Política

Sérgio Moro e a privacidade política

Ex-ministro da Justiça foi flagrado no plenário trocando mensagens comprovando que votou a favor da indicação de Flávio Dino para o STF

O ex-ministro da Justiça (União–PR) foi flagrado no plenário trocando mensagens com um homem denominado “Mestrão”, comprovando que votou a favor da indicação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal.

Desenrolar
No mesmo dia em que Dino foi aprovado para o STF e Gonet para a PGR pelo Senado, uma foto mostrou Moro trocando mensagens com Mestrão no WhatsApp. Na tela do celular, dava para ver que Magalhães orientava Moro a não votar em Dino — o resultado na CCJ, sigiloso e não final, indica a tendência do plenário. Na comissão, Dino recebeu 17 votos favoráveis e 10 contrários; no plenário, a votação foi de 47 a 31.
“Sergio, o coro está comendo aqui nas redes, mas fica frio que jaja(sic) passa, só não pode ter vídeo de você falando que votou a favor, se não isso vai ficar a vida inteira rodando”, diz Mestrão na mensagem recebida pelo senador. Ele completa: “Estou de plantão aqui, qualquer coisa só acionar”. O Senador responde: “Blz. Vou manter meu voto secreto, eh(sic) um instrumento de proteção contra retaliação”.

O indivíduo em questão é Rafael Travassos Magalhães, de 28 anos, porém é reconhecido pelo seu cognome, “Mestrão”, que é a denominação que Moro emprega para seu assessor no aplicativo WhatsApp. Anteriormente, trabalhou para o deputado estadual Ricardo Arruda (PL-PR), na Assembleia Legislativa do Paraná, onde recebeu o apelido. Naquele tempo, ele tinha o costume de tratar todos de “mestre”, e assim ficou conhecido, no aumentativo. A colunista do Globo Bela Megale relatou que, para os colegas, Rafael Magalhães é considerado “entrão” e “invasivo”, além de um “problema”, por ter sido mencionado em apuração do Paraná por suposta “rachadinha” quando esteve no gabinete de Arruda.

Antigos aliados, como membros do Movimento Brasil Livre, criticaram o parlamentar pelas mensagens e pela menção à aprovação de Dino, que se soma com a foto dos dois abraçados, e também pela defesa do voto sigiloso.
O raio caiu duas vezes no mesmo lugar e outra leva de mensagens do lavajatista foi vazada, dessa vez com seu suplente e advogado Luiz Felipe Cunha, que pergunta se Sérgio votaria contra a indicação do comunista, ao que ele responde com uma chamada que durou cinco minutos. Após isso, Cunha relatou que Deltan estaria desesperado e o Senador pede conselhos sobre discursar algo. “Amigo, pela estratégia relatada, aparentemente, não há o que ser dito. Eu disse ao Deltan que vc sabe o que faz e que estarei ao seu lado sempre, por lealdade e por saber que você é um cara correto”.

Limites
A estratégia de divulgação de conversas privadas obtidas por meios obscuros foi usada na ascensão da Lava Jato e também em sua queda, através do fenômeno #VazaJato. Ambas situações serviram para manipular a opinião pública. Se nos dois relatos o artifício foi utilizado para apontar condutas criminais, agora tenta provar um estelionato eleitoral.

Liberais afirmam com convicção que políticos e funcionários públicos não deveriam ter nenhum direito à privacidade, mas devemos ter a audácia de indagar se esse pensamento não quebra os fundamentos iluministas que regem as democracias parlamentares, afinal são acima de tudo seres humanos.

De qualquer modo, o que está exposto não tem mais volta e Sérgio Moro foi vítima de uma cultura que ele mesmo incentivou. Além de queimado com apoiadores, está em vias de perder o mandato e se tornar inelegível por pedido do Ministério Público do Paraná, com defesa popular bem reduzida comparada aquando era juiz e com a Lava Jato cada vez mais portada como farsesca devido à sua inabilidade na arte política.

Erik Zannon

Erik Zannon

Erik Zannon Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix

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