mais incorporada às agendas governamentais, tem suas diversas vertentes continuamente incorporadas na sociedade, com destaque para as energias “limpas” ou de “baixo carbono”, cabendo cada vez mais espaço dentro deste segmento para o que se convencionou chamar de “hidrogênio verde”, na realidade uma fronteira tecnológica para a geração de energia dentro do conceito de “economia verde”.

No Brasil, em especial aqui no ES, várias lideranças empresariais e políticas se apropriaram do conceito, especificamente da importância do “hidrogênio verde”, mas enfim, o que é isso e qual sua relação com a economia capixaba?
O átomo de hidrogênio é o menor dos átomos existentes, e forma moléculas de gás hidrogênio, pela ligação covalente entre seus dois átomos. Este gás é incolor, mas com enorme potencial energético, quando entra em combustão. Um detalhe é que sua combustão tem o ganho adicional e valioso de não produzir gás carbônico, associado ao efeito estufa e por extensão, às mudanças climáticas deste século. O fato de sua queima produzir somente grande quantidade de energia e somente vapor d´água, dá a ele o rótulo de “verde”.

É a partir desse ponto que o ES passa a ganhar grande relevância, pelo fato de ser quinto maior produtor de gás natural do País, e possuir a perspectiva de grandes investimentos na produção de gás natural e petróleo até 2027 (mais detalhes em https://findes.com.br/setor-de-petroleo-e-gas-no-es-vai-receber-r-88-bi-ate-2027/). Uma possibilidade para o gás natural (formado majoritariamente por metano e etano) é sua conversão catalítica em gás hidrogênio, tendo o inconveniente de produzir também gás carbônico, o que tornaria este hidrogênio “cinza”.

Ainda assim um processo extremamente vantajoso por produzir uma matriz energética “mais limpa”, no balanço global do processo. Uma observação relevante é que este hidrogênio se tornaria “azul” se o gás carbônico fosse “capturado”, isto é, não fosse emitido para a atmosfera. Como existem inúmeras aplicações para este gás, é um processo também viável economicamente.

(Foto: iStock)

Sendo nosso Estado um grande produtor de gás natural, provavelmente somos candidatos naturais para futuros projetos deste tipo, ou ainda para a retomada de projetos que foram abandonados, como o “Polo Gás Químico de Linhares” ou UFN-IV, abandonado definitivamente em 2015. Esta planta industrial, sediada em Linhares, produziria gás hidrogênio “azul”, pois o CO₂ resultante seria destinado à produção de metanol (importante intermediário da indústria química e que não é produzido no País). Este polo teria como objetivo principal a produção de amônia — o primeiro passo para a produção de fertilizantes nitrogenados, produto fundamental para o agronegócio brasileiro, sendo o País grande importador desta matéria-prima.

O hidrogênio “verde” por sua vez pode surgir em projetos futuros ligados ao beneficiamento da salgema, uma riqueza mineral de nosso Estado, em Conceição da Barra e que somente em 2021 teve liberação de áreas para estudo prévio e comercialização, ainda que de forma embrionária.
A “eletrólise” deste mineral, rico em cloreto de sódio, produz solução aquosa de hidróxido de sódio e gás cloro, com extensa aplicação na indústria, como produtos para tratamento de água e diversos intermediários para a indústria química. Também se produz neste processo gás hidrogênio, que pode ser considerado “verde” se o processo de eletrólise utilizar fonte de energia eólica ou solar, ambos recursos extremamente viáveis na região de Conceição da Barra.

O hidrogênio “verde” que poderia ser produzido em Conceição da Barra, seria constituinte, em parte ou no todo, da matriz energética de uma ampla indústria constituída pelos produtos da eletrólise da salgema, o que ensejaria na criação de um “polo salquímico”, gerador de riqueza, renda e consequentemente, inúmeras possibilidade desenvolvimento social e econômico da região norte do Estado.
O futuro do ES passa definitivamente pelo hidrogênio.

Robson Guimarães do Valle
É engenheiro químico, vice-presidente da Associação Profissional dos Químicos do ES (Aproquimes) e presidente da Fundação Faceli, de Linhares.
Página pessoal: https://rvalle.com.br/eqes/

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish