Política

G20 e o realinhamento do sistema internacional

Por Erik Zannon

Agora presidido pelo Brasil, que oficialmente voltou ao mapa, o grupo polarizado precisa se adaptar à iminente multipolaridade. Nada melhor para isso do que a liderança de uma nação reconhecida pelas suas boas relações, capacidade de resolver conflitos e primazia na questão climática. Infelizmente, nem tudo são flores e o gigante dos trópicos terá inúmeros desafios para aproveitar uma oportunidade única.

Término da unipolaridade
Após o desfecho da Guerra Fria, o jogo do poder global ficou por 30 anos nas mãos dos Estados Unidos da América e de seus aliados, algo que o filósofo e economista Francis Fukuyama nomeou de “o fim da história”, porém, mesmo ele admite que errou em sua análise e o domínio ocidental está em transição. Sem ser para outra nação, nem para uma bipolaridade contra outro país, mas para o equilíbrio entre vários players, dividindo as responsabilidades em um mundo multipolar.

Posicionamento brasileiro
Não é de hoje que esta terra é relevante no cenário mundial. Depois da independência, Dom Pedro I foi convidado para libertar e se tornar rei da Grécia, além de sua empreitada bem-sucedida para derrubar seu irmão do trono português. Já seu filho era um homem respeitado em todos os continentes e governantes estrangeiros procuravam sua consultoria para diversos assuntos, a própria invenção do telefone se popularizou por Dom Pedro II ter insistido que os jurados da Exibição Internacional Centenária prestassem atenção na criação de seu amigo, Alexander Graham Bell. O imperador ainda decretou que fosse instalada uma linha telefônica no Brasil, um fato que virou notícia na Europa e nos EUA.

Com a República, vieram altos e baixos, ainda assim o apoio do Brasil foi disputado na primeira e na segunda guerras mundiais e também correu a ideia da nação ocupar uma parte da Áustria no pós-guerra, algo pouco documentado que acabou não se concretizando. No regime militar, os olhos internacionais se voltaram ao milagre econômico. Além do reconhecimento pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso era parte do trio dos liberais-democratas, que incluía o britânico Tony Blair e o americano Bill Clinton.

Já Lula apostou em uma personalidade de amigo de todos, uma pessoa divertida que era querida por onde passasse, plano esse que deu muito certo, muitos queriam saber quem era esse Luís Inácio e o que estava por trás dessa figura. Imagem que foi afetada pela crise de sua sucessora Dilma, pelos desdobramentos da Lava Jato, a prisão e por considerarem as ações de Michel Temer, mesmo que impopulares, essenciais para colocar o País de volta nos trilhos. O que deu mais uma chance do petista tentar voltar ao estrelato foi a sua soltura e a diplomacia desastrosa do governo Bolsonaro.

Na campanha para o terceiro mandato, o barbudo propôs viajar o mundo, se tornar um player e justificou assim a escolha de seu antigo inimigo Geraldo Alckmin, um gestor tecnicista e sem sal, para a vice-presidência. O problema é que o planeta não é o mesmo de duas décadas atrás e o chanceler Celso Amorim, outrora respeitadíssimo, parece estar preso naquela época.

Assuma seu bloco, verde-amarelo!
As polêmicas começaram a se amontoar, desde negar enviar recursos à Ucrânia até a dizer que não prenderá Putin na Cúpula do G20 no Rio de Janeiro em 2024, considerando inclusive a retirada do Brasil do Tribunal Penal Internacional. Ao ser pressionado por dois lados, diferente de antes, hoje há uma opção: buscar liderar seu próprio bloco, ou seja: América Latina e África, continentes cansados do imperialismo que abrem cada vez mais as portas para a China, o que pode causar uma nova dominação. A libertação só vem dos próprios oprimidos, e só o Brasil tem a expertise para liderar o antigo terceiro mundo, mas é preciso agir, e rápido, se tiver esse interesse, afinal só a tradição de neutralidade e amizade com todos os lados não são mais suficientes nessa nova ordem.

Erik Zannon
Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix

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