O que se sabe sobre a antiga civilização de Tartesso?
Mesmo com os avanços da arqueologia, sua língua, seus rituais religiosos e seu fim abrupto são cercados de mistérios até hoje
Por Ingredi Brunato
Mencionada em diversos documentos históricos, mas cercada de perguntas sem resposta, Tartesso foi uma civilização que existiu na Península Ibérica entre os séculos 9 a.C. e 5 a.C. Foi formada por uma mistura entre nativos da região e colonizadores vindos da Grécia e da Fenícia. Outro detalhe importante é que, graças aos extensos recursos minerais do território, tratava-se de um povo de grande riqueza.
Até hoje, pesquisadores foram capazes de localizar por volta de 20 sítios arqueológicos habitados pelos tartessos. A escavação desses locais nos permitiu entender um pouco sobre a arquitetura tartessiana, seu sistema de escrita e tradições. Sinais de sacrifício em massa de animais e da queima de construções, por exemplo, apareceram em mais de um desses assentamentos, surpreendendo os arqueólogos. O maior mistério a respeito de Tartesso, no entanto, é seu fim: a civilização parece ter desaparecido de uma hora para outra há 2.500 anos.
Em 1978, foi realizada uma das mais importantes descobertas arqueológicas relacionadas a Tartesso: o sítio de Cancho Roano, situado na Espanha, que remonta ao século 6 a.C. Neste interessante assentamento, foram encontradas as evidências de três templos antigos construídos um após o outro, no mesmo lugar — eles foram erguidos, destruídos e substituídos pelo seguinte.
O último deles foi queimado no fim do século 5 a.C., sendo selado com argila e abandonado de vez. Antes de iniciar o incêndio, no entanto, os tartessos teriam realizado um grande banquete: os restos dos muitos animais devorados nesta refeição foram jogados em uma fossa no meio do templo antes das chamas serem iniciadas.
Felizmente, joias e artefatos tartessianos sobreviveram ao fogo e à passagem do tempo, e capazes de serem analisados pelos pesquisadores. Outros sítios arqueológicos que faziam parte de Tartesso descobertos posteriormente, aliás, também apresentavam vestígios desses sacrifícios de animais em massa, com os ossos sendo descartados no fosso de um santuário que era então incendiado e vedado com argila, conforme informações repercutidas pela BBC.
O mais surpreendente para mim é o hábito muito peculiar [dos tartessos] de destruir suas casas, ou seja, em todos os sítios encontrados foi seguido o mesmo procedimento: esvaziar todos os vasos e ânforas, queimar a construção e enterrá-la”, apontou ainda Ana Belén Gallardo Delgado, historiadora entrevistada pelo veículo a respeito da antiga civilização ibérica.
Vale destacar que Tartesso também possuía um sistema de escrita. Seus símbolos parecem ser derivados do alfabeto fenício, porém a ciência continua no processo de decifrá-los. Ainda de acordo com a BBC, existem algumas teorias para o fim da civilização tartessa. Eles podem ter caído devido a uma crise econômica, por exemplo, ou sido desestabilizados por um desastre natural. Para entender a primeira teoria, é necessário saber que o comércio de Tartesso era dependente dos metais que eram minerados na região.
Problemas na mineração, portanto, ou então nas negociações com as civilizações vizinhas que costumavam comprar esses metais, poderiam ter levado a consequências desastrosas. Celestino Perez, por sua vez, pesquisador a respeito do povo tartesso, acredita que o fim da antiga nação chegou na forma de um tsunami.
Atualmente, parece que pode ter havido um terremoto em meados do século 6 a.C., seguido por um tsunami que teria atingido os principais portos tartessianos. Esta teria sido a causa da rápida queda dos tartessos”, especulou o especialista.
Independentemente do motivo de seu desaparecimento, no entanto, o fato é que ainda falta muito para ser entendido a respeito de Tartesso e de seu impacto na Península Ibérica.
Fonte: Aventuras na História