Posse conturbada na Guatemala
Os problemas para Bernardo Arévalo assumir o cargo para o qual foi eleito, se juntam aos muitos sintomas que a paz pós-Guerra Fria é coisa do passado
Tentativas de golpe
Desde as eleições, o Brasil e os Estados Unidos da América já haviam sido alertados da possibilidade de uma guinada antidemocrática na política do país da América Central, o tema inclusive fez parte do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde aproveitou para recordar sobre as recentes rupturas institucionais em Burkina Faso, Gabão, Guiné, Mali, Níger e Sudão.
Na mesma época, os procuradores Rafael Curruchiche e Leonor Morales pediram três vezes a anulação do processo eleitoral às cortes. A Procuradora-Geral, Consuelo Porras, que enfrenta meses de protestos pedindo sua renúncia, e o Ministério Público consideraram a votação nula, afirmando que o resultado das atas não condizem com o resultado do Supremo Tribunal Eleitoral. Já o TSE afirmou que os resultados são válidos, certificados, formalizados e imutáveis. A presidente do órgão, Blanca Alfaro, disse aos canais de mídia que os políticos eleitos devem tomar posse no dia 14 de janeiro e qualquer ato contrário será uma violação da ordem democrática. A OEA demandou que o presidente em exercício Alejandro Giammattei, os tribunais e o congresso defendam a constituição e punam os responsáveis pelos ataques que visam desmoralizar as instituições democráticas da Guatemala.
Tudo ou nada
No último domingo (14), o Congresso atrasou a posse dos novos deputados, o que transformou a festa popular da posse em uma grande manifestação. O áudio da primeira sessão da nova legislatura foi cortado. Levou sete horas de delongamento até que Samuel Pérez fosse eleito presidente da casa, responsável por empossar a chapa presidencial. A posse começou exatamente no minuto final do prazo constitucional, às 23:59.
Mesmo nações desenvolvidas enfrentam problemas com o processo democrático, impensáveis há duas décadas. A globalização e a política de redes sociais aceleraram o desgaste do sistema liberal iluminista, que se agravou com as contradições e crises econômicas.
A China passou a liderar o mundo com seu próprio sistema de governo e os americanos assistem ao declínio do país, que outrora se considerava Senhor do planeta. O fim da era das luzes se aproxima e as definições de certo e errado se encontram cada vez mais nebulosas. Esperança para uns e terror para outros, as consequências para os valores sociais, culturais e financeiros desses movimentos ainda são incertas, restando apenas teorizar na medida em que o panorama geral se revela.