Educação

Quase um milhão e meio em idade escolar fora da escola

Estratégia de busca ativa escolar do Unicef e parceiros atua de maneira intersetorial

Por Alex Bessas

Segundo o Censo Escolar de 2022, 1,4 milhão de crianças e jovens entre quatro e 17 anos não estão matriculados em nenhuma instituição de ensino. Chefe do escritório do Unicef de São Paulo, Adriana Alvarenga reconhece que há uma forte relação entre a evasão escolar e a pobreza, afetando principalmente os alunos do ensino médio. Ela lembra que muitas crianças e adolescentes deixam a escola porque precisam trabalhar para ajudar no sustento da família ou cuidar de parentes, geralmente irmãos mais novos que não são assistidos em creches. Além da questão econômica, Adriana cita também a pedagógica, que diz respeito a fatores que influenciam a aprendizagem, como a qualidade da educação e o interesse dos alunos, que foram prejudicados pela pandemia, quando escolas ficaram fechadas e não foram oferecidas alternativas adequadas para o ensino on-line.

Na mesma linha, o professor Romualdo Portela de Oliveira, diretor de pesquisa e avaliação do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), ONG que desenvolve estudos e projetos com foco na equidade e qualidade na educação pública, também sustenta que estas são as duas razões fundamentais pelas quais crianças e adolescentes deixam as escolas.

No caso das crianças em situação de vulnerabilidade, uma forma de lidar com essa questão seria a implementação de políticas de renda cidadã”, indica.

Já a segunda razão, diz, tem a ver com a ação da escola que acaba excluindo determinadas crianças e adolescentes do ambiente escolar, sendo a reprovação a mais óbvia forma de isso acontecer. “Trata-se de uma medida que afeta a autoestima e a adaptação social dos estudantes, levando ao abandono escolar”, explica, acrescentando que o preconceito em relação à orientação sexual e ao racismo também favorecem a infrequência e a dificuldade de aprendizagem, que levam à reprovação e, posteriormente, à evasão e abandono escolar.

Pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) a pedido do Unicef, também de 2022, revelou que dois milhões de crianças e adolescentes de 11 a 19 anos não estão frequentando a escola no Brasil — o que representa 11% do total da amostra pesquisada. Esses números evidenciam que o Brasil está longe de cumprir a meta de universalizar a educação básica, um direito fundamental e um investimento estratégico para o desenvolvimento das pessoas e da nação.

Este último levantamento indica algo que a mãe-guardiã Tamires Gonçalves percebe no dia a dia: há um forte viés socioeconômico por trás das estatísticas de exclusão escolar. A pesquisa apontou que 48% dos respondentes deixaram de estudar para trabalhar fora e, 30%, por terem dificuldades de aprendizagem. Já 29% disseram ter desistido dos estudos porque, à época, a escola não havia retomado as atividades presenciais em decorrência da pandemia, 28% informaram que tinham de cuidar de familiares. Falta de transporte afetava 18%, a gravidez, 14%, e desafios por ter alguma deficiência excluíam 9%, enquanto 6% se afastaram devido ao racismo.

Fonte: Revista Educação

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