Economia

A importância do sal-gema para o desenvolvimento econômico do ES

Por Robson Valle

É salutar o fato de que a discussão sobre a questão das reservas de sal-gema, minério rico em cloreto de sódio, em Conceição da Barra, no norte do ES, tenha mudado de patamar. Antes restrita à Petrobras — que descobriu por acaso estas reservas em meados da década de 1970 — à comunidade de Químicos e Engenheiros Químicos atuantes no ES e a algumas lideranças empresariais, adquiriu maior visibilidade nos últimos anos, principalmente pela liberação por parte da Agência Nacional de Mineração (ANM) destas reservas para pesquisa e avaliação econômica, fruto de uma atuação política intensa de diversas lideranças parlamentares, com destaque para as ações desempenhadas pelos senhores Felipe Rigoni, Marcelo Santos, Eustáquio de Freitas e diversos outros.
Isto posto, se permitiria portanto o desenvolvimento da indústria química no norte do ES com base no beneficiamento deste mineral, uma extraordinária riqueza “proibida” para os capixabas. (Fonte: https://rvalle.com.br/eqes/salgema-capixaba-riqueza-proibida-para-o-espirito-santo-ate-quando/).

O depósito de sal-gema (halita) em Conceição da Barra é de cerca de 19 bilhões de toneladas e de alta pureza, o que corresponderia a quase 70% das reservas oficiais da sal-gema existente no País, sendo a única reserva do mineral conhecida na região Sudeste. Extremamente relevante é o fato de o Brasil ser dependente desta matéria-prima, em sua grande parte importada do Chile.
Sua localização é privilegiada por estar mais próxima dos estados mais industrializados, demandantes deste recurso para suprimento de indústrias químicas que utilizam como matéria-prima gás cloro e soda cáustica — substâncias valiosas obtidas do seu beneficiamento por meio de um processo de eletrólise em solução aquosa do cloreto de sódio oriundo do minério.

Mais importante ainda seria o próprio beneficiamento industrial da sal-gema no norte do ES, agregando valor com a formação de um vigoroso polo salquímico formado por diversas cadeias produtivas, permitindo geração de emprego, renda e mobilidade social. Um polo desta natureza seria constituído por diferentes indústrias. A básica (extração mineral), outra para o beneficiamento industrial por meio da eletrólise do cloreto de sódio para produzir gás hidrogênio, gás cloro e solução aquosa de hidróxido de sódio (“soda cáustica”) e de outras voltadas para tratamento de águas industriais e saneamento, baterias automotivas, vidros, agroquímicos, usos metalúrgicos, têxteis, plásticos (PVC), dentre tantas outras possibilidades.

Um destaque deve ser dado ao gás hidrogênio, produzido para uso como combustível. Se a fonte de energia utilizada na eletrólise for eólica ou solar, este hidrogênio será considerado verde, o que o torna um combustível excelente também do ponto de vista ambiental.

Um aspecto essencial que deve ser considerado na questão da extração da sal-gema, do subsolo, é seu aspecto ambiental. Isto se deve ao fato do desastre ambiental ocorrido em Maceió/AL, fartamente conhecido e divulgado pelos meios de comunicação e relacionado com fatores relacionados aos mecanismos de extração deste mineral do subsolo onde se encontrava. Tal desastre acarretou no encerramento definitivo dessa extração na região afetada, conforme a comunicação oficial da empresa responsável (Fonte: https://www.braskem.com.br/encerramento-definitivo-da-extracao-de-sal).

Atualmente existe um aparente consenso de que esta extração poderá ser feita com maior segurança ambiental, mesmo levando em conta que boa parte desta reserva se encontra em área de proteção permanente. Estes aspectos foram debatidos em um importante evento realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), em 2021, cujo conteúdo pode ser acessado em sua íntegra através de https://www.youtube.com/watch?v=OQm3bgTaN40.
Além disso, a amadurecida indústria de extração de óleo em terra (“onshore”), no norte do ES, poderá contribuir com conhecimento, tecnologia e mão de obra qualificada para estas atividades de extração mineral, por meio de técnicas de injeção de água potável na camada de sal do poço, revestidos com aço (Fonte: https://www.infomet.com.br/site/noticias-ler.php?bsc=ativar&cod=11687).

Recentemente (em 02/05/2023) uma discussão importante para os rumos da sal-gema capixaba foi tratada em Brasília quando a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados realizou audiência pública para tratar da exploração deste mineral (Fonte:https://www.camara.leg.br/noticias/956626-comissao-debate-exploracao-de-sal-gema-no-norte-do) e cujo conteúdo pode ser acessado em sua íntegra através de https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/67751.

Desta forma, através da união das lideranças políticas e empresariais do ES, com o suporte qualificado dos profissionais de Química atuantes no ES, é possível vislumbrar que a enorme riqueza mineral do norte do ES seja revertida para o desenvolvimento social e econômico não só do norte capixaba, mas de todo o ES.

Robson Valle
Engenheiro químico, vice-presidente da Associação Profissional dos Químicos do ES (Aproquimes)
Página pessoal: https://rvalle.com.br/eqes/

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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