Economia Política

Fundão e sua eterna política do atraso

“Entra governo e sai governo e Fundão continua desnutrido e apático”, Marcos José Amorim Gotardi, empresário

Marcos José Amorim Gotardi, conhecido também como Teté, conservador, empresário, casado e pai de dois filhos, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Fundão, recebeu o Fatos & Notícias para falar um pouco da sua trajetória empresarial e da atual conjuntura política do País e do município.
Formado em contabilidade e pós-graduado em gestão, Teté nasceu no Rio de Janeiro e na sua caminhada profissional foi auditor e consultor passando pelo comércio de exportação e importação. No final da década de 90, veio para o Espírito Santo e, hoje, além de manter um estabelecimento no centro da cidade — o Restaurante Pegoretti — há cincos anos concilia suas obrigações, que não são poucas, com a CDL, como presidente da instituição.
O empresário assumiu o desafio no biênio 2019/2020, num momento muito difícil, que foi o de pandemia. Ele explica que, no primeiro ano, conseguiu fazer o “Megaliquida”, evento que o comércio de Fundão sempre pediu e, apesar das dificuldades enfrentadas, foi um sucesso.

“Na época, fizemos uma pesquisa antes e depois do evento e, para nossa surpresa, foram negociados mais de R$ 148 mil em um dia e meio, apesar da chuva, que nos obrigou a colocar várias barracas sobre paletes”, explica.
Teté faz questão de ressaltar o trabalho desempenhado pela CDL no período da pandemia, das dificuldades enfrentadas pelo comércio, que foi obrigado a manter as portas fechadas.

A pandemia foi um período muito difícil porque não podíamos trabalhar, fomos obrigados a manter as portas fechadas e os boletos chegando pontualmente. Lembro que fomos duas vezes ao Palácio Anchieta pedir ao governador que permitisse aos comerciantes abrirem seus estabelecimentos para trabalhar. Tentamos mostrar que não havia perigo, já que outros segmentos, como o supermercadista, funcionavam normalmente e questionamos por que os restaurantes e outros segmentos não eram permitidos? Mas não adiantou. Um grande número de empresas faliu e muitas outras estão tentando se reerguer até hoje”, lamenta.

Na visão do empresário, Fundão é um município que tem dois problemas que afetam sobremaneira o setor do comércio. Um é fazer parte da Grande Vitória (GV) e outro é a proximidade com o município da Serra, cerca de trinta minutos. “As consequências são que, por estarmos na Grande Vitória, não fazemos parte da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), como o nosso vizinho, Aracruz. Isso é um entrave, pois acaba dificultando ao município atrair novas indústrias”.

Politicamente falando, esse é um ponto crítico, pois vem a necessidade de termos pessoas técnicas e com habilidades em gestão para buscar alternativas como isenções e incentivos fiscais para aumentar a arrecadação. Um exemplo disso é o governo Bolsonaro que, com o ministro Paulo Guedes, batia recordes no aumento da receita com redução dos encargos. Estou falando a grosso modo, mas precisaríamos, é claro, de um estudo apurado. Mas é possível, sim, encontrar soluções, basta vontade e competência”, frisa.

Para Teté, o modelo de gestão do município e do estado compartilham um molde de política empoeirado, enferrujado e ultrapassado que voltou com tudo no atual governo federal. Ou seja, as três esferas praticam um modelo político que tem uma máquina pública inchada, provedora e assistencialista, que sobrecarrega os setores que verdadeiramente produzem riqueza no País. “Quem gera riqueza é a iniciativa privada, governo gera despesa”, desabafa.

Fundão tem boa localização, é cortado por uma linha férrea e por uma das principais rodovias federais, a BR-101, temos que tirar proveito disso. Fomos agraciados com mais de 8km de praia, zona rural produtiva e serras, mas com uma infraestrutura deficiente em todas elas. Praia Grande precisa de uma avenida secundária, pois a existente não flui e está toda comprometida, com o asfalto irregular. Isso tudo prejudica o comércio e dificulta a vinda dos turistas”, explica.

Goiapaba-Açu – Monumento natural (Foto: Reprodução/Iema)

De acordo com Teté, até hoje o acesso ao Goiapaba-Açu não foi calçado. “Seria por falta de recurso? Claro que não. Optaram por rotas. Não podiam deixar as rotas e compra de terrenos para outros momentos? Li o seu artigo na semana passada questionando o que explica a inanição crônica política e econômica de Fundão, e o motivo é que gastam sem nenhum planejamento, fazem o que vem à cabeça e o município fica desnutrido por falta de ações efetivas. Praças com equipamentos enferrujados, bancos sem acentos. O rio, completamente poluído. A praça, que fica em frente à prefeitura, está toda deteriorada, perigosa para nossas crianças, suja com fezes de andarilhos e de animais, ou seja, completamente abandonada. Cadê a equipe de manutenção? A manutenção é mais barata que a reconstrução”, destaca.

Atualmente, além de presidir a CDL municipal, Teté faz parte da Federação da Câmara de Dirigentes Lojistas do Estado e ressalta que em Fundão a instituição tem atuado no fomento à geração de empregos, pois a CDL entende que a capacitação é a chave para diminuir essa lacuna no município, que sofre com a falta de mão de obra qualificada.

“Precisamos capacitar nossos jovens com cursos e criar oportunidades de trabalho. A CDL oferece cursos e a prefeitura também, mas eu me pergunto se não seria mais fácil criarmos uma parceria. Chama a gente, vamos caminhar juntos, a CDL está aqui para somar. Olha que interessante, tenho um funcionário que, infelizmente, estamos dispensando depois de quatro anos conosco. Ele vai receber cinco ou seis meses de seguro desemprego, certo? Pois bem, olha a incoerência, o cara que nunca trabalhou, recebe um benefício durante um ano, cinco anos ou a vida toda sem produzir, você acha que esse cidadão vai querer trabalhar? Não sou contra o apoio do estado, mas precisamos de mecanismos que incentive esse cidadão a buscar uma vida mais digna, recebendo seu salário depois de um mês trabalhado e gastá-lo como bem entender. Estamos com dificuldade de encontrar mão de obra por conta desse assistencialismo”, critica.

Na visão do presidente da CDL, vivemos num redemoinho, ou seja, a mesma água que vai, volta. “Trocamos seis por meia dúzia, depois meia dúzia por três mais três e assim sucessivamente. As coisas precisam de renovação e na gestão pública nem se fala. Entra governo e sai governo e Fundão continua desnutrido e apático. Sou a favor da renovação e acho que o momento é agora.
Quando se renova, quem assume certamente vai enxergar por outros ângulos e o novo acaba dando um passo a mais à frente. Isso é que chamo de democracia, tem que existir alternância de poder. Não alternância de poder pelo poder, mas alternância de ideias, de sugestões. As coisas boas que estão funcionando devem continuar, mas precisamos ver o que pode ser diferente para o município estar sempre avançando” argumenta.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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